sábado, 30 de novembro de 2013

83. A GÊNESE: O HOMEM, A MULHER E O PARAÍSO PERDIDO

       P. O que teria Kardec a nos dizer sobre a criação do primeiro homem terreno, Adão, da primeira mulher, Eva, e da perda do paraíso pela desobediência de ambos a uma ordem do Criador?

       R. Allan Kardec segue adiante em suas considerações, ainda no capítulo XII da mesma obra citada no texto anterior, ensejando-nos novas reflexões, agora sobre a gênese do homem e seus primeiros passos sobre a face da Terra, recém formada, segundo Moisés. 
       {"Moisés está mais com a verdade quando disse que Deus formou o homem do limo (pó; barro) da Terra. A palavra hebraica 'haadam', em português: Adão, cujo significado é 'homem' no sentido genérico, tem a mesma raiz de 'haadama': terra. A Ciência nos mostra, com efeito, que o corpo do homem (ser humano) é composto de elementos hauridos na matéria inorgânica da terra (considerando-se a crosta sólida e a parte líquida do Planeta).
       Quanto à mulher ter sido formada a partir de uma costela de Adão é uma alegoria, pueril, se tomada ao pé da letra, mas profunda, no seu sentido oculto. Ela tem por objetivo mostrar que a mulher é da mesma natureza que o homem, sua igual diante de Deus, e não uma criatura à parte. Saída de sua própria carne, a imagem dessa igualdade é bem mais impressionante, do que se fora formada separadamente com o mesmo limo de que ele teria sido gerado. Equivale a dizer ao homem que deve amá-la como uma parte de si mesmo" (item 11).}
       Para falar do paraíso perdido, Kardec utiliza-se dos versículos 9 a 17 do capítulo 2 e versículos 1 a 24 do capítulo 3 da Gênese bíblica. Seguem-se à transcrição destes os seus comentários, dos quais alguns trechos não podem deixar de ser aqui reproduzidos. Antes, porém, gostaria de manifestar minhas "dúvidas" pessoais, que podem ser as mesmas dos leitores deste blog:
       Uma pergunta que sempre se faz, a título de brincadeira, como uma charada, até hoje não respondida ou solucionada satisfatoriamente, é esta: "Quem nasceu primeiro - ou qual se fez primeiro - o ovo ou a galinha"? Ora, a galinha, sabemos, nasce de um ovo; mas para que haja um ovo, é necessário que haja antes uma galinha que o ponha. Isto também vale para todas as espécies de aves, assim como para a maioria dos peixes e répteis, salvo raríssimas exceções. Mas o problema não é só este, pois que ainda existe a figura do macho de cada espécie, cuja interferência é imprescindível para que haja a fecundação desse ovo e dele, então, se origine a cria segundo a sua espécie. No caso dos galináceos, o galo também foi gerado de um ovo, ao qual um outro galo fecundara anteriormente, sem o que a galinha não o chocaria e dele não se geraria o pintinho, como todos nós sabemos e muitos de nós já vimos acontecer.
      Por seu turno, tal como ocorre com o gênero humano, as espécies animais, chamadas mamíferas, geradas no ventre da fêmea, mediante a fecundação promovida pelo macho através da cópula, acarretam-nos outra "dúvida" intrigante: pois que só pode gerar seus filhotes a fêmea que for fecundada por um macho de sua espécie, como nasceu o primeiro macho e a primeira fêmea de cada uma dessas múltiplas espécies que conhecemos? Teriam, o primeiro cão, o primeiro gato, o primeiro cavalo, o primeiro leão, o primeiro elefante, etc..., sido feito por Deus do barro da Terra, como fez com o homem, e de uma costela de cada um deles tiradas a primeira cadela, a primeira gata, a primeira égua, a primeira leoa, a primeira elefanta,etc...? E quanto à ordem divina dada à mulher para que parisse com dor, teria sido extensiva às fêmeas de todas essas espécies, uma vez que é assim que acontece, de acordo com a natureza fisiológica das mesmas, em tudo semelhante à dos seres humanos, independentemente de raças?
       Divagações pessoais à parte, voltemos a Kardec:
     {"Adão é a personificação da Humanidade; sua falta individualiza a fraqueza do homem, em quem predominam os instintos materiais, aos quais não sabe ainda resistir. Está bem reconhecido hoje que a palavra 'haadam' não é um nome próprio, mas significa o homem genericamente, a Humanidade, o que destrói todo o alicerce construído sobre a personalidade de Adão.
      A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da ciência, é o da consciência que o homem iria adquirir do bem e do mal, para o desenvolvimento da sua inteligência, e o do livre-arbítrio, em virtude do qual ele escolhe entre um e outro; marca, pois, o ponto em que a alma do homem deixa de ser  guiada somente pelos instintos, toma posse de sua liberdade e incorre na responsabilidade de seus atos" (item 16).}
       Noutra palavra: é a perda do paraíso, da boa vida, tal como ocorre com a criança, ao atingir certa idade, em que perde a sua inocência e o seu direito a uma vida apenas de brincadeiras e entretenimentos, sem qualquer responsabilidade por si mesma e por seus atos. Nada lhe é cobrado, a não ser que não mexa nisto ou naquilo, porque pode machucar-se, fazer "dodói". Mas ao começar a discernir, passa a responder por suas escolhas, suas decisões. A partir daí, perde certas regalias e lhe são exigidos certos esforços com que antes nem sonhava. Eis, pois, uma das conclusões a que chegamos a respeito da perda do paraíso. Mas não a única, como veremos na sequência, no próximo texto em continuação a este estudo. ///

