sábado, 30 de novembro de 2013

83. A GÊNESE: O HOMEM, A MULHER E O PARAÍSO PERDIDO

       P. O que teria Kardec a nos dizer sobre a criação do primeiro homem terreno, Adão, da primeira mulher, Eva, e da perda do paraíso pela desobediência de ambos a uma ordem do Criador?

       R. Allan Kardec segue adiante em suas considerações, ainda no capítulo XII da mesma obra citada no texto anterior, ensejando-nos novas reflexões, agora sobre a gênese do homem e seus primeiros passos sobre a face da Terra, recém formada, segundo Moisés. 
       {"Moisés está mais com a verdade quando disse que Deus formou o homem do limo (pó; barro) da Terra. A palavra hebraica 'haadam', em português: Adão, cujo significado é 'homem' no sentido genérico, tem a mesma raiz de 'haadama': terra. A Ciência nos mostra, com efeito, que o corpo do homem (ser humano) é composto de elementos hauridos na matéria inorgânica da terra (considerando-se a crosta sólida e a parte líquida do Planeta).
       Quanto à mulher ter sido formada a partir de uma costela de Adão é uma alegoria, pueril, se tomada ao pé da letra, mas profunda, no seu sentido oculto. Ela tem por objetivo mostrar que a mulher é da mesma natureza que o homem, sua igual diante de Deus, e não uma criatura à parte. Saída de sua própria carne, a imagem dessa igualdade é bem mais impressionante, do que se fora formada separadamente com o mesmo limo de que ele teria sido gerado. Equivale a dizer ao homem que deve amá-la como uma parte de si mesmo" (item 11).}
       Para falar do paraíso perdido, Kardec utiliza-se dos versículos 9 a 17 do capítulo 2 e versículos 1 a 24 do capítulo 3 da Gênese bíblica. Seguem-se à transcrição destes os seus comentários, dos quais alguns trechos não podem deixar de ser aqui reproduzidos. Antes, porém, gostaria de manifestar minhas "dúvidas" pessoais, que podem ser as mesmas dos leitores deste blog:
       Uma pergunta que sempre se faz, a título de brincadeira, como uma charada, até hoje não respondida ou solucionada satisfatoriamente, é esta: "Quem nasceu primeiro - ou qual se fez primeiro - o ovo ou a galinha"? Ora, a galinha, sabemos, nasce de um ovo; mas para que haja um ovo, é necessário que haja antes uma galinha que o ponha. Isto também vale para todas as espécies de aves, assim como para a maioria dos peixes e répteis, salvo raríssimas exceções. Mas o problema não é só este, pois que ainda existe a figura do macho de cada espécie, cuja interferência é imprescindível para que haja a fecundação desse ovo e dele, então, se origine a cria segundo a sua espécie. No caso dos galináceos, o galo também foi gerado de um ovo, ao qual um outro galo fecundara anteriormente, sem o que a galinha não o chocaria e dele não se geraria o pintinho, como todos nós sabemos e muitos de nós já vimos acontecer.
      Por seu turno, tal como ocorre com o gênero humano, as espécies animais, chamadas mamíferas, geradas no ventre da fêmea, mediante a fecundação promovida pelo macho através da cópula, acarretam-nos outra "dúvida" intrigante: pois que só pode gerar seus filhotes a fêmea que for fecundada por um macho de sua espécie, como nasceu o primeiro macho e a primeira fêmea de cada uma dessas múltiplas espécies que conhecemos? Teriam, o primeiro cão, o primeiro gato, o primeiro cavalo, o primeiro leão, o primeiro elefante, etc..., sido feito por Deus do barro da Terra, como fez com o homem, e de uma costela de cada um deles tiradas a primeira cadela, a primeira gata, a primeira égua, a primeira leoa, a primeira elefanta,etc...? E quanto à ordem divina dada à mulher para que parisse com dor, teria sido extensiva às fêmeas de todas essas espécies, uma vez que é assim que acontece, de acordo com a natureza fisiológica das mesmas, em tudo semelhante à dos seres humanos, independentemente de raças?
       Divagações pessoais à parte, voltemos a Kardec:
     {"Adão é a personificação da Humanidade; sua falta individualiza a fraqueza do homem, em quem predominam os instintos materiais, aos quais não sabe ainda resistir. Está bem reconhecido hoje que a palavra 'haadam' não é um nome próprio, mas significa o homem genericamente, a Humanidade, o que destrói todo o alicerce construído sobre a personalidade de Adão.
      A árvore, como árvore da vida, é o emblema da vida espiritual; como árvore da ciência, é o da consciência que o homem iria adquirir do bem e do mal, para o desenvolvimento da sua inteligência, e o do livre-arbítrio, em virtude do qual ele escolhe entre um e outro; marca, pois, o ponto em que a alma do homem deixa de ser  guiada somente pelos instintos, toma posse de sua liberdade e incorre na responsabilidade de seus atos" (item 16).}
       Noutra palavra: é a perda do paraíso, da boa vida, tal como ocorre com a criança, ao atingir certa idade, em que perde a sua inocência e o seu direito a uma vida apenas de brincadeiras e entretenimentos, sem qualquer responsabilidade por si mesma e por seus atos. Nada lhe é cobrado, a não ser que não mexa nisto ou naquilo, porque pode machucar-se, fazer "dodói". Mas ao começar a discernir, passa a responder por suas escolhas, suas decisões. A partir daí, perde certas regalias e lhe são exigidos certos esforços com que antes nem sonhava. Eis, pois, uma das conclusões a que chegamos a respeito da perda do paraíso. Mas não a única, como veremos na sequência, no próximo texto em continuação a este estudo. ///

Nota: Este texto dá continuidade aos anteriores, de nºs. 81 e 82.

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