domingo, 1 de dezembro de 2013

84. A GÊNESE: O PECADO ORIGINAL

       P. O que tem o Espiritismo a dizer sobre o pecado original, que fez com que Adão e Eva fossem expulsos do Paraíso?

       R. Ainda no capítulo XII de "A GÊNESE SEGUNDO O ESPIRITISMO", Allan Kardec tece em torno dessa questão crucial da Gênese bíblica as seguintes considerações:
       {"O fruto da árvore (aquele que Deus proibiu que o homem dele comesse) representa o objeto dos desejos materiais do homem e a simbologia da cobiça e da concupiscência; resume, sob a mesma figura, os motivos de arrastamento ao mal; comer desse fruto é sucumbir à tentação. Ele está no meio do jardim das delícias para mostrar que a sedução está no próprio seio dos prazeres, e lembrar que, se o homem dá preferência aos gozos materiais, prende-se à Terra e afasta-se de sua destinação espiritual.
       A morte, de que o homem é ameaçado, caso transgrida a regra proibitiva que lhe é imposta, é uma advertência das consequências inevitáveis, físicas e morais, a que o arrastará a violação das leis divinas, gravadas por Deus em sua consciência. Fica muito evidente aqui que não se trata da morte corpórea, uma vez que depois de sua falta Adão viveu ainda por muito tempo, e sim da morte espiritual, ou seja, da perda dos bens que resultam da pureza moral, perda da qual a sua expulsão do jardim das delícias é a imagem" (item 16).
       A serpente está longe de passar hoje pelo tipo da astúcia a que a remete o texto mosaico; está, pois, aqui, antes com relação à perfídia dos maus conselhos, que deslizam como uma serpente. Aliás, se a serpente (animal), por ter enganado a mulher, foi condenada (desde então) a rastejar sobre o próprio ventre, isso queria dizer que antes tinha pernas e, então, não poderia ser uma serpente no sentido literal.
       É necessário notar que a palavra hebraica 'nâhâsch' traduzida pela palavra 'serpente' tem antes os significados de 'encantado', 'encantador', 'adivinho', 'fazer encantamentos', 'adivinhar as coisas ocultas'. É com esta acepção que se encontra na Gênese (cap. 64 v. 5 a 15), a propósito da taça que José fez esconder no saco de Benjamin: 'A taça que furtastes é aquela na qual meu senhor bebe, e da qual se serve para adivinhar (nâhâsch).  Ignorais que não há quem me iguale na ciência de adivinhar (nâhâsch)?'  -  No livro de Números (cap. 23 v. 23): 'Não há encantamentos (nâhâsch) em Jacó, nem em Israel'. 
       Por conseguinte, a palavra 'nâhâsch' tomou também o significado de serpente, alusão feita ao réptil de que os encantadores se serviam em seus encantamentos.
       Não foi senão na versão dos Setenta - que, segundo Hutcheson, corromperam o texto hebreu em muitos lugares - escrita no segundo século antes da era cristã, em grego, que a palavra 'nâhâsch' foi traduzida por serpente. As inexatidões dessa versão prendem-se, sem dúvida, às modificações sofridas pela língua hebraica nesse intervalo; porque o hebreu do tempo de Moisés era então uma língua morta, que diferia do hebreu vulgar, tanto quanto o grego antigo e o árabe literário diferem do grego e do árabe modernos.
       É, pois, provável que Moisés entendesse o desejo indiscreto de conhecer as coisas ocultas pelo espírito de adivinhação por sedutor da mulher, o que está de acordo com o sentido primitivo da palavra 'nâhâsch': adivinho. Não se pode esquecer, por outro lado, que Moisés queria proscrever, de entre os Hebreus, a arte de adivinhação, em uso entre os Egípcios, como o prova a sua proibição de interrogarem-se os mortos e o Espírito de Python" (item 17).}
       E assim fechamos mais um breve capítulo do nosso estudo, que terá continuidade ainda por alguns dos próximo textos, ensejando-nos mais uma grande oportunidade de aprofundarmos o raciocínio lógico sobre a mera aceitação da letra confusa, alegórica, dos Escritos ditos sagrados, imposta como verdade dogmática aos crentes da tradicionalidade cristã. ///

Nota: Este texto é continuação dos 3 anteriores, de nºs. 81, 82 e 83. Para acessá-los, clique sobre o mês de novembro, na lista de publicações.

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