Nota: Este texto dá continuidade aos anteriores, de nºs. 81 e 82.

82. A GÊNESE: A CRIAÇÃO DO SOL

       P. Segundo a Gênese mosaica, Deus criou primeiro a Terra, depois a luz, posteriormente o Sol. Segundo a Gênese espírita, o que há de certo ou errado nessa cronologia da Criação?

       R. Continuando as nossas reflexões sobre a Criação divina, analisemos agora outro ponto sobre o qual devemos voltar nossa atenção, desapaixonadamente, acompanhando o raciocínio e as informações que nos traz o trecho seguinte, ainda do capítulo XII da Gênese de Kardec:
       {"Um dos pontos que foi o mais criticado na Gênese bíblica foi a criação do Sol depois da luz. Procurou-se explicá-lo, segundo os dados fornecidos pela própria Geologia, dizendo que, nos primeiros tempos de sua formação, a atmosfera terrestre, estando carregada de vapores densos e opacos, não permitia ver o Sol, que desde então era como se não existisse para a Terra. Essa razão seria talvez admissível se nessa época houvesse habitantes para julgar da presença ou ausência do Sol; ora, segundo o próprio Moisés, não havia ainda senão plantas, que, todavia, não puderam crescer e se multiplicar sem a ação do calor solar.
       Há, pois, um evidente anacronismo na ordem que Moisés assinala da criação do Sol. Mas, involuntariamente ou não, não errou dizendo que a luz precedeu ao Sol.
       O Sol não é o princípio da luz universal, mas uma concentração de elementos luminosos sobre um ponto; dito de outro modo, do fluido que, em dadas circunstâncias, adquire as propriedades luminosas. Esse fluido, que é a causa, deveria necessariamente preceder o Sol, que não é senão um efeito. Podemos dizer que o Sol é a causa da luz que ele esparge, mas é ele próprio um efeito em relação à luz que recebeu.
       (...) O erro vem da ideia falsa, que se teve por muito tempo, de que o Universo começou com a Terra. (...) Sabe-se agora que, antes do nosso Sol e da nossa Terra, milhões e milhões de sóis (estrelas) e de terras (planetas) já existiam, e que gozavam, consequentemente, da luz do Universo.
       A assertiva de Moisés é, pois, perfeitamente exata em princípio; ela é falsa no que se refere à criação da Terra antes do Sol; estando a Terra submetida ao Sol em seu movimento de translação, é de se entender que ela deve ter sido formada depois dele; era o que Moisés não podia saber, uma vez que ignorava a lei da gravitação (item 8).
       Moisés partilhava as mais primitivas crenças sobre a cosmogonia e, como os homens de seu tempo, acreditava na solidez da abóboda celeste e em reservatórios superiores para as águas, como expressa, sem alegoria nem ambiguidade, nesta passagem (v. 6 e 7): 'Deus disse: Que o firmamento seja feito no meio das águas, e que separe ele as águas das águas. E Deus fez o firmamento e ele separou as águas que estavam debaixo do firmamento das águas que estavam sobre o firmamento'.
       (...) Para se compreender certas partes da Gênese, é necessário colocar-se no ponto de vista das ideias cosmogônicas do seu tempo, do qual ela é o reflexo (item 9).
       Depois dos progressos da Física e da Astronomia, semelhante doutrina não é mais sustentável. Entretanto, Moisés empresta essas palavras ao próprio Deus. Ora, uma vez que exprimem um fato notoriamente falso, de duas coisas uma: ou Deus enganou-se no relato que fez de Sua obra, ou esse relato não foi uma revelação divina, como se supõe. Não sendo admissível a primeira hipótese, disso se conclui, necessariamente, que Moisés expressou as suas próprias ideias " (item 10).}
       Temos aqui mais um aspecto para o qual as doutrinas que combatem o Espiritismo fecham os olhos, negando-se a usar da razão. Recusam-se a admitir a origem ou, no mínimo, a interferência humana sobre boa parte das Escrituras sagradas dos Hebreus, às quais insistem em considerar, de modo absoluto e irrefutável, como a "Palavra de Deus". E quando o Espiritismo não as acompanha nesta consideração, alardeiam tratar-se de doutrina de demônios, a serviço de Satanás, para desencaminhar os homens. Tal prerrogativa é extensiva à própria Ciência, sempre que esta se preste a desmistificar certos conceitos bíblicos a que se agarram dogmaticamente. ///

