sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

2013 - ÍNDICE GERAL - PARTE 2:

MAIO:
46. MÉDIUM E/OU PROFETA ( I )
47. MÉDIUM E/OU PROFETA (II)
48. MÉDIUM E/OU PROFETA (III)
49. SESSÃO MEDIÚNICA EXPLÍCITA NA BÍBLIA
50. DOZE EXEMPLOS BÍBLICOS DE APARIÇÕES DE ESPÍRITOS
51. A INCOMUNICABILIDADE DOS BONS ESPÍRITOS
52. EXERCÍCIO CRISTÃO DA MEDIUNIDADE

JUNHO:
53. NOSSA CASA DIVIDIDA
54. UMA CONFUSÃO QUE AINDA PERSISTE

JULHO:
55. MÉDIUNS E MÉDIUNS ESPÍRITAS
56. RESPONSABILIDADES DO PALESTRANTE ESPÍRITA
57. VANTAGEM DE SER ESPÍRITA NO ALÉM-TÚMULO
58. OBSESSÕES COLETIVAS
59. HOMOSSEXUALIDADE E SEXOLATRIA
60. ESQUECIMENTO DAS VIDAS PASSADAS

AGOSTO:
61. TRABALHADORES E FREQUENTADORES DA CASA ESPÍRITA
62. SÓ POR EDUCAÇÃO
63. EMBATES POLÍTICOS NA CASA ESPÍRITA
64. SOBRE A PSICOMETRIA
65. QUESTÃO DE CREDIBILIDADE
66. O DISCÍPULO DE PESTALOZZI
67. A TRAJETÓRIA DE UM EDUCADOR
68. DÚVIDAS E HESITAÇÕES DE KARDEC
69. PRIMEIROS ESTUDOS E PRIMEIROS RESULTADOS
70. O PRIMEIRO LIVRO E O PSEUDÔNIMO DE ALLAN KARDEC

SETEMBRO:
71. ANJOS, DEMÔNIOS E ESPÍRITOS

OUTUBRO:
72. CARTA DE KARDEC AOS LIONESES
73. A TENTAÇÃO DE JESUS
74. AMIZADE X CASAMENTO: SINAL DE PERIGO
75. POR QUE OS ESPÍRITAS SÃO CONTRA O ABORTO?
76. UM JEITO DIFERENTE DE VER O CRIADOR
77. ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL EQUIVOCADA (???)

NOVEMBRO:
78. A SALVAÇÃO POR MEIO DE JESUS-CRISTO
79. CREIAM TODOS: EU - O DIABO - NÃO EXISTO (!!!)
80. ESPIRITISMO X APOMETRIA
81. A GÊNESE: OS SEIS DIAS DA CRIAÇÃO
82. A GÊNESE: A CRIAÇÃO DO SOL
83. A GÊNESE: O HOMEM, A MULHER E O PARAÍSO PERDIDO

DEZEMBRO:
84. A GÊNESE: O PECADO ORIGINAL
85. A GÊNESE: OS ANJOS DECAÍDOS
86. A GÊNESE: O CASTIGO PERPÉTUO
87. A GÊNESE: UM IMPASSE TEOLÓGICO
88. O VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO
89. UMA GRANDE SURPRESA
90. MISTÉRIO E OCULTISMO

NOTA: A TODOS QUE SE INTERESSARAM POR ESTES TEMAS E TIRARAM ALGUNS MINUTOS PRECIOSOS DO SEU TEMPO PARA LER ALGUNS DESTES TEXTOS, O MEU AGRADECIMENTO MUITO ESPECIAL, DESEJANDO-LHES UM ANO DE 2014 LINDO E MARAVILHOSO, COM MUITA PAZ E MUITA LUZ. ESPERO CONTINUAR CONTANDO COM O SEU PRESTÍGIO A ESTE TRABALHO, QUE É BEM SIMPLES, MAS REALIZADO COM  MUITO AMOR. ///

(Feliz Ano Novo)

Evoti Leal



2013 - ÍNDICE GERAL - PARTE 1:

NOTA: NESTA PRIMEIRA PARTE DO ÍNDICE GERAL DESTE BLOG ESTÃO ENUMERADOS OS TÍTULOS DOS 45 TEXTOS PUBLICADOS ENTRE JANEIRO E ABRIL DE 2013.

JANEIRO:
01. OBJETIVO E TÍTULO DESTE BLOG
02. UMA RELIGIÃO SEM IGREJAS
03. SOBRE CURAS ESPÍRITAS
04. MEDIUNIDADE: PROMESSAS E COBRANÇAS
05. DAS RECEITAS FINANCEIRAS
06. VISÃO ESPÍRITA DA BÍBLIA
07. SOBRE SATANÁS E OS DEMÔNIOS
08. SESSÃO DE DESOBSESSÃO
09. TEMAS DAS PALESTRAS PÚBLICAS
10. DOUTRINA DE LIVRES PENSADORES
11. PRETENSA SUPERIORIDADE EVOLUTIVA

FEVEREIRO:
12. SOBRE A DIVINDADE DE JESUS
13. A TRINDADE E O ESPÍRITO SANTO
14. REFLEXÕES SOBRE MORTES COLETIVAS
15. COMERCIALIZAÇÃO DA FÉ
16. DESFAZENDO ALGUNS EQUÍVOCOS
17. AFEIÇÕES E ANTIPATIAS GRATUITAS
18. O EVANGELHO DE ALLAN KARDEC
19. PERIGOS DA MEDIUNIDADE NÃO EDUCADA
20. SITUAÇÃO DO ESPÍRITO ANTE A DOAÇÃO DE ÓRGÃOS
21. DESARMONIA NOS CENTROS ESPÍRITAS

MARÇO:
22. CHARLATANISMO, MISTIFICAÇÃO E MISTICISMO
23. AME: UMA SIGLA EM DEFESA DA VIDA
24. IMPORTÂNCIA DOS ROMANCES ESPÍRITAS
25. O ESPÍRITA NO TRÂNSITO
26. O ESPIRITISMO, A MULHER E A BÍBLIA
27. PECADO E JUSTIÇA (Parte I)
28. PECADO E JUSTIÇA (Parte II)
29. CENTROS DE PERDIÇÃO E VALORES MORAIS
30. APOMETRIA NOS CENTROS ESPÍRITAS
31. BASTIDORES DO ESPIRITISMO: O LIVRO
32. QUANDO ALGUÉM PERGUNTAR

ABRIL:
33. ACEITAR JESUS
34. LÓGICA ESTRANHA
35. CENTRO FORTE
36. PSICOMETRIA E JESUS
37. MAU OLHADO
38. SEM MEDO DE SOCORRER
39. MORTE PREMATURA
40. TESTEMUNHAS CONTRA O ESPIRITISMO
41. INFÂNCIA E JUVENTUDE ESPÍRITAS
42. O DEUS VERDADEIRO
43. QUEM SOU EU
44. SER OU NÃO SER RELIGIÃO
45. A IDADE DOS PORQUÊS

(CONTINUA)

sábado, 7 de dezembro de 2013

90. MISTÉRIO E OCULTISMO

       P. Sabendo-se que na maioria dos centros espíritas realiza-se, com certa frequência e assiduidade, um determinado tipo de trabalho que envolve a comunicação com os Espíritos, e que o mesmo ocorre a portas fechadas, não estará nisso um indício de que de fato os espíritas mexem com o ocultismo e os mistérios da sobrenaturalidade, como se apregoa por aí?

       R. Desobsessão é o nome dado a um trabalho especial realizado no Centro Espírita, visando libertar as pessoas que sofrem assédios permanentes ou eventuais por parte de entidades espirituais perturbadas, e que lhes causam distúrbios emocionais e problemas da mais diversa ordem.
       Há, nos contextos dessa situação, diversos tipos de influenciação, que vão desde a atuação direta de um Espírito vingador, possessivo, que está determinado a destruir a paz e, mesmo, a vida de sua vítima (geralmente seu antigo algoz), até a ação inconsciente de um Espírito sofredor, não raro ligado por laços de família ou afinidades sentimentais, sobre o encarnado que lhe capta as impressões infelizes. Nesse caso, muito comum, por sinal, o "obsessor" não tem a intenção de prejudicar o "obsedado". Antes, dele se  aproxima buscando ajuda, acreditando encontrar nele um ponto de apoio ou de referência, uma espécie de ancoradouro, dado o seu estado de perturbação e ignorância diante da nova situação em que se acha imerso, nada conseguindo entender do que se passa consigo mesmo.
     O trabalho de desobsessão tem por finalidade, atraindo esses Espíritos obsessores ou pseudo-obsessores (neste caso, sofredores) para as reuniões mediúnicas específicas, travar com eles um diálogo esclarecedor e evangelizador, na tentativa de demovê-los da ação, voluntária ou inconsciente, encaminhando-os para tratamento no Plano Espiritual, com vistas à sua própria libertação, seja de um passado de mágoas, ressentimentos, revolta e desejos de vingança, ou da própria perturbação e sofrimento em que estão geralmente mergulhados.
        Esse tipo de trabalho é realizado por pessoas devidamente capacitadas, que passaram pelas várias etapas do Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita, incluindo o treinamento prático da mediunidade, sendo vedado o acesso ao mesmo de pessoas despreparadas, mesmo aquelas que já mantêm contato com o Espiritismo de longa data. Não há nisto nenhum mistério ou ocultismo; trata-se apenas da necessidade real de uma preparação e conformação com os critérios próprios da atividade, através de um estudo sério e bem direcionado, para que ninguém venha a fazer dessas reuniões um evento voltado à fomentação da curiosidade natural que caracteriza o ser humano.
     Para aqueles que alegam ser essas reuniões fechadas uma prova cabal de que os espíritas lidam sim com o sobrenatural e a magia das comunicações com os mortos, farei uma comparação: Acaso, estando um familiar ou amigo seu sendo submetido a uma cirurgia delicada em um Hospital, sendo você um leigo em medicina, ou, ainda que detenha algum conhecimento na área cirúrgica, mas sendo um estranho para a equipe médica designada para esse procedimento, teria você permissão para entrar na sala de operação, sem antes submeter-se ao cumprimento dos requisitos indispensáveis, de acordo com as determinações da diretoria do Estabelecimento hospitalar?  Sem dúvida, não a teria; e isto não significaria que a equipe médica e o próprio Hospital estivessem fazendo algo ilícito e inconfessável, não é mesmo?
       Pois o trabalho de desobsessão  é comparável a uma cirurgia delicadíssima, que só a uma equipe de médiuns e doutrinadores muito seguros e devidamente qualificados é confiada, sendo vedados o ingresso e a permanência no recinto sagrado a quem quer que seja estranho à atividade e ao grupo, salvo mediante prévia recomendação por parte da direção administrativa e espiritual da Casa, e sob uma justificativa plausível.
       Pronto! Acaba-se aqui o mistério e o ocultismo, imaginados por leigos e, não raramente, proclamados por pessoas de má fé. Que sejam todos bem-vindos ao Centro Espírita, sabendo, no entanto, que nada irão encontrar, ver ou ouvir nele que realmente esteja fora do normal. ///
     


sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

89. UMA GRANDE SURPRESA

       P. Que tipo de surpresa poderá ter alguém que entre por primeira vez em um Centro Espírita, sendo essa pessoa totalmente leiga em Espiritismo?

