sábado, 30 de novembro de 2013

82. A GÊNESE: A CRIAÇÃO DO SOL

       P. Segundo a Gênese mosaica, Deus criou primeiro a Terra, depois a luz, posteriormente o Sol. Segundo a Gênese espírita, o que há de certo ou errado nessa cronologia da Criação?

       R. Continuando as nossas reflexões sobre a Criação divina, analisemos agora outro ponto sobre o qual devemos voltar nossa atenção, desapaixonadamente, acompanhando o raciocínio e as informações que nos traz o trecho seguinte, ainda do capítulo XII da Gênese de Kardec:
       {"Um dos pontos que foi o mais criticado na Gênese bíblica foi a criação do Sol depois da luz. Procurou-se explicá-lo, segundo os dados fornecidos pela própria Geologia, dizendo que, nos primeiros tempos de sua formação, a atmosfera terrestre, estando carregada de vapores densos e opacos, não permitia ver o Sol, que desde então era como se não existisse para a Terra. Essa razão seria talvez admissível se nessa época houvesse habitantes para julgar da presença ou ausência do Sol; ora, segundo o próprio Moisés, não havia ainda senão plantas, que, todavia, não puderam crescer e se multiplicar sem a ação do calor solar.
       Há, pois, um evidente anacronismo na ordem que Moisés assinala da criação do Sol. Mas, involuntariamente ou não, não errou dizendo que a luz precedeu ao Sol.
       O Sol não é o princípio da luz universal, mas uma concentração de elementos luminosos sobre um ponto; dito de outro modo, do fluido que, em dadas circunstâncias, adquire as propriedades luminosas. Esse fluido, que é a causa, deveria necessariamente preceder o Sol, que não é senão um efeito. Podemos dizer que o Sol é a causa da luz que ele esparge, mas é ele próprio um efeito em relação à luz que recebeu.
       (...) O erro vem da ideia falsa, que se teve por muito tempo, de que o Universo começou com a Terra. (...) Sabe-se agora que, antes do nosso Sol e da nossa Terra, milhões e milhões de sóis (estrelas) e de terras (planetas) já existiam, e que gozavam, consequentemente, da luz do Universo.
       A assertiva de Moisés é, pois, perfeitamente exata em princípio; ela é falsa no que se refere à criação da Terra antes do Sol; estando a Terra submetida ao Sol em seu movimento de translação, é de se entender que ela deve ter sido formada depois dele; era o que Moisés não podia saber, uma vez que ignorava a lei da gravitação (item 8).
       Moisés partilhava as mais primitivas crenças sobre a cosmogonia e, como os homens de seu tempo, acreditava na solidez da abóboda celeste e em reservatórios superiores para as águas, como expressa, sem alegoria nem ambiguidade, nesta passagem (v. 6 e 7): 'Deus disse: Que o firmamento seja feito no meio das águas, e que separe ele as águas das águas. E Deus fez o firmamento e ele separou as águas que estavam debaixo do firmamento das águas que estavam sobre o firmamento'.
       (...) Para se compreender certas partes da Gênese, é necessário colocar-se no ponto de vista das ideias cosmogônicas do seu tempo, do qual ela é o reflexo (item 9).
       Depois dos progressos da Física e da Astronomia, semelhante doutrina não é mais sustentável. Entretanto, Moisés empresta essas palavras ao próprio Deus. Ora, uma vez que exprimem um fato notoriamente falso, de duas coisas uma: ou Deus enganou-se no relato que fez de Sua obra, ou esse relato não foi uma revelação divina, como se supõe. Não sendo admissível a primeira hipótese, disso se conclui, necessariamente, que Moisés expressou as suas próprias ideias " (item 10).}
       Temos aqui mais um aspecto para o qual as doutrinas que combatem o Espiritismo fecham os olhos, negando-se a usar da razão. Recusam-se a admitir a origem ou, no mínimo, a interferência humana sobre boa parte das Escrituras sagradas dos Hebreus, às quais insistem em considerar, de modo absoluto e irrefutável, como a "Palavra de Deus". E quando o Espiritismo não as acompanha nesta consideração, alardeiam tratar-se de doutrina de demônios, a serviço de Satanás, para desencaminhar os homens. Tal prerrogativa é extensiva à própria Ciência, sempre que esta se preste a desmistificar certos conceitos bíblicos a que se agarram dogmaticamente. ///

Nota: Este texto é uma continuação do estudo iniciado no texto precedente, de nº. 81.

Nenhum comentário:

Postar um comentário