Nota: Este texto é uma continuação do estudo iniciado no texto precedente, de nº. 81.

81. A GÊNESE: OS SEIS DIAS DA CRIAÇÃO

       P. A Gênese ( ou: Gênesis), primeiro livro da Bíblia, escrito por Moisés, diz que Deus criou o Mundo em seis dias. O Espiritismo discorda deste número? Com que argumentos?

       R. No capítulo XII do livro "A Gênese, Os Milagres e as Predições", de Allan Kardec, o codificador do Espiritismo transcreve da Gênese mosaica, inicialmente, os versos de 1 a 32 do primeiro capítulo e de 1 a 7 do capítulo 2, para partir destes os seus comentários pessoais. Esta parte trata da criação da Terra e dos seres que a habitam desde o princípio.
       Kardec já havia desenvolvido nos capítulos precedentes as várias teorias e dados científicos sobre a origem e a constituição do Universo, relativos à parte material, e as informações fornecidas pelo Espiritismo em relação à parte espiritual.
       Vejamos o que nos diz ele agora, já no capítulo em pauta:
       {"Sobre alguns pontos, certamente, há uma concordância notável entre a Gênese de Moisés e a doutrina científica; mas seria um erro crer-se que basta substituir os seis dias da criação, de vinte e quatro horas cada dia, por seis períodos geológicos, indeterminados, para se encontrar uma analogia completa. (...) Note-se, aliás, que o número de seis períodos geológicos é arbitrário, uma vez que se contam mais de vinte e cinco formações bem caracterizadas. Este número não marca senão as grandes fases gerais; não foi adotado no princípio, senão para encaixar o quanto possível no texto bíblico e em uma época pouco distante em que se acreditava que se deveria controlar a Ciência pela Bíblia. Foi por isto que os autores da maior parte das teorias cosmogônicas, com o objetivo de se fazerem aceitos mais facilmente, se esforçaram por se colocarem de acordo com o texto sagrado. A partir do momento em que a Ciência está apoiada sobre o método experimental, ela se fortalece e se emancipa; hoje, é a Bíblia que se faz controlada pela Ciência.
       Por outro lado, a geologia, não tomando seu ponto de partida senão pela formação dos terrenos graníticos, não compreende no número de seus períodos o estado primitivo da Terra. Também não se ocupa ela do Sol, da Lua e das estrelas, nem do conjunto do Universo, que pertencem à astronomia. Para se entrar no quadro da Gênese, convém, pois, acrescentar um primeiro período abarcando essa ordem de fenômenos, ao qual se poderia chamar período astronômico" - (itens 3 e 4).}
       A seguir Kardec insere em seu livro um quadro comparativo, no qual se resumem os fenômenos característicos dos seis períodos estabelecidos pela Ciência, em confronto com a descrição bíblica dos acontecimentos que marcam cada um dos seis dias da criação.
       {"Um primeiro fato que ressalta desse quadro comparativo é que a obra de cada um dos seis dias não corresponde, rigorosamente, a cada um dos seis períodos geológicos. A concordância mais notável é a da sucessão dos seres orgânicos, que é aproximadamente a mesma, e na aparição do homem por último; ora, está aí um fato importante - (item 6). 
       (...) Quando Moisés disse que a criação foi feita em seis dias, quis ele falar do dia de vinte e quatro horas ou bem compreendeu essa palavra no sentido de período, tempo de duração? A primeira hipótese é a mais provável, se se leva em conta o próprio texto; primeiro porque tal é o sentido próprio da palavra hebraica "iôm" traduzida por dia; depois a especificação da tarde e da manhã, que dá lugar a se supor que ele quis falar de seis dias comuns, de vinte e quatro horas. Não se pode mesmo conceber nenhuma dúvida disso, quando ele diz (v. 5): 'Ele deu à luz o nome de dia e às trevas o nome de noite; e da tarde e da manhã se fez o primeiro dia'. E o sentido é ainda mais preciso quando disse (v. 17), falando do Sol, da Lua e das estrelas: 'Ele colocou no firmamento do céu para brilharem sobre a Terra; para presidir ao dia e à noite, e para separar a luz das trevas: e da tarde e da manhã se fez o quarto dia'.
     Aliás, na criação, tudo é miraculoso, e desde que se entrou na via dos milagres, pode-se perfeitamente crer que a Terra foi feita em seis rápidos períodos de vinte e quatro horas. Sobretudo quando se ignoram as primeiras leis naturais. Essa crença foi partilhada por todos os povos civilizados da antiguidade, até o momento em que a Geologia chegou, documentos na mão, demonstrando-lhe a impossibilidade" - (item 7)}
       Aqui temos já um material importante para uma profunda reflexão. Juntemo-lo aos demais subsequentes e teremos uma valiosa oportunidade de estudo sério, que é, afinal, a grande proposta deste blog. ///