       R. Sempre que alguém vai pela primeira vez em algum lugar, cria uma expectativa sobre o  que   poderá encontrar, ver ou ouvir nesse lugar.
       Se a pessoa está entrando pela primeira vez em um Centro Espírita, sem ter recebido nenhum esclarecimento prévio sobre como funciona, certamente há de ficar imaginando e se perguntando o que de coisas diferentes e misteriosas poderá ver, descobrir, presenciar nesse ambiente para ele estranho, de que se falam tantas coisas tão desencontradas, por vezes tão pesadas, tão terríveis, ou, no mínimo, tão fora da normalidade relativa às instituições e aos templos religiosos em geral.
       Então, ao adentrar o recinto, muito provavelmente acompanhada por alguém que já conhece e frequenta a Casa, já de chegada se surpreenderá um pouco, pois encontrará, salvo em raras ocasiões ou exceções à regra, alguém postado próximo à porta de acesso a desejar-lhe as boas vindas, sem alarde, oferecendo-lhe um panfleto com uma mensagem de fé, de conforto ou de esclarecimento doutrinário. Em seguida, será convidado a passar para o salão (auditório), onde o público vai-se acomodando nas cadeiras ou poltronas, para logo mais ouvir uma exposição doutrinária, que se iniciará pontualmente no horário programado. 
       O visitante espera o momento em que poderá ver algo mais interessante do que pessoas espalhadas pelos assentos da sala ampla, a maioria guardando respeitoso silêncio, umas lendo a mensagem do panfleto recebido, outras em atitude de introspecção, meditação, oração, ou coisa do gênero.
       Terminada a palestra, geralmente com a duração de trinta minutos (em algumas Casas, um pouco menos),  dá-se por concluída, com uma prece feita de maneira simples e objetiva, a primeira parte da reunião, sem nenhuma novidade digna de nota. Aliás, para o visitante, a novidade talvez fique por conta do tema abordado na palestra; um tema evangélico, rico em exortações inegavelmente cristãs, de ordem moral e ética, com ênfases à prática do bem, do amor, da caridade, o que um leigo não esperaria jamais de um grupo supostamente desviado da "Palavra de Deus".
       É chegada então a hora do passe. Quem sabe agora sim dê para registrar alguma coisa de mágico, de místico, de sobrenatural, ou, no mínimo, de inusitado.
       Os acordes de uma música suave (clássica) preenchem agora o ambiente, quebrando harmonicamente o silêncio reinante entre os circunstantes. Estes começam a ser encaminhados, em pequenos grupos, para uma sala contígua, de menores proporções, fechando-se a porta à entrada da última pessoa de cada grupo. A expectativa do leigo cresce, enquanto fantasia em sua mente as cenas mais absurdas que prevê irá assistir quando estiver do outro lado da parede.
       Finalmente, chegada a vez do visitante adentrar a saleta misteriosa, parcamente iluminada, eis que ele depara, um pouco desapontado, apenas com um grupo de trabalhadores da Casa em pé, de frente para um carreiro de bancos ou cadeiras, situados a uma média distância, onde as pessoas vão tomando assento e se colocando em atitude receptiva, numa espécie de recolhimento espiritual. Fechada novamente a porta, inicia-se a aplicação do passe, que nada mais é do que uma imposição de mãos, o que é feito em total silêncio, ou ao som da mesma música que há pouco era ouvida no salão, por meio de pequenas caixas afixadas em pontos estratégicos por todas as dependências físicas do Centro.
       Esta operação, também chamada fluidoterapia, não dura mais do que um minuto. E o grupo que acaba de ser atendido retira-se, para a entrada do próximo grupo.
       Para o visitante curioso, a grande surpresa está no fato de nada acontecer de maravilhoso, de mágico, de extraordinário, de sobrenatural, como esperava. Nenhuma manifestação de Espírito. Nenhuma voz do Além. Nenhum fenômeno estranho.
       Aí, o leitor há de perguntar-me: Mas, então, como e quando os Espíritos se manifestam no Centro Espírita, uma vez que o Espiritismo tem por um de seus pilares de sustentação justamente a comunicabilidade daqueles com os homens pelas vias da mediunidade? É o assunto que irei tratar já no próximo texto a ser aqui publicado. ///

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

88. O VERDADEIRO CARÁTER DO ESPIRITISMO

       
       P. Como se poderia definir o verdadeiro caráter do Espiritismo, sabendo-se que se trata de um movimento doutrinário que teve sua origem no Plano Invisível, cabendo aos homens que o receberam apenas o compromisso de divulgá-lo, além, é claro, de exercê-lo?

    R. A maioria dos espíritas certamente já deve ter lido o Prefácio de "O Evangelho Segundo o Espiritismo", que é composto por apenas quatro parágrafos, numa mensagem transmitida por via mediúnica, assinada pelo "Espírito de Verdade", ou seja, por um representante do Movimento Espírita Invisível, que é formado por uma plêiade de Espíritos Mensageiros de Jesus, com vistas à implantação definitiva da Filosofia Espírita-Cristã na Terra.
       O que me proponho aqui é apenas transcrever esses quatro parágrafos, tecendo um breve comentário pessoal sobre cada um deles. Tomo a liberdade de antepor-lhes um número de ordem, para que o leitor possa melhor identificar os comentários correspondentes.

       1. "Os Espíritos do Senhor, que são as virtudes dos Céus, qual imenso exército que se movimenta ao receber as ordens do seu comando, espalham-se por toda a superfície da Terra e, semelhantes a estrelas cadentes, vêm iluminar os caminhos e abrir os olhos aos cegos.
       2. Eu vos digo, em verdade, que são chegados os tempos em que todas as coisas hão de ser restabelecidas no seu verdadeiro sentido, para dissipar as trevas, confundir os orgulhosos e glorificar os justos.
       3. As grandes vozes do Céu ressoam como sons de trombetas, e os cânticos dos anjos se lhes associam. Nós vos convidamos, a vós homens, para o divino concerto. Tomai da lira, fazei uníssonas vossas vozes, e que, num hino sagrado, elas se estendam e repercutam de um extremo a outro do Universo.
       4. Homens, irmãos a quem amamos, aqui estamos junto de vós. Amai-vos, também, uns aos outros e dizei do fundo do coração, fazendo as vontades do Pai, que está no Céu: 'Senhor! Senhor!'... e podereis entrar no reino dos Céus".

       Meus comentários:
       1. É como se realmente um verdadeiros exército, vindo de um outro mundo, estivesse a invadir o nosso mundo, não em uma missão de guerra, mas de paz; não para dominar-nos pela força, mas para esclarecer-nos pela razão; não para fazer-nos reféns de armas mortíferas, mas para libertar-nos de nossas próprias algemas, que são, juntos, o nosso egoísmo e a nossa ignorância.
       O comandante desse Exército outro não é senão Jesus.
       2. Aponta-se a Palavra de Deus como a bússola da salvação para as almas humanas. Com efeito, ela assim o é. No entanto, bastam alguns raciocínios lógicos e uma análise um pouco mais profunda, para se flagrarem certos descompassos nas Escrituras sagradas, que identificam interferências humanas nas mensagens divinas, adulterando-lhes os significados originais. Já não é mais possível negar-se a existência de alguns arranjos feitos pelos seus tradutores, para se adequarem alguns conceitos expostos pelos escritores bíblicos aos interesses ideológicos e imediatistas das primeiras Igrejas oficiais, que se adonaram indebitamente da pura Doutrina do Cristo.
       À medida que a luz do entendimento desfaz a escuridão em que o pensamento do homem mergulhou ante as interpretações falseadas que lhe deram de diversos itens da Bíblia, e que a verdade desvenda tudo o que era dado como mistério indevassável, o orgulho de muitos é confundido e a verdadeira justiça contida nos seus ensinamentos se exterioriza sem as máscaras impostas pelas conveniências religiosas.
       3. O ensino dos Espíritos é forte e convincente, porque apela para a razão e para o bom senso, sem o que não deseja ser aceito. Quem tem ouvidos para ouvir, não tem como não despertar ao som estridente e insistente das vozes que vêm dos Céus. E, tendo ouvido a mensagem, cada qual de nós é convidado a levá-la além, para que outros despertem e venham recebê-la diretamente de sua fonte, para melhor senti-la, como água viva que dessedenta a alma em sua longa jornada de evolução em evolução.
       4. Jesus prometeu enviar-nos outro Consolador, o qual ficaria junto de nós, conduzindo-nos a toda a verdade, fazendo-nos recordar das suas sublimes lições de amor, únicas capazes de nos levar à aprovação do atual para o próximo nível do nosso desenvolvimento espiritual. E esse Consolador aí está, consignado nestas vozes que ora nos guiam e nos esclarecem.
       Este é, pois, o verdadeiro caráter da Doutrina e da Ação dos Espíritos, assim como o é da obra acima citada: O Evangelho Segundo o Espiritismo. Uma luz que se acendeu e não se apagará jamais. ///

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

87. A GÊNESE: UM IMPASSE TEOLÓGICO

       P. Seria o planeta Terra habitado por alguma outra raça humana antes da criação de Adão, primeiro personagem bíblico e, segundo Moisés, a raiz única de toda a Humanidade terrestre? Onde a orientação espírita diverge da Teologia cristã nesse aspecto e que argumentos nos apresenta o Espiritismo em defesa de sua tese da múltipla originalidade dos habitantes do nosso Planeta?

