domingo, 27 de outubro de 2013

76. UM JEITO DIFERENTE DE VER O CRIADOR

     P. Diferentemente dos católicos e dos evangélicos, os espíritas não acreditam num Deus que faz milagres, que promove a salvação das almas pela Sua graça e que preza pela nossa adoração a Ele com sacrifícios e louvores, não podendo faltar o batismo, como condição primordial (sendo que para alguns segmentos importante mesmo é o batismo com, ou no, ou pelo Espírito Santo). Em não crendo nesse Deus, qual, então, a visão do Criador para os espíritas?

     R. Antes de responder a esta indagação, devo fazer uma observação que considero bastante pertinente: O Cristianismo hoje, notoriamente, não está mais dividido em meia dúzia, ou mesmo em duas ou três dezenas de cultos e linhas filosóficas diferentes, como há algumas décadas ou séculos passados. Lamentavelmente, vê-se hoje o Cristianismo como se fosse uma imensa colcha de retalhos. Já se somam milhares de fachadas e rótulos, defendendo cada qual um ponto de vista singular sobre uma infinidade de questões que envolvem crenças e cultos. Nada obstante, em quase todos esses segmentos, pelo menos os ditos bíblicos, isto é, aqueles que tem por seu livro básico, sagrado, inviolável, insubstituível, a Bíblia, a visão do nosso Criador é mais ou menos a mesma: de um Deus que chama alguns de Seus filhos diletos para o Seu ministério, que escolhe uns poucos para o gozo da salvação, condenando milhares de milhões das suas criaturas aos suplícios infernais eternos, por não andarem conforme os "Seus" critérios, os quais variam de acordo com as determinações de cada uma dessas bandeiras levantadas em o seu santo Nome. É a visão de um Deus que tem na Terra, este pequenino planeta perdido em um canto qualquer do Universo infinito, o Seu modelo único de criatura dotada de inteligência, da razão e do livre-arbítrio; e que dá a esta criatura uma única e breve chance de viver, conviver, agir e reagir, selando para sempre o seu destino, bom ou mau, de felicidade ou de desgraça eterna, sem nenhuma outra oportunidade, depois da morte física, para que possa recuperar-se dos enganos cometidos na curta existência a que fez jus.
     "Confrontemos agora estas concepções com as revelações que nos chegam pelas vozes do Além, na palavra consoladora dos Espíritos mensageiros de Jesus, que vêm nos dar da Divindade Universal uma nova e mais ampla visão, conquanto ainda acanhada, dada a falta de parâmetros adequados com que a possamos traduzir e explicar convenientemente.
     (...) Deus é a grande alma do Universo, de que toda alma humana é uma centelha, uma irradiação. Cada um de nós possui, em estado latente, essa força que emana do divino Foco e pode desenvolvê-la, unindo-se estreitamente à Causa da qual é efeito, mediante a elevação dos pensamentos para Deus, por meio da prece (oração) que brota das profundezas do ser e liga a criatura ao Criador.
     (...) Deus, em sua pura essência, é qual Oceano em chamas. Deus não tem forma, mas pode revestir uma para manifestar-se às almas elevadas. (...) Porém, a Sua majestade é de tal ordem, que os Espíritos mais puros mal Lhe podem suportar o brilho. Têm eles o privilégio, por seu merecimentos, após existências inúmeras de grandes dedicações e renúncias, de contemplar, sem véu, a Divindade Suprema, e declaram que as linguagens humanas são paupérrimas para lhes permitirem um descrição, pálida que seja, desse Foco luminoso, resplandecente.
     (...) Deus tudo vê e tudo conhece, até os mais secretos pensamentos. Assim como o espírito humano está em todo o corpo por ele animado, Deus está em todo o Universo, em relação com todos os elementos da Criação. Seu amor abrange e enlaça todos os seres, dos quais Ele fez, chamando-os à vida, co-artífices da Sua obra eterna. (...) Assim, pois, não há, entre os homens, nem eleitos, nem réprobos. A Humanidade não está dividida em dois grupos: os que se salvam e os que se perdem para sempre. O caminho da salvação (ou da santificação; ou, ainda, da purificação) pelo progresso é franqueado a todos. Todos o percorrem, de estância em estância, de experiência em experiência, de vida em vida, ascendendo para a paz e a felicidade, mediante o aprendizado incessante, a provação necessária e o trabalho renovador. Todas as almas são perfectíveis e deverão chegar, ao fim da longa caminhada, à plenitude do conhecimento, da virtude e da sabedoria. Não são todas igualmente adiantadas ou atrasadas, mas hão de subir todas, cedo ou tarde, as árduas encostas que levam às radiosas eminências da espiritualidade banhadas de eterna luz.
     Eis que o Pensamento divino preside a essa obra tão majestosa quão minuciosa, de que fazemos tenuíssima ideia. 
     (...) As forças e os seres, os mundos e as humanidades, tudo é governado pela Inteligência Suprema. A ordem, a harmonia, a justiça, a liberdade, o amor, tudo repousa em Leis eternas. E não há lei eterna sem uma Razão superior. Esta mesma, que é a fonte de todas as leis que regem o Universo e a vida, é, noutra palavra, a Causa primeira de todas as coisas, a que chamamos, simplificadamente: DEUS". ///

Nota deste autor: Toda a parte deste texto que se encontra entre aspas foi extraída, com algumas alterações feitas por nossa conta e responsabilidade, guardada a essência, do livro "Cristianismo e Espiritismo", de Léon Denis, 6ª.edição, de 1971, publicado pela Federação Espírita Brasileira (FEB), com trechos pinçados das páginas 230 a 234.

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