domingo, 10 de novembro de 2013

80. ESPIRITISMO X APOMETRIA

      P. Por que os centros espíritas filiados às Federações brasileira e estaduais não adotam a técnica da apometria nos tratamentos de desobsessão?

      R. No texto de número 30, publicado em março de 2013, sob o título APOMETRIA NOS CENTROS ESPÍRITAS, fiz um breve comentário sobre este tema. O livro citado nesse texto, "Apometria - A Nova Ciência da Alma" de J. S. Godinho, que guardo em minhas mãos, transmitiu-me uma ideia bastante positiva sobre essa técnica, especialmente no que tange ao modo de praticá-la, a maneira como se devem conduzir, muito disciplinadamente, os médiuns chamados a esse trabalho.
      Além da leitura desse livro, recebi informações por parte de um companheiro que participou durante algum tempo das atividades apométricas, dando conta da existência de grupos que agem de maneiras diferentes. Aí é que está o perigo, como se diz. Uns praticam a técnica sem se desviarem do princípio doutrinário da caridade, tratando os Espíritos obsessores com o mesmo respeito, cuidado, compreensão, mansuetude e amor observado nos centros espíritas (kardecistas). Inclusive fazem estudos das obras básicas, a fim de não se desviarem dos propósitos da Doutrina. Apenas o método usado na desobsessão inclui esta nova técnica. Outros, porém, utilizam-se de métodos mais rígidos, menos suaves, sem aquela tolerância recomendada aos doutrinadores para com os irmãos infelizes da espiritualidade, que devem ser orientados e não massacrados, entre outras coisas relativas à prática libertadora.
      Eu mesmo não entendia porque os Centros Espíritas, em sua maioria, além de não adotarem a nova técnica, guardam certo distanciamento em relação aos que a praticam.
      Recentemente chegou-me às mãos uma edição da revista "O Espírita" (ano XXXIV - nº. 139 - set./dezembro 2012), onde, às páginas 16 e 17, "DIVALDO AFIRMA: APOMETRIA NÃO É ESPIRITISMO, artigo transcrito do programa Presença Espírita da rádio Boa Nova, Guarulhos-SP, de agosto/2001", do qual passo a transcrever alguns trechos, para a apreciação dos leitores deste blog:

     "Não irei entrar no mérito nem no estudo da apometria, porque não sou apômetra, eu sou espírita, e o que posso dizer é que a apometria, segundo os apômetras, não é Espiritismo. Porquanto as suas práticas estão em total desacordo com as recomendações de "O Livro dos Médiuns".
     (...) Conforme os livros que têm sido publicados, a apometria, segundo a presunção de alguns, é um passo avançado do Movimento Espírita, no qual Allan Kardec estaria ultrapassado [Creio não ser este o caso do livro acima citado]. Tese com a qual, na condição de espírita, eu não concordo em absoluto.
      Na prática e nos métodos de libertação dos obsessores, a violência que ditos métodos apresenta, a mim, pessoalmente, parecem tão chocantes que fazem recordar-me de Talião, que Moisés suavizou com o código legal e que Jesus sublimou através do amor.
      Quando as entidades são rebeldes, os doutrinadores, depois de realizarem uma contagem cabalística ou de fazerem o gestual muito específico, expulsam pela violência esse espírito para o magma da Terra, a substância ainda em ebulição do nosso Planeta. Colocam-no em cápsulas espaciais e disparam para o mundo da erraticidade.
      (...) A Doutrina Espírita centraliza-se no amor e todas essas práticas novas, das mentalizações, das correntes mento-magnéticas, psicotelérgicas, para nós espíritas merecem todo o respeito, mas não têm nada a ver com o Espiritismo.
      (...) Então, se alguém prefere a apometria, divorcie-se do Espiritismo. É um direito! Mas não misture para não confundir. A nossa tarefa é de iluminar, não de eliminar. O Espírito mau, perverso, cruel, é nosso irmão ainda na ignorância.
     (...) E da minha condição de espírita, exercendo a mediunidade há mais de 54 anos, os resultados têm sido todos colhidos da árvore do amor e da caridade. Assim, não entrarei no mérito dos métodos, que são bastante chocantes para a nossa mentalidade espírita, que não admite ritual, gestual, gritaria, nem determinados comportamentos, porque a única força é aquela que vem de dentro. Para esta classe de espíritos são necessários jejum e oração".

      Fica aqui, pois, embora resumidamente, o ponto de vista de um dos maiores expoentes do Espiritismo no Brasil, atualmente, Divaldo Pereira Franco, que invoca em apoio à sua opinião o não menos prestigiado e conhecido médium Chico Xavier (com toda a sua obra de mais de 400 títulos), além das notáveis Ivone do Amaral Pereira e Zilda Gama, respeitabilíssimas no meio espírita, em seu artigo, para a nossa reflexão e estudo. ///
     

sábado, 9 de novembro de 2013

79. CREIAM TODOS: EU - O DIABO - NÃO EXISTO (!!!)

      P. Se não é o Diabo que desencaminha as pessoas e que as submete aos sofrimentos, à dor, às derrotas, à desarmonia no lar, aos vícios e a toda sorte de perturbações, então a quem os espíritas doutrinam nas sessões de desobsessão?