       R. Finalizando este estudo sobre as origens da Humanidade terrena, tendo por base a Gênese de Moisés e as considerações contidas no capítulo XII da Gênese de Allan Kardec, eis a que conclusão chegaremos , se a nossa própria razão assim no-lo permitir:
       {"O que é um impasse para os teólogos, o Espiritismo o explica sem dificuldade e de maneira racional, pela anterioridade da alma à composição do corpo e a pluralidade das existências no plano físico, lei sem a qual tudo é mistério e anomalia na existencialidade do homem. Com efeito, admitamos que Adão e Eva já tinham vivido e tudo se torna justificado: Deus não lhes fala como a crianças, mas como a seres em estágio de compreensão mais avançada e que O compreendem, prova evidente de que têm um conhecimento anterior. Admitamos que viveram num mundo mais adiantado e menos material que o nosso, onde o trabalho do espírito superava o trabalho do corpo; que pela sua rebelião à lei divina (lá plenamente já estabelecida) figurada pela desobediência, hajam sido excluídos e exilados, a título de punição, sobre a Terra, onde, em consequência da natureza do globo, o homem está sujeito a um trabalho corporal (ainda mais tendo que forjar seus próprios instrumentos de uso, no princípio muitos rudimentares), Deus tinha razão de dizer-lhes: - No mundo onde ides viver doravante, 'cultivareis a terra e dela tirareis o vosso alimento, com o suor do vosso rosto'; e à mulher: 'Parireis com dor', porque tal é a condição desse mundo.
       O paraíso terrestre, cujos traços inutilmente se tem procurado sobre a Terra, era, pois, a figura do mundo feliz onde vivera Adão, ou, antes, a raça dos Espíritos dos quais é ele a personificação. A expulsão do paraíso marca o momento em que esses Espíritos vieram se encarnar entre os habitantes deste mundo, e a mudança de situação consequente disto. A figura do anjo armado de uma espada flamejante, que proíbe a entrada no paraíso, simboliza a impossibilidade em que estão os Espíritos dos mundos inferiores (ou que neles estão temporariamente exilados) de penetrar nos mundos superiores, antes de tê-lo merecido por sua depuração moral (item 23).
        Depois da morte de Abel, 'Caim respondeu ao Senhor: Minha iniquidade é muito grande para poder obter o perdão. - Vós me expulsais hoje de cima da terra, e eu irei me esconder de diante da vossa face. Eu serei fugitivo e vagabundo sobre a Terra; portanto, quem quer que me encontre, me matará. - O Senhor lhe respondeu: Não, assim não será; porque quem matar Caim será punido severamente por isso. E o Senhor pôs um sinal sobre Caim, a fim de que aqueles que o encontrassem não o matassem. - Tendo Caim se retirado de diante da face do Senhor, foi vagabundo sobre a Terra, e habitou a região que fica ao oriente do Éden. - E tendo conhecido sua mulher, ela concebeu e pariu Henoch. Ele edificou uma cidade (vaiehi bôné; lit.: estava edificando), a que chamou Henoch (Enochia) do nome de seu filho' (Gênese 4: 13 - 16).
       Se se prender à letra da Gênese, eis a que consequências se chega: Adão e Eva estavam sozinhos no mundo depois de sua expulsão do paraíso; não foi senão posteriormente à sua saída do Éden que tiveram por filhos Caim e Abel. Ora, tendo Caim matado seu irmão Abel e tendo se retirado para uma outra região, não reviu mais seu pai e sua mãe, que ficaram de novo sozinhos; não foi senão muito tempo depois, com a idade de 130 anos, que Adão gerou o terceiro filho, chamado Seth. Segundo a genealogia bíblica, depois do nascimento de Seth, Adão viveu ainda oitocentos anos, e teve filhos e filhas.
       Quando Caim veio se estabelecer no oriente do Éden, não havia, pois, sobre a Terra senão três pessoas: seu pai, sua mãe e ele, solitário de seu lado. Entretanto, ele conheceu uma mulher e teve com esta um filho. Qual poderia ser essa mulher; e onde a pudera tomar para si? O texto hebreu diz: 'ele estava edificando uma cidade', e não ele edificou, o que indica uma ação presente e não uma ulterior; mas uma cidade supõe habitantes, porque não se deve presumir que Caim a fez para ele, sua mulher e seu filho (o que então seria apenas uma casa e não uma cidade), nem a pôde construir sozinho. Infere-se desse relato mesmo que a região para onde se bandeou Caim estava povoada, e que não poderia sê-lo pelos descendentes de Adão, porquanto este ainda não possuía filhos nem filhas, além do próprio Caim.
       A presença de outros habitantes sobre a Terra ressalta igualmente desta palavra de Caim: '... e quem quer que me encontre me matará', e da resposta que Deus lhe deu: '...assim não será; porque se alguém matar Caim será punido severamente por isso'. Ora, por quem poderia ele temer ser encontrado e morto, e para que serviria o sinal que Deus pôs sobre ele com o fim de preservar-lhe a vida, se não deveria encontrar ninguém em seu caminho? Se, pois, havia sobre a Terra outros homens fora da família de Adão, é porque aí estavam antes dele; donde se conclui que Adão não foi nem o primeiro e nem o único pai do gênero humano (item 25).
       Eram necessários os conhecimentos trazidos pelo Espiritismo (juntamente com as revelações da Ciência) a respeito das relações do princípio espiritual e do princípio material; sobre a natureza da alma, sua criação no estado de simplicidade e ignorância, sua união com o corpo, sua marcha progressiva indefinida através das existências corpóreas sucessivas, e através dos mundos, que são outros tantos degraus no caminho ascensional do aperfeiçoamento, sua libertação gradual da influência da matéria pelo uso do livre arbítrio, a causa dos seus pendores bons e maus e de suas aptidões, o fenômeno do nascimento e da morte (naturais), o estado do Espírito na Erraticidade, enfim, para lançar a luz do entendimento sobre todas as partes questionáveis da Gênese.
       Graças a esta luz, o homem sabe doravante de onde vem, para onde vai, por que está na Terra e por que sofre; sabe que o seu futuro (de gozo, de paz, de felicidade, ou de sofrimento, de perturbação, de infelicidade) está em suas mãos, e que a duração de seu cativeiro neste mundo depende dele mesmo.
       A Gênese, saída então da alegoria, estreita e mesquinha, parece-lhe agora grande e digna da majestade, da bondade, da sabedoria e da justiça do Criador" (item 26).}
       Sem mais comentários, fica este material disponível àqueles que realmente desejam raciocinar livremente sobre o tema aqui abordado.
       Caso alguém se interesse por informações mais completas, deixo o convite à leitura integral do livro "A Gênese, Os Milagres e as Predições Segundo o Espiritismo", de Allan Kardec. ///

Nota: Este texto é o último desta série, que vai do nº. 81 a 87. A quem não leu os anteriores, recomenda-se lê-los antes deste, para sua maior compreensão do que aqui foi estudado.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

86. A GÊNESE: O CASTIGO PERPÉTUO

       P. Moisés fala do castigo imposto por Deus a Adão e Eva por terem desobedecido sua ordem para que não comessem do fruto da árvore que havia no centro do Éden. O que diz o Espiritismo sobre tal castigo?

       R. Mais uma vez, com "A Gênese" de Allan Kardec, em seu capítulo XII, podemos analisar essa descrição bíblica sob uma ótica diferente da que se costuma fazer nas religiões e crenças tradicionais, conforme a palavra do codificador, que passo a transcrever:
       {"Se a falta de Adão foi literalmente o ter comido uma fruta, incontestavelmente, ela não poderia, por sua natureza pueril, justificar o rigor com que foi ele castigado. Não se poderia, não mais racionalmente, entender que esse erro se relacione  com o fato que se supõe geralmente; de outro modo, considerando-o como um crime irremissível, Deus condenaria a sua própria obra, uma vez que criara o homem para a propagação da própria espécie (por meio de uma lei natural: de reprodução). Se Adão houvesse entendido nesse sentido a proibição de tocar o fruto da árvore e se conformasse com isto, escrupulosamente, onde estaria a Humanidade, e que seria então dos desígnios do Criador?
       Deus não criou Adão e Eva para permanecerem sozinhos sobre a Terra; e a prova disso está nas próprias palavras que lhes dirigiu imediatamente depois de sua criação, quando ainda estavam no Paraíso terrestre: 'Deus os abençoou e disse: Crescei e multiplicai-vos; enchei a Terra e sujeitai-a' (Gên. 1: 28). Uma vez que a multiplicação do homem era uma lei desde o paraíso (e nada faz crer que o próprio Deus criaria novos homens do lodo da terra e de uma costela de cada um deles uma nova mulher), a sua expulsão do jardim não poderia ter por causa o fato suposto.
         O que dá crédito a essa suposição é o sentimento de vergonha de que Adão e Eva foram tomados diante de Deus (a percepção de sua própria nudez), e que os levou a se esconderem. Mas essa mesma vergonha é uma figura por comparação: ela simboliza a confusão que todo culpado sente em presença daquele a quem ofendeu (item 19).
       Qual é, pois, definitivamente, essa falta tão grande que pôde atingir com a reprovação perpétua a todos os  descendentes daquele que a cometeu? Caim, o fratricida, não foi tratado com tanta severidade. Nenhum teólogo pôde defini-la logicamente, porque todos, não desviando os olhos da letra, giraram num círculo vicioso" (item 20).} 
      O pecado de Adão provocou a morte do homem por todas as gerações procedentes; Ora, quando dizem que Jesus foi enviado para livrá-lo da morte, há que se perguntar: por que, então, a morte não foi cancelada desde a sua vinda, pelo menos para os que o aceitaram, já que também se coloca essa aceitação como condição para a salvação humana? Posto que até os salvos diretamente pela mão de Jesus vieram a morrer, e morre-se até hoje, sem que ninguém escape a esta operação da Natureza, então é porque a morte não foi dada ao homem como castigo do pecado original de Adão e Eva, como reza a tradição religiosa.
       {"Hoje entendemos que essa falta não foi um ato isolado, pessoal, de apenas um indivíduo, mas que ela compreende, sob um fato alegórico único, o conjunto das prevaricações das quais tornou-se culpada a humanidade ainda imperfeita da Terra, e que se resumem nestas palavras: infração às leis divinas. Eis porque a falta do primeiro homem, que é o símbolo da Humanidade em seus primeiros passos rumo à evolução coletiva, foi simbolizada, ela mesma, por um ato de desobediência (item 20).
       Dizendo a Adão que ele tiraria o seu alimento da terra com o suor do seu rosto, Deus, simbolicamente, determina ao homem a obrigação do trabalho; mas por que se faz do trabalho uma punição? Que seria da inteligência do homem se ela não se desenvolvesse pelo trabalho? Que seria a terra, se ela não fosse fecundada, transformada, saneada pelo trabalho inteligente do homem?
       (...) Por que Deus disse à mulher que, por causa da falta que ela cometeu, parirá na dor? Como pode a dor do parto ser um castigo divino, posto estar comprovado fisiologicamente ser ela necessária? (Isto, bem compreendido, no parto normal, natural). Como uma coisa que está segundo as leis da Natureza pode ser uma punição? É o que os teólogos não puderam ainda explicar, e o que não poderão fazê-lo enquanto não saírem do ponto de vista em que se colocaram; e, entretanto, essas palavras aparentemente contraditórias, podem ser justificadas" (item 21).}
       Tanto o suor do rosto de Adão, quanto o parto com dor de Eva, são emblemas das condições da Terra para aquelas almas que migraram de uma esfera mais adiantada, onde já não se necessitava da força braçal para o cultivo do alimento e onde a tecnologia eximia da parturiente a dor do parto normal, tal como ocorre no atual estágio da Terra, cada vez mais intelectualizada e tecnologicamente avançada.
       {"Notemos, primeiro, que se, no momento da criação de Adão e Eva, suas almas fossem tiradas do nada, como se ensina, deveriam ser noviças e ignorantes de todas as coisas; não deveriam saber o que é morrer. Uma vez que estavam a sós na Terra, enquanto viveram no paraíso terrestre, não viram ninguém morrer; como, pois, compreenderiam a ameaça de morte que Deus lhes fazia? Como Eva poderia compreender que parir na dor seria uma punição, uma vez que, recém criada para a vida, nunca ainda tivera filhos, e que era a única mulher no mundo? As palavras de Deus, portanto, não poderiam ter para eles nenhum sentido. Tirados do nada, como por encanto, não deveriam saber nem porquê e nem como dele saíram; não deveriam compreender nem o Criador e nem o objetivo da proibição que lhes fazia. Sem nenhuma experiência das condições de vida, como crianças que agem sem discernimento, pecaram, e isto torna mais incompreensível ainda a terrível responsabilidade que Deus fez pesar sobre eles e sobre toda a sua descendência, a saber: a Humanidade inteira" (item 22).}
       Temos aqui, pois, mais um bom motivo para não nos prendermos mais à letra morta, buscando o espírito que vivifica, no que está registrado nas Escrituras, racionalizando sobre o sentido alegórico das palavras, para daí tirarmos o verdadeiro sentido das advertências que nos vêm do Alto, para a nossa evolução espiritual, que é o que realmente deve nos importar. ///

Nota: Este texto é uma sequência dos textos de nºs. 81, 82, 83, 84 e 85, seus precedentes.

domingo, 1 de dezembro de 2013

85. A GÊNESE: OS ANJOS DECAÍDOS

       P. O que dizer dos anjos decaídos e da unicidade de filiação de todas as raças humanas, antes e pós dilúvio global?

       R. Allan Kardec, em A GÊNESE SEGUNDO O ESPIRITISMO, capítulo XII, traz-nos informações interessantes sobre o que ele chama "raça adâmica", partindo de uma interpretação sobre a doutrina dos anjos decaídos, doutrina esta defendida pela tradicionalidade religiosa segundo a letra com que Moisés a apresentou. Vejamos como o codificador do Espiritismo explica os acontecimentos que deram origem a essa doutrina e, em consequência, à tese da raça adâmica:
       {"Os  mundos progridem fisicamente pela elaboração da matéria de que são formados, e espiritualmente pela depuração dos Espíritos que os habitam. (Abro este parêntese para anotar que aqui já fica bem clara a aceitação de Kardec à tese da pluralidade de mundos habitados por seres inteligentes). Neles, a felicidade está em razão da predominância do bem sobre o mal, e a predominância do bem é o resultado do avanço moral dos Espíritos. O progresso intelectual não basta, uma vez que com a inteligência pode-se igualmente fazer o mal.
       Então, quando um mundo chega a um de seus períodos de transformação, que deve fazê-lo subir na hierarquia, mutações se operam na sua população encarnada e desencarnada; é então que ocorrem as grandes emigrações ou imigrações de Espíritos (item 43).
       Segundo o ensino dos Espíritos, foi numa dessas grandes imigrações, ou, uma dessas colônias de Espíritos, vindos de outra esfera, que deram nascimento à raça simbolizada na pessoa de Adão, e por isto chamada raça adâmica. Quando ela aqui chegou, a Terra estava povoada desde tempos imemoriais, tal como a América, quando da chegada dos Europeus.
       A raça adâmica, mais avançada do que as que a precederam sobre a Terra, era, com efeito mais inteligente; foi ela que levou as demais ao progresso. A Gênese no-la mostra, desde seus princípios, industriosa, apta para as artes e para as ciências, sem passar pela infância intelectual, o que não é o próprio das raças primitivas, mas o que concorda com a opinião de que se compunha de Espíritos cujo progresso já se consolidara. Tudo indica que ela não era antiga sobre a Terra, e nada se opõe a que não esteja aqui senão há alguns milhares de anos, o que não estaria em contradição nem com os fatos geológicos, nem com as observações antropológicas, e, ao contrário, tenderia a confirmá-las (item 38).
       A doutrina que fez todo o gênero humano proceder de uma única individualidade, há cerca de seis mil anos, não é mais admissível no estado atual dos conhecimentos. As principais considerações que a contradizem, tiradas da ordem física e da ordem moral, resumem-se nos seguintes pontos:
       Do ponto de vista psicológico, certas raças apresentam tipos característicos particulares, que não permitem assinalar-lhes uma origem comum. Há diferenças que, evidentemente, não são o efeito do clima, uma vez que os brancos que se reproduzem no país dos negros não se tornam negros, e reciprocamente. O ardor do sol tosta e amorena a epiderme, mas nunca transformou um branco em negro, achatou o nariz, mudou a forma dos traços da fisionomia, nem tornou encarapinhados e lanudos os cabelos longos e macios. Sabe-se hoje que a cor do negro provém de um tecido particular, subcutâneo, que se liga à espécie.
       É necessário considerar as raças negras, mongólicas,, calcásicas, como tendo a sua origem própria e nascidas simultânea ou sucessivamente, sobre diferentes partes do globo; seu cruzamento produziu as raças mistas secundárias. Os caracteres fisiológicos das raças primárias são o indício evidente de que elas provieram de tipos especiais. As mesmas considerações servem tanto para os homens como para os animais, quanto à pluralidade de estirpes (item 39).
       A impossibilidade da descendência única de toda a Humanidade se torna ainda mais evidente quando se admite, com a Gênese bíblica, que o dilúvio destruiu todo o gênero humano, com exceção de NOÉ e sua família, que não era numerosa, no ano de 1656, seja 2.348 anos antes da Era Cristã. Não seria, pois, em realidade, que de Noé dataria o povoamento do globo; ora, quando os Hebreus se estabeleceram no Egito, 612 anos depois do dilúvio, este já era um poderoso império, e que teria sido povoado em menos seis séculos, sem falar de outros países, só pelos descendentes de Noé, é hipótese completamente inadmissível. Notemos, de passagem, que os Egípcios acolheram os Hebreus como estrangeiros; seria, pois, de espantar que tivessem perdido a lembrança de uma origem comum tão próxima, tanto que conservavam religiosamente os monumentos de sua história" (item 42).}
       Por que, então, Teria Moisés aludido aos anjos decaídos? Depreende-se do acima exposto, que os Espíritos, vindos de outra esfera distante da Terra, por seu desenvolvimento alcançado na intelectualidade, mas por haverem sido banidos de seu Planeta de origem dada a sua renitência no mal, ou na inferioridade moral, são justamente um emblema da angelitude, a que se destinavam, temporariamente cancelada, para aqui, com o suor do rosto e o sofrimento das dificuldades relativas ao nosso Orbe, refazerem a caminhada espiritual, em busca da própria regeneração. ///

Nota: Este texto é complementar aos 4 anteriores (nºs. 81, 82, 83, 84). Para acessar os 3 primeiros, clique sobre o mês de novembro, na lista de textos publicados.
       

84. A GÊNESE: O PECADO ORIGINAL

       P. O que tem o Espiritismo a dizer sobre o pecado original, que fez com que Adão e Eva fossem expulsos do Paraíso?

       R. Ainda no capítulo XII de "A GÊNESE SEGUNDO O ESPIRITISMO", Allan Kardec tece em torno dessa questão crucial da Gênese bíblica as seguintes considerações:
       {"O fruto da árvore (aquele que Deus proibiu que o homem dele comesse) representa o objeto dos desejos materiais do homem e a simbologia da cobiça e da concupiscência; resume, sob a mesma figura, os motivos de arrastamento ao mal; comer desse fruto é sucumbir à tentação. Ele está no meio do jardim das delícias para mostrar que a sedução está no próprio seio dos prazeres, e lembrar que, se o homem dá preferência aos gozos materiais, prende-se à Terra e afasta-se de sua destinação espiritual.
       A morte, de que o homem é ameaçado, caso transgrida a regra proibitiva que lhe é imposta, é uma advertência das consequências inevitáveis, físicas e morais, a que o arrastará a violação das leis divinas, gravadas por Deus em sua consciência. Fica muito evidente aqui que não se trata da morte corpórea, uma vez que depois de sua falta Adão viveu ainda por muito tempo, e sim da morte espiritual, ou seja, da perda dos bens que resultam da pureza moral, perda da qual a sua expulsão do jardim das delícias é a imagem" (item 16).
       A serpente está longe de passar hoje pelo tipo da astúcia a que a remete o texto mosaico; está, pois, aqui, antes com relação à perfídia dos maus conselhos, que deslizam como uma serpente. Aliás, se a serpente (animal), por ter enganado a mulher, foi condenada (desde então) a rastejar sobre o próprio ventre, isso queria dizer que antes tinha pernas e, então, não poderia ser uma serpente no sentido literal.
       É necessário notar que a palavra hebraica 'nâhâsch' traduzida pela palavra 'serpente' tem antes os significados de 'encantado', 'encantador', 'adivinho', 'fazer encantamentos', 'adivinhar as coisas ocultas'. É com esta acepção que se encontra na Gênese (cap. 64 v. 5 a 15), a propósito da taça que José fez esconder no saco de Benjamin: 'A taça que furtastes é aquela na qual meu senhor bebe, e da qual se serve para adivinhar (nâhâsch).  Ignorais que não há quem me iguale na ciência de adivinhar (nâhâsch)?'  -  No livro de Números (cap. 23 v. 23): 'Não há encantamentos (nâhâsch) em Jacó, nem em Israel'. 
       Por conseguinte, a palavra 'nâhâsch' tomou também o significado de serpente, alusão feita ao réptil de que os encantadores se serviam em seus encantamentos.
       Não foi senão na versão dos Setenta - que, segundo Hutcheson, corromperam o texto hebreu em muitos lugares - escrita no segundo século antes da era cristã, em grego, que a palavra 'nâhâsch' foi traduzida por serpente. As inexatidões dessa versão prendem-se, sem dúvida, às modificações sofridas pela língua hebraica nesse intervalo; porque o hebreu do tempo de Moisés era então uma língua morta, que diferia do hebreu vulgar, tanto quanto o grego antigo e o árabe literário diferem do grego e do árabe modernos.
       É, pois, provável que Moisés entendesse o desejo indiscreto de conhecer as coisas ocultas pelo espírito de adivinhação por sedutor da mulher, o que está de acordo com o sentido primitivo da palavra 'nâhâsch': adivinho. Não se pode esquecer, por outro lado, que Moisés queria proscrever, de entre os Hebreus, a arte de adivinhação, em uso entre os Egípcios, como o prova a sua proibição de interrogarem-se os mortos e o Espírito de Python" (item 17).}
       E assim fechamos mais um breve capítulo do nosso estudo, que terá continuidade ainda por alguns dos próximo textos, ensejando-nos mais uma grande oportunidade de aprofundarmos o raciocínio lógico sobre a mera aceitação da letra confusa, alegórica, dos Escritos ditos sagrados, imposta como verdade dogmática aos crentes da tradicionalidade cristã. ///

Nota: Este texto é continuação dos 3 anteriores, de nºs. 81, 82 e 83. Para acessá-los, clique sobre o mês de novembro, na lista de publicações.

sábado, 30 de novembro de 2013

83. A GÊNESE: O HOMEM, A MULHER E O PARAÍSO PERDIDO

       P. O que teria Kardec a nos dizer sobre a criação do primeiro homem terreno, Adão, da primeira mulher, Eva, e da perda do paraíso pela desobediência de ambos a uma ordem do Criador?