      R. Esta pergunta me foi feita outro dia por uma pessoa muito querida, de minhas relações familiares, certamente ironizando sobre as colocações que fiz em meu comentário, numa rede social, dizendo que o Diabo, na verdade, é apenas uma figura alegórica, criada para representar a nossa própria ignorância espiritual, nossa imperfeição moral, desencadeadora de todos os nossos vícios e desmandos, durante a nossa jornada evolutiva.
      Não foi de uma pessoa somente que já ouvi ou li a seguinte afirmação: "Uma das maiores estratégias usadas pelo diabo e seus anjos é a de procurar fazer com que os homens não acreditem que eles existam".
      Fico imaginando esta prática do Diabo, através dos seus anjos (no caso, os demônios), colocando na mente das pessoas, por intuição, por sugestão mental, e até por palavras ditas ou escritas, mediunicamente, a certeza de que eles não existem. Ora, dá até para pensar que isto seja mesmo possível. Segundo um conceituado escritor e pregador evangélico, esta é uma estratégia usada pelo Diabo para facilitar as influência demoníaca sobre os incautos, pois não acreditando na existência dele, Satanás, tudo o que lhe seja dito por este, ou pelo demônio travestido de anjo de luz que o esteja representando, será tomado à conta de orientação dada por um bom espírito, e, assim, ele pode manipular essas pessoas induzindo-as ao erro e subjugando-as pela vida afora.
      No entanto, analisando segundo a minha própria experiência e os estudos de que participo há mais de meio século de vivência espírita: é muito pouco inteligente esse tal Diabo, ou o demônio que fala em seu nome, quando diz que ele, o Diabo, não existe de verdade, mas que é o símbolo personificador do nosso egoísmo, do nosso orgulho, da nossa soberba, da nossa inveja, da nossa ambição, da nossa vaidade, do nosso ciúme, do nosso desejo de vingança, da nossa maledicência, enfim, dos nossos vícios e mazelas morais. E quando nos recomenda dar combate a tais sentimentos inferiores e vícios, incessante e perseveradamente.
       Nada inteligente é o Diabo, quando nos orienta a pedir a Jesus, a quem afirma ser o Espírito mais puro dentre todos os que Deus, o nosso Criador, enviou à Terra para instruir os homens, que nos ajude a vencer as nossas fraquezas e sobrepujar das nossas más tendências. Aliás, o Diabo tem-se ocupado demais em recomendar-nos agir somente no bem e a orar constantemente para Jesus, a quem chama de Mestre, de Guia, de Modelo para o homem e de Médico das almas. Exorta-nos a orar em favor dos que sofrem, dos aflitos, dos que passam por provações, fazendo-o com fé e confiança, especialmente na Justiça e no Amor de Deus, que, diz ele, a todos ama e a nenhum de seus filhos desampara.
      Interessante que, não bastasse a burrice do demônio em induzir-nos à prática do bem, do amor ao próximo, e ao combate das nossas próprias imperfeições morais, o que já é um tremendo contra-senso, um tiro dado no próprio pé, um serviço contra os próprios interesses, ele ainda nos alerta sobre a presença e o assédio de Espíritos inferiores, de índole má e vingativa, ou, simplesmente sofredores, que, quando não cultivamos pensamentos e sentimentos saudáveis, positivos, fraternos, por afinidade, dado o teor das nossas vibrações mentais e das nossas ações, se unem a nós e nos envolvem, tornando-nos ainda mais perturbados ou exacerbando os nossos maus pendores.
      Ora, quanto a isso, diz o demônio, não se trata de nenhum anjo do diabo, mas de um Espírito perturbado, preso a sentimentos rasteiros, a mágoas do passado, pois aqui viveram como nós mesmos, e que se aproxima daquela pessoa desatenta por encontrar nela uma ressonância vibratória, causando-lhe então prejuízo de variada ordem, conforme o grau de correspondência desta com as suas sugestões infelizes.
      Para manter-se imune a uma tal influência nociva, diz o demônio, é preciso que a criatura mantenha-se conectada com Deus, através da prece, dos bons pensamentos, de atitudes dignas, de uma conduta moral elevada, do serviço útil e, sobretudo, da prática contínua da caridade conforme o Cristo nos ensinou no seu Evangelho de luz e de amor.
      É esta, então, a estratégia do Diabo e dos seus anjos para enganar os homens?
     Se é (pois que é assim que os Espíritos nos ensinam), que me desculpem os amigos evangélicos, aqueles que creem nessa fábula diabolística, do mesmo modo que as criancinhas, até uma certa idade, creem que os bichos também falam, quando lhes contam historinhas infantis que dão vozes a eles, mas é a estratégia mais burra e ineficaz que se pode conceber de um ser que se diz astuto e voraz. Ao tomá-la por verdadeira, há que se convir que o Diabo trabalha contra ele mesmo e, assim sendo, o seu reino não pode subsistir, como asseverou Jesus em certa passagem da sua história.
     Por favor, pensem nisto, antes de ficarem dizendo e repetindo coisa tão desconexa e despropositada quanto esta, a de que o Diabo usa tal estratégia para melhor poder enganar e seduzir o homem. ///

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

78. A SALVAÇÃO POR MEIO DE JESUS-CRISTO

      P. Para os cristãos em geral, Jesus é o Senhor e o Salvador dos homens. E para os espíritas, que também se declaram cristãos, mas têm uma doutrina diferenciada dos demais, Quem ou o Que é Jesus? E a nossa salvação, por que meios pode ser alcançada, se não somente pelo Senhor Jesus? O que dizem os espíritas a respeito disso?