       R. Allan Kardec segue adiante em suas considerações, ainda no capítulo XII da mesma obra citada no texto anterior, ensejando-nos novas reflexões, agora sobre a gênese do homem e seus primeiros passos sobre a face da Terra, recém formada, segundo Moisés. 
       {"Moisés está mais com a verdade quando disse que Deus formou o homem do limo (pó; barro) da Terra. A palavra hebraica 'haadam', em português: Adão, cujo significado é 'homem' no sentido genérico, tem a mesma raiz de 'haadama': terra. A Ciência nos mostra, com efeito, que o corpo do homem (ser humano) é composto de elementos hauridos na matéria inorgânica da terra (considerando-se a crosta sólida e a parte líquida do Planeta).
       Quanto à mulher ter sido formada a partir de uma costela de Adão é uma alegoria, pueril, se tomada ao pé da letra, mas profunda, no seu sentido oculto. Ela tem por objetivo mostrar que a mulher é da mesma natureza que o homem, sua igual diante de Deus, e não uma criatura à parte. Saída de sua própria carne, a imagem dessa igualdade é bem mais impressionante, do que se fora formada separadamente com o mesmo limo de que ele teria sido gerado. Equivale a dizer ao homem que deve amá-la como uma parte de si mesmo" (item 11).}
       Para falar do paraíso perdido, Kardec utiliza-se dos versículos 9 a 17 do capítulo 2 e versículos 1 a 24 do capítulo 3 da Gênese bíblica. Seguem-se à transcrição destes os seus comentários, dos quais alguns trechos não podem deixar de ser aqui reproduzidos. Antes, porém, gostaria de manifestar minhas "dúvidas" pessoais, que podem ser as mesmas dos leitores deste blog:
       Uma pergunta que sempre se faz, a título de brincadeira, como uma charada, até hoje não respondida ou solucionada satisfatoriamente, é esta: "Quem nasceu primeiro - ou qual se fez primeiro - o ovo ou a galinha"? Ora, a galinha, sabemos, nasce de um ovo; mas para que haja um ovo, é necessário que haja antes uma galinha que o ponha. Isto também vale para todas as espécies de aves, assim como para a maioria dos peixes e répteis, salvo raríssimas exceções. Mas o problema não é só este, pois que ainda existe a figura do macho de cada espécie, cuja interferência é imprescindível para que haja a fecundação desse ovo e dele, então, se origine a cria segundo a sua espécie. No caso dos galináceos, o galo também foi gerado de um ovo, ao qual um outro galo fecundara anteriormente, sem o que a galinha não o chocaria e dele não se geraria o pintinho, como todos nós sabemos e muitos de nós já vimos acontecer.
      Por seu turno, tal como ocorre com o gênero humano, as espécies animais, chamadas mamíferas, geradas no ventre da fêmea, mediante a fecundação promovida pelo macho através da cópula, acarretam-nos outra "dúvida" intrigante: pois que só pode gerar seus filhotes a fêmea que for fecundada por um macho de sua espécie, como nasceu o primeiro macho e a primeira fêmea de cada uma dessas múltiplas espécies que conhecemos? Teriam, o primeiro cão, o primeiro gato, o primeiro cavalo, o primeiro leão, o primeiro elefante, etc..., sido feito por Deus do barro da Terra, como fez com o homem, e de uma costela de cada um deles tiradas a primeira cadela, a primeira gata, a primeira égua, a primeira leoa, a primeira elefanta,etc...? E quanto à ordem divina dada à mulher para que parisse com dor, teria sido extensiva às fêmeas de todas essas espécies, uma vez que é assim que acontece, de acordo com a natureza fisiológica das mesmas, em tudo semelhante à dos seres humanos, independentemente de raças?
       Divagações pessoais à parte, voltemos a Kardec:
     {"Adão é a personificação da Humanidade; sua falta individualiza a fraqueza do homem, em quem predominam os instintos materiais, aos quais não sabe ainda resistir. Está bem reconhecido hoje que a palavra 'haadam' não é um nome próprio, mas significa o homem genericamente, a Humanidade, o que destrói todo o alicerce construído sobre a personalidade de Adão.
      A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da ciência, é o da consciência que o homem iria adquirir do bem e do mal, para o desenvolvimento da sua inteligência, e o do livre-arbítrio, em virtude do qual ele escolhe entre um e outro; marca, pois, o ponto em que a alma do homem deixa de ser  guiada somente pelos instintos, toma posse de sua liberdade e incorre na responsabilidade de seus atos" (item 16).}
       Noutra palavra: é a perda do paraíso, da boa vida, tal como ocorre com a criança, ao atingir certa idade, em que perde a sua inocência e o seu direito a uma vida apenas de brincadeiras e entretenimentos, sem qualquer responsabilidade por si mesma e por seus atos. Nada lhe é cobrado, a não ser que não mexa nisto ou naquilo, porque pode machucar-se, fazer "dodói". Mas ao começar a discernir, passa a responder por suas escolhas, suas decisões. A partir daí, perde certas regalias e lhe são exigidos certos esforços com que antes nem sonhava. Eis, pois, uma das conclusões a que chegamos a respeito da perda do paraíso. Mas não a única, como veremos na sequência, no próximo texto em continuação a este estudo. ///

Nota: Este texto dá continuidade aos anteriores, de nºs. 81 e 82.

82. A GÊNESE: A CRIAÇÃO DO SOL

       P. Segundo a Gênese mosaica, Deus criou primeiro a Terra, depois a luz, posteriormente o Sol. Segundo a Gênese espírita, o que há de certo ou errado nessa cronologia da Criação?

       R. Continuando as nossas reflexões sobre a Criação divina, analisemos agora outro ponto sobre o qual devemos voltar nossa atenção, desapaixonadamente, acompanhando o raciocínio e as informações que nos traz o trecho seguinte, ainda do capítulo XII da Gênese de Kardec:
       {"Um dos pontos que foi o mais criticado na Gênese bíblica foi a criação do Sol depois da luz. Procurou-se explicá-lo, segundo os dados fornecidos pela própria Geologia, dizendo que, nos primeiros tempos de sua formação, a atmosfera terrestre, estando carregada de vapores densos e opacos, não permitia ver o Sol, que desde então era como se não existisse para a Terra. Essa razão seria talvez admissível se nessa época houvesse habitantes para julgar da presença ou ausência do Sol; ora, segundo o próprio Moisés, não havia ainda senão plantas, que, todavia, não puderam crescer e se multiplicar sem a ação do calor solar.
       Há, pois, um evidente anacronismo na ordem que Moisés assinala da criação do Sol. Mas, involuntariamente ou não, não errou dizendo que a luz precedeu ao Sol.
       O Sol não é o princípio da luz universal, mas uma concentração de elementos luminosos sobre um ponto; dito de outro modo, do fluido que, em dadas circunstâncias, adquire as propriedades luminosas. Esse fluido, que é a causa, deveria necessariamente preceder o Sol, que não é senão um efeito. Podemos dizer que o Sol é a causa da luz que ele esparge, mas é ele próprio um efeito em relação à luz que recebeu.
       (...) O erro vem da ideia falsa, que se teve por muito tempo, de que o Universo começou com a Terra. (...) Sabe-se agora que, antes do nosso Sol e da nossa Terra, milhões e milhões de sóis (estrelas) e de terras (planetas) já existiam, e que gozavam, consequentemente, da luz do Universo.
       A assertiva de Moisés é, pois, perfeitamente exata em princípio; ela é falsa no que se refere à criação da Terra antes do Sol; estando a Terra submetida ao Sol em seu movimento de translação, é de se entender que ela deve ter sido formada depois dele; era o que Moisés não podia saber, uma vez que ignorava a lei da gravitação (item 8).
       Moisés partilhava as mais primitivas crenças sobre a cosmogonia e, como os homens de seu tempo, acreditava na solidez da abóboda celeste e em reservatórios superiores para as águas, como expressa, sem alegoria nem ambiguidade, nesta passagem (v. 6 e 7): 'Deus disse: Que o firmamento seja feito no meio das águas, e que separe ele as águas das águas. E Deus fez o firmamento e ele separou as águas que estavam debaixo do firmamento das águas que estavam sobre o firmamento'.
       (...) Para se compreender certas partes da Gênese, é necessário colocar-se no ponto de vista das ideias cosmogônicas do seu tempo, do qual ela é o reflexo (item 9).
       Depois dos progressos da Física e da Astronomia, semelhante doutrina não é mais sustentável. Entretanto, Moisés empresta essas palavras ao próprio Deus. Ora, uma vez que exprimem um fato notoriamente falso, de duas coisas uma: ou Deus enganou-se no relato que fez de Sua obra, ou esse relato não foi uma revelação divina, como se supõe. Não sendo admissível a primeira hipótese, disso se conclui, necessariamente, que Moisés expressou as suas próprias ideias " (item 10).}
       Temos aqui mais um aspecto para o qual as doutrinas que combatem o Espiritismo fecham os olhos, negando-se a usar da razão. Recusam-se a admitir a origem ou, no mínimo, a interferência humana sobre boa parte das Escrituras sagradas dos Hebreus, às quais insistem em considerar, de modo absoluto e irrefutável, como a "Palavra de Deus". E quando o Espiritismo não as acompanha nesta consideração, alardeiam tratar-se de doutrina de demônios, a serviço de Satanás, para desencaminhar os homens. Tal prerrogativa é extensiva à própria Ciência, sempre que esta se preste a desmistificar certos conceitos bíblicos a que se agarram dogmaticamente. ///

Nota: Este texto é uma continuação do estudo iniciado no texto precedente, de nº. 81.

81. A GÊNESE: OS SEIS DIAS DA CRIAÇÃO

       P. A Gênese ( ou: Gênesis), primeiro livro da Bíblia, escrito por Moisés, diz que Deus criou o Mundo em seis dias. O Espiritismo discorda deste número? Com que argumentos?

       R. No capítulo XII do livro "A Gênese, Os Milagres e as Predições", de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo transcreve da Gênese mosaica, inicialmente, os versos de 1 a 32 do primeiro capítulo e de 1 a 7 do capítulo 2, para partir destes os seus comentários pessoais. Esta parte trata da criação da Terra e dos seres que a habitam desde o princípio.
       Kardec já havia desenvolvido nos capítulos precedentes as várias teorias e dados científicos sobre a origem e a constituição do Universo, relativos à parte material, e as informações fornecidas pelo Espiritismo em relação à parte espiritual.
       Vejamos o que nos diz ele agora, já no capítulo em pauta:
       {"Sobre alguns pontos, certamente, há uma concordância notável entre a Gênese de Moisés e a doutrina científica; mas seria um erro crer-se que basta substituir os seis dias da criação, de vinte e quatro horas cada dia, por seis períodos geológicos, indeterminados, para se encontrar uma analogia completa. (...) Note-se, aliás, que o número de seis períodos geológicos é arbitrário, uma vez que se contam mais de vinte e cinco formações bem caracterizadas. Este número não marca senão as grandes fases gerais; não foi adotado no princípio, senão para encaixar o quanto possível no texto bíblico e em uma época pouco distante em que se acreditava que se deveria controlar a Ciência pela Bíblia. Foi por isto que os autores da maior parte das teorias cosmogônicas, com o objetivo de se fazerem aceitos mais facilmente, se esforçaram por se colocarem de acordo com o texto sagrado. A partir do momento em que a Ciência está apoiada sobre o método experimental, ela se fortalece e se emancipa; hoje, é a Bíblia que se faz controlada pela Ciência.
       Por outro lado, a geologia, não tomando seu ponto de partida senão pela formação dos terrenos graníticos, não compreende no número de seus períodos o estado primitivo da Terra. Também não se ocupa ela do Sol, da Lua e das estrelas, nem do conjunto do Universo, que pertencem à astronomia. Para se entrar no quadro da Gênese, convém, pois, acrescentar um primeiro período abarcando essa ordem de fenômenos, ao qual se poderia chamar período astronômico" - (itens 3 e 4).}
       A seguir Kardec insere em seu livro um quadro comparativo, no qual se resumem os fenômenos característicos dos seis períodos estabelecidos pela Ciência, em confronto com a descrição bíblica dos acontecimentos que marcam cada um dos seis dias da criação.
       {"Um primeiro fato que ressalta desse quadro comparativo é que a obra de cada um dos seis dias não corresponde, rigorosamente, a cada um dos seis períodos geológicos. A concordância mais notável é a da sucessão dos seres orgânicos, que é aproximadamente a mesma, e na aparição do homem por último; ora, está aí um fato importante - (item 6). 
       (...) Quando Moisés disse que a criação foi feita em seis dias, quis ele falar do dia de vinte e quatro horas ou bem compreendeu essa palavra no sentido de período, tempo de duração? A primeira hipótese é a mais provável, se se leva em conta o próprio texto; primeiro porque tal é o sentido próprio da palavra hebraica "iôm" traduzida por dia; depois a especificação da tarde e da manhã, que dá lugar a se supor que ele quis falar de seis dias comuns, de vinte e quatro horas. Não se pode mesmo conceber nenhuma dúvida disso, quando ele diz (v. 5): 'Ele deu à luz o nome de dia e às trevas o nome de noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia'. E o sentido é ainda mais preciso quando disse (v. 17), falando do Sol, da Lua e das estrelas: 'Ele colocou no firmamento do céu para brilharem sobre a Terra; para presidir ao dia e à noite, e para separar a luz das trevas: e da tarde e da manhã se fez o quarto dia'.
     Aliás, na criação, tudo é miraculoso, e desde que se entrou na via dos milagres, pode-se perfeitamente crer que a Terra foi feita em seis rápidos períodos de vinte e quatro horas. Sobretudo quando se ignoram as primeiras leis naturais. Essa crença foi partilhada por todos os povos civilizados da antiguidade, até o momento em que a Geologia chegou, documentos na mão, demonstrando-lhe a impossibilidade" - (item 7)}
       Aqui temos já um material importante para uma profunda reflexão. Juntemo-lo aos demais subsequentes e teremos uma valiosa oportunidade de estudo sério, que é, afinal, a grande proposta deste blog. ///


domingo, 10 de novembro de 2013

80. ESPIRITISMO X APOMETRIA

      P. Por que os centros espíritas filiados às Federações brasileira e estaduais não adotam a técnica da apometria nos tratamentos de desobsessão?

      R. No texto de número 30, publicado em março de 2013, sob o título APOMETRIA NOS CENTROS ESPÍRITAS, fiz um breve comentário sobre este tema. O livro citado nesse texto, "Apometria - A Nova Ciência da Alma" de J. S. Godinho, que guardo em minhas mãos, transmitiu-me uma ideia bastante positiva sobre essa técnica, especialmente no que tange ao modo de praticá-la, a maneira como se devem conduzir, muito disciplinadamente, os médiuns chamados a esse trabalho.
      Além da leitura desse livro, recebi informações por parte de um companheiro que participou durante algum tempo das atividades apométricas, dando conta da existência de grupos que agem de maneiras diferentes. Aí é que está o perigo, como se diz. Uns praticam a técnica sem se desviarem do princípio doutrinário da caridade, tratando os Espíritos obsessores com o mesmo respeito, cuidado, compreensão, mansuetude e amor observado nos centros espíritas (kardecistas). Inclusive fazem estudos das obras básicas, a fim de não se desviarem dos propósitos da Doutrina. Apenas o método usado na desobsessão inclui esta nova técnica. Outros, porém, utilizam-se de métodos mais rígidos, menos suaves, sem aquela tolerância recomendada aos doutrinadores para com os irmãos infelizes da espiritualidade, que devem ser orientados e não massacrados, entre outras coisas relativas à prática libertadora.
      Eu mesmo não entendia porque os Centros Espíritas, em sua maioria, além de não adotarem a nova técnica, guardam certo distanciamento em relação aos que a praticam.
      Recentemente chegou-me às mãos uma edição da revista "O Espírita" (ano XXXIV - nº. 139 - set./dezembro 2012), onde, às páginas 16 e 17, "DIVALDO AFIRMA: APOMETRIA NÃO É ESPIRITISMO, artigo transcrito do programa Presença Espírita da rádio Boa Nova, Guarulhos-SP, de agosto/2001", do qual passo a transcrever alguns trechos, para a apreciação dos leitores deste blog:

     "Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria, porque não sou apômetra, eu sou espírita, e o que posso dizer é que a apometria, segundo os apômetras, não é Espiritismo. Porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de "O Livro dos Médiuns".
     (...) Conforme os livros que têm sido publicados, a apometria, segundo a presunção de alguns, é um passo avançado do Movimento Espírita, no qual Allan Kardec estaria ultrapassado [Creio não ser este o caso do livro acima citado]. Tese com a qual, na condição de espírita, eu não concordo em absoluto.
      Na prática e nos métodos de libertação dos obsessores, a violência que ditos métodos apresenta, a mim, pessoalmente, parecem tão chocantes que fazem recordar-me de Talião, que Moisés suavizou com o código legal e que Jesus sublimou através do amor.
      Quando as entidades são rebeldes, os doutrinadores, depois de realizarem uma contagem cabalística ou de fazerem o gestual muito específico, expulsam pela violência esse espírito para o magma da Terra, a substância ainda em ebulição do nosso Planeta. Colocam-no em cápsulas espaciais e disparam para o mundo da erraticidade.
      (...) A Doutrina Espírita centraliza-se no amor e todas essas práticas novas, das mentalizações, das correntes mento-magnéticas, psicotelérgicas, para nós espíritas merecem todo o respeito, mas não têm nada a ver com o Espiritismo.
      (...) Então, se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture para não confundir. A nossa tarefa é de iluminar, não de eliminar. O Espírito mau, perverso, cruel, é nosso irmão ainda na ignorância.
     (...) E da minha condição de espírita, exercendo a mediunidade há mais de 54 anos, os resultados têm sido todos colhidos da árvore do amor e da caridade. Assim, não entrarei no mérito dos métodos, que são bastante chocantes para a nossa mentalidade espírita, que não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos, porque a única força é aquela que vem de dentro. Para esta classe de espíritos são necessários jejum e oração".

      Fica aqui, pois, embora resumidamente, o ponto de vista de um dos maiores expoentes do Espiritismo no Brasil, atualmente, Divaldo Pereira Franco, que invoca em apoio à sua opinião o não menos prestigiado e conhecido médium Chico Xavier (com toda a sua obra de mais de 400 títulos), além das notáveis Ivone do Amaral Pereira e Zilda Gama, respeitabilíssimas no meio espírita, em seu artigo, para a nossa reflexão e estudo. ///
     

sábado, 9 de novembro de 2013

79. CREIAM TODOS: EU - O DIABO - NÃO EXISTO (!!!)

      P. Se não é o Diabo que desencaminha as pessoas e que as submete aos sofrimentos, à dor, às derrotas, à desarmonia no lar, aos vícios e a toda sorte de perturbações, então a quem os espíritas doutrinam nas sessões de desobsessão?

      R. Esta pergunta me foi feita outro dia por uma pessoa muito querida, de minhas relações familiares, certamente ironizando sobre as colocações que fiz em meu comentário, numa rede social, dizendo que o Diabo, na verdade, é apenas uma figura alegórica, criada para representar a nossa própria ignorância espiritual, nossa imperfeição moral, desencadeadora de todos os nossos vícios e desmandos, durante a nossa jornada evolutiva.
      Não foi de uma pessoa somente que já ouvi ou li a seguinte afirmação: "Uma das maiores estratégias usadas pelo diabo e seus anjos é a de procurar fazer com que os homens não acreditem que eles existam".
      Fico imaginando esta prática do Diabo, através dos seus anjos (no caso, os demônios), colocando na mente das pessoas, por intuição, por sugestão mental, e até por palavras ditas ou escritas, mediunicamente, a certeza de que eles não existem. Ora, dá até para pensar que isto seja mesmo possível. Segundo um conceituado escritor e pregador evangélico, esta é uma estratégia usada pelo Diabo para facilitar as influência demoníaca sobre os incautos, pois não acreditando na existência dele, Satanás, tudo o que lhe seja dito por este, ou pelo demônio travestido de anjo de luz que o esteja representando, será tomado à conta de orientação dada por um bom espírito, e, assim, ele pode manipular essas pessoas induzindo-as ao erro e subjugando-as pela vida afora.
      No entanto, analisando segundo a minha própria experiência e os estudos de que participo há mais de meio século de vivência espírita: é muito pouco inteligente esse tal Diabo, ou o demônio que fala em seu nome, quando diz que ele, o Diabo, não existe de verdade, mas que é o símbolo personificador do nosso egoísmo, do nosso orgulho, da nossa soberba, da nossa inveja, da nossa ambição, da nossa vaidade, do nosso ciúme, do nosso desejo de vingança, da nossa maledicência, enfim, dos nossos vícios e mazelas morais. E quando nos recomenda dar combate a tais sentimentos inferiores e vícios, incessante e perseveradamente.
       Nada inteligente é o Diabo, quando nos orienta a pedir a Jesus, a quem afirma ser o Espírito mais puro dentre todos os que Deus, o nosso Criador, enviou à Terra para instruir os homens, que nos ajude a vencer as nossas fraquezas e sobrepujar das nossas más tendências. Aliás, o Diabo tem-se ocupado demais em recomendar-nos agir somente no bem e a orar constantemente para Jesus, a quem chama de Mestre, de Guia, de Modelo para o homem e de Médico das almas. Exorta-nos a orar em favor dos que sofrem, dos aflitos, dos que passam por provações, fazendo-o com fé e confiança, especialmente na Justiça e no Amor de Deus, que, diz ele, a todos ama e a nenhum de seus filhos desampara.
      Interessante que, não bastasse a burrice do demônio em induzir-nos à prática do bem, do amor ao próximo, e ao combate das nossas próprias imperfeições morais, o que já é um tremendo contra-senso, um tiro dado no próprio pé, um serviço contra os próprios interesses, ele ainda nos alerta sobre a presença e o assédio de Espíritos inferiores, de índole má e vingativa, ou, simplesmente sofredores, que, quando não cultivamos pensamentos e sentimentos saudáveis, positivos, fraternos, por afinidade, dado o teor das nossas vibrações mentais e das nossas ações, se unem a nós e nos envolvem, tornando-nos ainda mais perturbados ou exacerbando os nossos maus pendores.
      Ora, quanto a isso, diz o demônio, não se trata de nenhum anjo do diabo, mas de um Espírito perturbado, preso a sentimentos rasteiros, a mágoas do passado, pois aqui viveram como nós mesmos, e que se aproxima daquela pessoa desatenta por encontrar nela uma ressonância vibratória, causando-lhe então prejuízo de variada ordem, conforme o grau de correspondência desta com as suas sugestões infelizes.
      Para manter-se imune a uma tal influência nociva, diz o demônio, é preciso que a criatura mantenha-se conectada com Deus, através da prece, dos bons pensamentos, de atitudes dignas, de uma conduta moral elevada, do serviço útil e, sobretudo, da prática contínua da caridade conforme o Cristo nos ensinou no seu Evangelho de luz e de amor.
      É esta, então, a estratégia do Diabo e dos seus anjos para enganar os homens?
     Se é (pois que é assim que os Espíritos nos ensinam), que me desculpem os amigos evangélicos, aqueles que creem nessa fábula diabolística, do mesmo modo que as criancinhas, até uma certa idade, creem que os bichos também falam, quando lhes contam historinhas infantis que dão vozes a eles, mas é a estratégia mais burra e ineficaz que se pode conceber de um ser que se diz astuto e voraz. Ao tomá-la por verdadeira, há que se convir que o Diabo trabalha contra ele mesmo e, assim sendo, o seu reino não pode subsistir, como asseverou Jesus em certa passagem da sua história.
     Por favor, pensem nisto, antes de ficarem dizendo e repetindo coisa tão desconexa e despropositada quanto esta, a de que o Diabo usa tal estratégia para melhor poder enganar e seduzir o homem. ///

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

78. A SALVAÇÃO POR MEIO DE JESUS-CRISTO

      P. Para os cristãos em geral, Jesus é o Senhor e o Salvador dos homens. E para os espíritas, que também se declaram cristãos, mas têm uma doutrina diferenciada dos demais, Quem ou o Que é Jesus? E a nossa salvação, por que meios pode ser alcançada, se não somente pelo Senhor Jesus? O que dizem os espíritas a respeito disso?