      R. Os cristãos de quase todas as marcas, quero dizer: de quase todas as denominações, descendentes do Protestantismo luterano, e, mais distante um pouco, do Catolicismo romano, ambos inclusos, têm em Jesus-Cristo, o Filho de Deus, a figura do Salvador da Humanidade. Entendem que é preciso, para ser salvo, que o homem primeiramente O aceite como único e suficiente salvador pessoal; depois, que seja batizado em seu santo Nome; e, por fim, que siga algumas regras, variáveis de acordo com cada Igreja. Enfatizam que, segundo a Bíblia, "Jesus é o caminho, a verdade e a vida", e, ainda, que ninguém vai ao Pai (Deus), senão por Seu intermédio. Estranhamente, para a grande maioria dessas Igrejas, Jesus é o próprio Deus. As exceções são poucas, entre as quais se acha a organização denominada "Testemunhas de Jeová", que assevera ser Jesus o Filho e não o Pai, a Quem obedeceu fielmente em toda a sua missão na Terra.
      Nós, espíritas, frequentemente somos assediados por parentes, amigos, colegas de trabalho, companheiros de profissão, e até mesmo por pessoas que conhecemos casualmente, principalmente os que são evangélicos, ou testemunhas de Jeová, com raríssimas exceções, todos eles preocupados em arrebatar-nos da condenação eterna e empenhados em convencer-nos da necessária aceitação de Jesus-Cristo para a nossa salvação.
       Ora, porque cremos em coisas que eles não creem, como a reencarnação, ou pluralidade existencial da alma em épocas, locais, situações e corpos diferentes, com vistas ao progresso espiritual de cada indivíduo, criado para a eternidade e objetivando a sua angelitude ou pureza total; a continuidade consciente da vida pós-morte e, consequentemente, a existência incorpórea dos Espíritos e a sua comunicabilidade com o mundo físico, material, ao qual pertencemos momentânea e temporariamente; além de outras peculiaridades de nossa crença, essas pessoas acham que não estamos com Jesus, que não cremos n'Ele, que não somos seus seguidores, que não O aceitamos como nosso Guia, Mestre e Salvador.
      Equivocam-se. Para nós, espíritas, Jesus - o Cristo, é, sim, sem a menor possibilidade de erro ou de dúvida, o Mestre, o Guia, o Modelo, o Caminho, a Verdade e a Vida.
      O que há de diferente no nosso modo de ver e de pensar é que, em vez da simples aceitação do seu Nome como Salvador de nossas almas, entendemos ser absolutamente necessário aceitar e pôr em prática, no nosso dia-a-dia, os Seus ensinamentos. Sem isto, que para nós equivale a cultuá-lo interiormente (ou: a adorar a Deus em espírito e verdade), isto é, na nossa intimidade mental, acreditamos ser totalmente em vão qualquer expressão exterior de exaltação e louvor à sua Personalidade divina.
      Estudamos, cotidianamente, nos Centros Espíritas e através da vastíssima literatura espírita franqueada a todos os interessados, esses ensinamentos maravilhosos, repetidos e explicados, à luz da razão, em mensagens e explanações criteriosas e muito edificantes. As palestras públicas, que antecedem às sessões de fluidoterapia (passes com imposição de mãos), versam sempre sobre algum aspecto do Evangelho de Jesus, objetivando contribuir para a nossa reforma ou solidificação moral, com ênfase à caridade cristã, que se consagra no amor ao próximo e na vivência do conceito áureo do Cristianismo: "Fazei aos homens o que quereis que os homens vos façam", dito também de outra forma: "Não façais aos outros o que não gostaríeis que os outros vos fizessem".
      Jesus é, pois, a figura central das nossas atenções, porquanto consideramos a sua Palavra (não o seu sangue fisiológico - como é ensinado em alguns templos), uma vez efetivamente praticada, como o verdadeiro móvel da nossa salvação; melhor dizendo: do nosso aperfeiçoamento moral, da nossa depuração espiritual, da nossa felicidade vindoura e da nossa paz interior já no presente.
      Nossas preces (orações) são elevadas sempre a Jesus, ainda que seja pedindo-Lhe a permissão para que os Bons Espíritos, Seus colaboradores e benfeitores da Humanidade terrena, que está desde o princípio sob a Sua tutela, nos amparem, fortaleçam e orientem. E é ao mesmo Amigo Jesus que sempre agradecemos por todas as bênçãos e ensinamentos recebidos. 
      Que fique, pois, devidamente esclarecido o porquê de raramente um espírita atender ao convite de um companheiro bem intencionado para que vá à sua Igreja e aceite Jesus perante o altar e os seus irmãos de crença. Digo "raramente", porquanto alguns poucos se dizem espíritas, mas ainda não estão convictos da Doutrina por vezes recentemente abraçada e podem titubear ante os argumentos a eles apresentados. Se já aceitamos Jesus em nosso coração, não há porque fazê-lo de novo publicamente, a não ser pelo exemplo que damos mediante nossas atitudes correspondentes.
      Assim sendo, resta-nos dizer: Que o Mestre Jesus abençoe os leitores deste texto e deste blog. 
     Um abraço fraterno a todos. ///