      R. Os cristãos de quase todas as marcas, quero dizer: de quase todas as denominações, descendentes do Protestantismo luterano, e, mais distante um pouco, do Catolicismo romano, ambos inclusos, têm em Jesus-Cristo, o Filho de Deus, a figura do Salvador da Humanidade. Entendem que é preciso, para ser salvo, que o homem primeiramente O aceite como único e suficiente salvador pessoal; depois, que seja batizado em seu santo Nome; e, por fim, que siga algumas regras, variáveis de acordo com cada Igreja. Enfatizam que, segundo a Bíblia, "Jesus é o caminho, a verdade e a vida", e, ainda, que ninguém vai ao Pai (Deus), senão por Seu intermédio. Estranhamente, para a grande maioria dessas Igrejas, Jesus é o próprio Deus. As exceções são poucas, entre as quais se acha a organização denominada "Testemunhas de Jeová", que assevera ser Jesus o Filho e não o Pai, a Quem obedeceu fielmente em toda a sua missão na Terra.
      Nós, espíritas, frequentemente somos assediados por parentes, amigos, colegas de trabalho, companheiros de profissão, e até mesmo por pessoas que conhecemos casualmente, principalmente os que são evangélicos, ou testemunhas de Jeová, com raríssimas exceções, todos eles preocupados em arrebatar-nos da condenação eterna e empenhados em convencer-nos da necessária aceitação de Jesus-Cristo para a nossa salvação.
       Ora, porque cremos em coisas que eles não creem, como a reencarnação, ou pluralidade existencial da alma em épocas, locais, situações e corpos diferentes, com vistas ao progresso espiritual de cada indivíduo, criado para a eternidade e objetivando a sua angelitude ou pureza total; a continuidade consciente da vida pós-morte e, consequentemente, a existência incorpórea dos Espíritos e a sua comunicabilidade com o mundo físico, material, ao qual pertencemos momentânea e temporariamente; além de outras peculiaridades de nossa crença, essas pessoas acham que não estamos com Jesus, que não cremos n'Ele, que não somos seus seguidores, que não O aceitamos como nosso Guia, Mestre e Salvador.
      Equivocam-se. Para nós, espíritas, Jesus - o Cristo, é, sim, sem a menor possibilidade de erro ou de dúvida, o Mestre, o Guia, o Modelo, o Caminho, a Verdade e a Vida.
      O que há de diferente no nosso modo de ver e de pensar é que, em vez da simples aceitação do seu Nome como Salvador de nossas almas, entendemos ser absolutamente necessário aceitar e pôr em prática, no nosso dia-a-dia, os Seus ensinamentos. Sem isto, que para nós equivale a cultuá-lo interiormente (ou: a adorar a Deus em espírito e verdade), isto é, na nossa intimidade mental, acreditamos ser totalmente em vão qualquer expressão exterior de exaltação e louvor à sua Personalidade divina.
      Estudamos, cotidianamente, nos Centros Espíritas e através da vastíssima literatura espírita franqueada a todos os interessados, esses ensinamentos maravilhosos, repetidos e explicados, à luz da razão, em mensagens e explanações criteriosas e muito edificantes. As palestras públicas, que antecedem às sessões de fluidoterapia (passes com imposição de mãos), versam sempre sobre algum aspecto do Evangelho de Jesus, objetivando contribuir para a nossa reforma ou solidificação moral, com ênfase à caridade cristã, que se consagra no amor ao próximo e na vivência do conceito áureo do Cristianismo: "Fazei aos homens o que quereis que os homens vos façam", dito também de outra forma: "Não façais aos outros o que não gostaríeis que os outros vos fizessem".
      Jesus é, pois, a figura central das nossas atenções, porquanto consideramos a sua Palavra (não o seu sangue fisiológico - como é ensinado em alguns templos), uma vez efetivamente praticada, como o verdadeiro móvel da nossa salvação; melhor dizendo: do nosso aperfeiçoamento moral, da nossa depuração espiritual, da nossa felicidade vindoura e da nossa paz interior já no presente.
      Nossas preces (orações) são elevadas sempre a Jesus, ainda que seja pedindo-Lhe a permissão para que os Bons Espíritos, Seus colaboradores e benfeitores da Humanidade terrena, que está desde o princípio sob a Sua tutela, nos amparem, fortaleçam e orientem. E é ao mesmo Amigo Jesus que sempre agradecemos por todas as bênçãos e ensinamentos recebidos. 
      Que fique, pois, devidamente esclarecido o porquê de raramente um espírita atender ao convite de um companheiro bem intencionado para que vá à sua Igreja e aceite Jesus perante o altar e os seus irmãos de crença. Digo "raramente", porquanto alguns poucos se dizem espíritas, mas ainda não estão convictos da Doutrina por vezes recentemente abraçada e podem titubear ante os argumentos a eles apresentados. Se já aceitamos Jesus em nosso coração, não há porque fazê-lo de novo publicamente, a não ser pelo exemplo que damos mediante nossas atitudes correspondentes.
      Assim sendo, resta-nos dizer: Que o Mestre Jesus abençoe os leitores deste texto e deste blog. 
     Um abraço fraterno a todos. ///

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

77. ORIENTAÇÃO ESPIRITUAL EQUIVOCADA (???)

       P. Diante de uma diversificação tão grande de religiões, propondo doutrinas e cultos tão diferentes, que às vezes se colidem frontalmente, mas todas elas louvando ao mesmo Deus, pregando o mesmo Evangelho e tendo por principal objetivo tornar melhor o homem, como o Espiritismo poderia explicar a suposta ação dos Espíritos mensageiros atuantes nessas  diversas frentes, uma vez que a verdade deve ser única também para os que estão do lado de lá, e, sendo assim, estariam sendo permissivos, contemporizando com todas essas mentiras, ou, senão, com todos esses equívocos, sem nada fazerem efetivamente para tirar desta brutal confusão os cristãos sinceros e guiá-los pelo que enfim eles mesmos consideram o caminho certo?
     
      R. A pergunta é procedente, embora pareça a alguns um tanto impertinente, porquanto os Espíritos garantem que tanto católicos quanto evangélicos, espíritas como umbandistas, budistas como muçulmanos, etc., todos, sem exceção, uma vez praticantes do bem, da caridade, do amor ao próximo, são acolhidos e amparados pelos benfeitores, ao desencarnarem, nada obstante as suas crenças pessoais e os rituais a que se tenham submetido em toda a sua trajetória terrena. 
       De outra parte, todos os líderes religiosos são considerados médiuns, muitos destes verdadeiros missionários, enviados por Deus, ou, melhor dizendo, pela Espiritualidade Superior, e reencarnados no seio de suas respectivas comunidades para fazê-las avançar, sendo assistidos por seus respectivos mentores espirituais durante o cumprimento dessa missão, desde que denotem a condição de espíritos evoluídos e realmente comprometidos com a tarefa que lhes foi confiada.
       Mas por que, então, perguntar-se-á, não vêm eles predispostos a dissipar a presumida ignorância destas comunidades, antes ratificando os seus dogmas e os equívocos de suas crenças, por vezes milenares? Posto que, embora se esqueçam do que sabiam antes de reencarnar, recebam continuadamente da Espiritualidade renovadas orientações, não dariam conta essas orientações dos enganos em que incorrem tais líderes por conta das doutrinas ultrapassadas a que se apegam obstinadamente?
       De fato, desde os tempos mais remotos até aos dias atuais, a Humanidade terrena multiplica suas crenças acerca da Divindade (ou, das divindades) e as formas de cultuá-la(s). E, como há uma transmigração constante dos Espíritos entre os planos visível e invisível do nosso mundo, considerando-se que ao retornar à chamada Erraticidade o Espírito pode ver melhor, e deparar-se-á, então, com a realidade, muitas vezes bem diferente do que a supunha enquanto limitado à materialidade, dadas as limitações impostas pela crença aqui abraçada, é de perguntar-se mesmo se os Instrutores da Humanidade não poderiam intervir diretamente nos núcleos religiosos, pela mediunidade de seus líderes, a fim de esclarecê-los, fazendo-os porta-vozes das mudanças que adviriam positivamente dos novos conceitos. Ao invés disso, constata-se que as grandes lideranças, por mais que se achem imbuídas de boa-vontade, refutam as novas revelações provenientes do Além, isto porque nada lhes é revelado diretamente e se sentem mesmo apoiados em suas convicções pela suposta intervenção do que costumam chamar "o Espírito Santo", ou "o Espírito de Deus".
     Ocorre que a multidão de almas que compõe a Humanidade da Terra é extremamente heterogênea. Há Espíritos, tanto encarnados como desencarnados, em todos os graus de evolução e de entendimento. Segundo alguns autores espirituais, no mundo invisível os Espíritos se reúnem em grupos afins, cultivando, por vezes, exatamente os mesmos ideais que abraçaram durante a última excursão no mundo material. Alguns até guardam conceitos ainda bastantes nebulosos sobre a vida nesses dois estágios diferentes, que os impedem de perceber com clareza a situação em que se encontram, desde que se veem vivos e conscientes fora do corpo físico, como se nele ainda permanecessem.
       Alguns desses Espíritos que aqui exerceram certa liderança continuam a exercê-la da mesma maneira, influenciando seus sucessores deste plano, para que estes se mantenham na linha de raciocínio sustentada por eles quando aqui estiveram em "atividade missionária".
       Por exemplo: Se o fundador de uma organização religiosa foi um anti-reencarnacionista convicto, depois de desencarnado seguirá defendendo esta posição, muito embora tenha-se certificado da continuidade da vida em outra dimensão e mesmo da comunicabilidade entre os chamados mortos (mais vivos do que nunca) e os considerados vivos (menos senhores de si do que imaginam), seja pela técnica da telepatia (transmissão de pensamento mente-a-mente), seja pelas vias mediúnicas propriamente ditas.
       Os Espíritos Superiores, a par disto, não interferem no equívoco, porquanto este faz parte do grau de adiantamento em que se encontram tais companheiros, ligados ainda mais às coisas da matéria, cá de baixo, do que às coisas lá do Alto, da verdadeira espiritualidade.
       Há que se convir que muitos daqueles que fundaram novos segmentos doutrinários, interpretando as letras sagradas a seu bel prazer ou conforme seu próprio entendimento, assim o fizeram movidos mais pelos sentimentos de vaidade, de orgulho, de egoísmo, de ambição ou de presunção, do que por nobreza de alma. Daí por que muitas dessas religiões têm visível caráter comercial e seus pregadores demonstrem, às mais das vezes, um profissionalismo de convencimento a fazer inveja a qualquer comerciante bem sucedido no mundo dos negócios propriamente dito. De volta aos arraiais do Além, não querem perder o que se lhes configura uma conquista pessoal, influenciando seus continuadores para que mantenham acesa a chama da organização que lhes é motivo de orgulho e de que ainda se consideram líderes absolutos, uma vez que podem determinar sobre a mente dos que agora se acham à frente da obra.
       Quanto às revelações que vêm dos Planos Mais Altos e têm invadido a Terra, a despeito de todos os entraves que se lhes tentam impor, são para aqueles que têm ouvidos para ouvir e olhos para ver. Não dependem de uma rotulação religiosa ou filosófica específica. A codificação de uma Doutrina que pudesse reunir todas as informações novas, advindas dos Espíritos mensageiros da Nova Era, só se fez necessária porque as religiões tradicionais as refutaram sistematicamente. A então denominada Doutrina dos Espíritos (ou, Espiritismo) veio cumprir esta missão como uma Filosofia, a que deram o valor de uma nova religião, até hoje combatida por sua clareza e objetividade, dispensando os dogmas e as alegorias a que ainda se prende a maioria.
       Entenda quem puder: O Espiritismo, depois do próprio Cristianismo, a que ele se reporta, é a primeira, senão única, Doutrina (se quiserem, religião) não fundada pelo homem, mas por um exército de Entidades Espirituais voluntárias e atuantes, totalmente desprovidas de quaisquer interesses mundanos. 
       Quem quiser que o pesquise, e constatará esta grande e inegável verdade. ///


domingo, 27 de outubro de 2013

76. UM JEITO DIFERENTE DE VER O CRIADOR

     P. Diferentemente dos católicos e dos evangélicos, os espíritas não acreditam num Deus que faz milagres, que promove a salvação das almas pela Sua graça e que preza pela nossa adoração a Ele com sacrifícios e louvores, não podendo faltar o batismo, como condição primordial (sendo que para alguns segmentos importante mesmo é o batismo com, ou no, ou pelo Espírito Santo). Em não crendo nesse Deus, qual, então, a visão do Criador para os espíritas?

     R. Antes de responder a esta indagação, devo fazer uma observação que considero bastante pertinente: O Cristianismo hoje, notoriamente, não está mais dividido em meia dúzia, ou mesmo em duas ou três dezenas de cultos e linhas filosóficas diferentes, como há algumas décadas ou séculos passados. Lamentavelmente, vê-se hoje o Cristianismo como se fosse uma imensa colcha de retalhos. Já se somam milhares de fachadas e rótulos, defendendo cada qual um ponto de vista singular sobre uma infinidade de questões que envolvem crenças e cultos. Nada obstante, em quase todos esses segmentos, pelo menos os ditos bíblicos, isto é, aqueles que tem por seu livro básico, sagrado, inviolável, insubstituível, a Bíblia, a visão do nosso Criador é mais ou menos a mesma: de um Deus que chama alguns de Seus filhos diletos para o Seu ministério, que escolhe uns poucos para o gozo da salvação, condenando milhares de milhões das suas criaturas aos suplícios infernais eternos, por não andarem conforme os "Seus" critérios, os quais variam de acordo com as determinações de cada uma dessas bandeiras levantadas em o seu santo Nome. É a visão de um Deus que tem na Terra, este pequenino planeta perdido em um canto qualquer do Universo infinito, o Seu modelo único de criatura dotada de inteligência, da razão e do livre-arbítrio; e que dá a esta criatura uma única e breve chance de viver, conviver, agir e reagir, selando para sempre o seu destino, bom ou mau, de felicidade ou de desgraça eterna, sem nenhuma outra oportunidade, depois da morte física, para que possa recuperar-se dos enganos cometidos na curta existência a que fez jus.
     "Confrontemos agora estas concepções com as revelações que nos chegam pelas vozes do Além, na palavra consoladora dos Espíritos mensageiros de Jesus, que vêm nos dar da Divindade Universal uma nova e mais ampla visão, conquanto ainda acanhada, dada a falta de parâmetros adequados com que a possamos traduzir e explicar convenientemente.
     (...) Deus é a grande alma do Universo, de que toda alma humana é uma centelha, uma irradiação. Cada um de nós possui, em estado latente, essa força que emana do divino Foco e pode desenvolvê-la, unindo-se estreitamente à Causa da qual é efeito, mediante a elevação dos pensamentos para Deus, por meio da prece (oração) que brota das profundezas do ser e liga a criatura ao Criador.
     (...) Deus, em sua pura essência, é qual Oceano em chamas. Deus não tem forma, mas pode revestir uma para manifestar-se às almas elevadas. (...) Porém, a Sua majestade é de tal ordem, que os Espíritos mais puros mal Lhe podem suportar o brilho. Têm eles o privilégio, por seu merecimentos, após existências inúmeras de grandes dedicações e renúncias, de contemplar, sem véu, a Divindade Suprema, e declaram que as linguagens humanas são paupérrimas para lhes permitirem um descrição, pálida que seja, desse Foco luminoso, resplandecente.
     (...) Deus tudo vê e tudo conhece, até os mais secretos pensamentos. Assim como o espírito humano está em todo o corpo por ele animado, Deus está em todo o Universo, em relação com todos os elementos da Criação. Seu amor abrange e enlaça todos os seres, dos quais Ele fez, chamando-os à vida, co-artífices da Sua obra eterna. (...) Assim, pois, não há, entre os homens, nem eleitos, nem réprobos. A Humanidade não está dividida em dois grupos: os que se salvam e os que se perdem para sempre. O caminho da salvação (ou da santificação; ou, ainda, da purificação) pelo progresso é franqueado a todos. Todos o percorrem, de estância em estância, de experiência em experiência, de vida em vida, ascendendo para a paz e a felicidade, mediante o aprendizado incessante, a provação necessária e o trabalho renovador. Todas as almas são perfectíveis e deverão chegar, ao fim da longa caminhada, à plenitude do conhecimento, da virtude e da sabedoria. Não são todas igualmente adiantadas ou atrasadas, mas hão de subir todas, cedo ou tarde, as árduas encostas que levam às radiosas eminências da espiritualidade banhadas de eterna luz.
     Eis que o Pensamento divino preside a essa obra tão majestosa quão minuciosa, de que fazemos tenuíssima ideia. 
     (...) As forças e os seres, os mundos e as humanidades, tudo é governado pela Inteligência Suprema. A ordem, a harmonia, a justiça, a liberdade, o amor, tudo repousa em Leis eternas. E não há lei eterna sem uma Razão superior. Esta mesma, que é a fonte de todas as leis que regem o Universo e a vida, é, noutra palavra, a Causa primeira de todas as coisas, a que chamamos, simplificadamente: DEUS". ///

Nota deste autor: Toda a parte deste texto que se encontra entre aspas foi extraída, com algumas alterações feitas por nossa conta e responsabilidade, guardada a essência, do livro "Cristianismo e Espiritismo", de Léon Denis, 6ª.edição, de 1971, publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB), com trechos pinçados das páginas 230 a 234.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

75. POR QUE OS ESPÍRITAS SÃO CONTRA O ABORTO?

     P. Por que razões todo espírita é irredutivelmente contrário à prática do aborto?
    
   R. Primeiro, há que se questionar: como pode alguém dizer-se cristão e ser a favor de um crime premeditado e hediondo contra a vida, ainda mais quando a vítima é uma criancinha totalmente indefesa, que será expulsa com violência do ventre materno, onde deveria estar bem protegida até o momento certo de poder respirar este ar saturado que respiramos todos nós, por graça do nosso Criador e da Natureza presidida por Ele?  Acaso consegue essa criatura dirigir o seu pensamento a Deus e agradecer pela bênção da própria vida, quando é favorável, se não o próprio agente, do cerceio dessa mesma bênção para outra criatura, que teria um corpo exatamente igual ao seu e que estava já em formação de acordo com as leis naturais que regem a existência humana neste planeta?
     Cientistas e estudiosos do assunto afirmam que com apenas quinze dias o coração, órgão que determina a existência da vida em um organismo animal e humano, já bate no feto em desenvolvimento, o que significa, por dedução, que o sangue já está circulando pelos demais órgãos vitais. Portanto já se configura ali uma vida.
     Equipamentos modernos já permitem observar, sem contar as experiências do próprio aborto e a existência de um mercado criminoso que dele resulta, de órgãos, como o cérebro, utilizado na indústria de cosméticos, em países em que a prática está legalizada, que com onze semanas (menos de 3 meses) o corpo já está completamente formado, podendo-se dizer que já se trata de uma criança, em sua fase de desenvolvimento intrauterina.
     Segundo, mesmo não tendo estes conhecimentos científicos, por vezes, os espíritas sabem, pelas informações recebidas do Além, dos Espíritos mensageiros de Jesus e orientadores da Humanidade, que o ser espiritual que vem ao mundo animar um corpo carnal não tem a sua vida começada sequer no momento da concepção desse corpo, mas preexiste a ele e subsistirá à sua perda.
     Entendem os espíritas que, antes de ligar-se ao corpo que logo se irá formar e que lhe dará ensejo a uma nova experiência para a sua evolução individual, o Espírito já passou por outras tantas existências corpóreas, necessitando ainda, depois desta, de muitas outras mais, em sua jornada ascendente para a perfeição e a pureza angelicais a que está fatalmente destinado.
     Interromper este processo natural, que envolve todo um trabalho preparatório, tanto do candidato à reencarnação, quanto das várias Entidades missionárias que o acompanham nessa empresa, nem sempre tão simples quanto possamos imaginar, é ir de encontro com as leis divinas do amor, da liberdade e do progresso, que agem em favor de todos nós, frustrando e comprometendo, quem sabe, uma existência útil e promissora, que talvez viesse a ser o nosso próprio arrimo ou de uma comunidade inteira, cuja falta iremos sentir e pelo que haveremos de prestar contas mais tarde.
     O espírita estudioso e consciente aprende isto e não se esquece nunca mais, tornando-se incapaz de laborar contra os desígnios de Deus, pois sabe que responderá, logo mais, por suas más decisões, mormente aquelas em que já possui franco conhecimento de causa.
     Certamente, há muitas pessoas que se achegam ao Espiritismo, por razões e em circunstâncias variadas, tendo já praticado um ou mais abortos, ou participado direta ou indiretamente da sua execução. Acolhidas e posteriormente instruídas, essas pessoas jamais serão alvos de crítica ou condenação por parte de seus tutores espirituais e dos novos companheiros de ideal religioso. Porque somos todos aprendizes, cheios de imperfeições, cada qual tentando vencer as suas próprias fraquezas e quedas morais de outrora, só temos é que dar as mãos aos que se juntem ao nosso grupo, a fim de nos auxiliarmos mutuamente e crescermos na fé e no conhecimento do bem e da justiça, em favor da paz, que só virá através do amor, conforme nos ensina Jesus, claramente, no Roteiro de luz que nos deixou, o seu Evangelho.
     Aprendemos, por outro lado, que o perdão divino nos é concedido mediante a reparação dos nossos erros. Por isto nos esforçamos na prática da caridade, do verdadeiro amor ao próximo, com ações voluntárias e sentimentos altruístas.
     Tão logo nos vemos devidamente instruídos, somos chamados a cooperar em alguma das diversas frentes de trabalho, todas voltadas para o bem coletivo e desinteressado. Caso não possamos atender a esse chamamento, que ao menos ponhamos em prática nos nossos convívios cotidianos os ensinamentos recebidos, o que já é de grande efeito.
     Quanto a nós mesmos, individualmente, a maior providência que somos induzidos ou incentivados a tomar é a da nossa reforma íntima, pessoal e intransferível, em função da qual faz-se extremamente valioso cada mínimo esforço dispendido. E nela está inserida, sem dúvida, uma profunda reavaliação e consequente valorização da vida.
       Por tudo isto, nós, espíritas brasileiros, somos, sim, irredutíveis, com relação à infeliz ideia de se legalizar a prática do aborto no nosso país. Nos países onde este crime já foi legalizado, os espíritas nem por isto o praticam, pois estão conscientes de que acima das leis humanas está a Lei divina, esta infalível e imutável. ///