quinta-feira, 22 de agosto de 2013

70. O PRIMEIRO LIVRO E O PSEUDÔNIMO DE KARDEC

     P. (Ver textos anteriores nºs. 65 a 69).

     R. "A estas informações, colhidas nas OBRAS PÓSTUMAS de Allan Kardec, convém acrescentar que a princípio o sr. Rivail, longe de ser um entusiasta dessas manifestações e absorvido por outras preocupações particulares, esteve a ponto de as abandonar, o que talvez houvesse feito se não fossem as instantes solicitações dos senhores Carlotti René Taillandier, membro da Academia das Ciências, Tiedeman Manthèse, Sardau, pai e filho, e Didier, editor, que acompanhavam havia cinco anos o estudo desses fenômenos e tinham reunido cinquenta cadernos de comunicações espirituais diversas, que não conseguiam por em ordem. Conhecendo as vastas e raras aptidões do sr. Rivail, esses senhores lhe entregaram em mãos os cadernos, pedindo-lhe que deles tomasse conhecimento e os pusesse em termos, os arranjasse. Este trabalho era árduo e exigia muito tempo, em virtude das lacunas e obscuridades dessas comunicações; e o sábio enciclopedista recusava-se a essa tarefa enfadonha e absorvente, em razão de outros trabalhos.
     Uma noite, o Espírito que se dizia seu protetor, 'Z.', deu-lhe, por um médium, uma comunicação toda pessoal, na qual lhe dizia, entre outras coisas, tê-lo conhecido em uma precedente existência, quando, ao tempo dos druidas, viviam juntos nas Gálias. Ele se chamava, então, Allan Kardec, e, como a amizade que lhe havia votado só fazia aumentar, prometia-lhe esse Espírito secundá-lo na tarefa muito importante a que ele era chamado, e que facilmente levaria a termo.
     O sr. Rivail, só então, lançou-se à obra: tomou os cadernos, anotou-os com cuidado; após atenta leitura, suprimiu as repetições e pôs na respectiva ordem cada ditado, cada relatório de sessão; assinalou as lacunas a preencher, as obscuridades a aclarar, e preparou as perguntas necessárias para chegar a esse resultado.
     Novamente, é o próprio Rivail quem explica:
     - Até então, as sessões em casa do sr. Baudin não tinham nenhum fim determinado. Propus-me, aí, fazer resolver os problemas que me interessavam sob o ponto de vista da Filosofia, da Psicologia e da natureza do mundo invisível. Comparecia a cada sessão com uma série de questões preparadas e metodicamente dispostas, que me eram respondidas com precisão, profundeza e de modo lógico. Desde esse momento as reuniões tiveram caráter muito diferente, e, entre os assistentes, encontravam-se pessoas sérias que tomaram vivo interesse pelo trabalho. A princípio eu não tinha em vista senão a minha própria instrução; mais tarde, quando vi que tudo aquilo formava um conjunto e tomava as proporções de uma doutrina, tive o pensamento de publicar, para instrução de todos. Foram essas mesmas questões que, sucessivamente desenvolvidas e completadas, fizeram a base para O LIVRO DOS ESPÍRITOS.
     Em 1856, o professor Denizard Rivail frequentou reuniões em casa do sr. Roustan, com a presença da médium Mlle. Japhet, consagrando-se, porém, a participar de entrevistas com outros médiuns, aproveitando toda ocasião que se lhe oferecia para propor questões mais graves, mais melindrosas. Com tal disposição e providência, mais de dez médiuns vieram a prestar concurso a esse trabalho. E foi da comparação e da fusão de todas essas respostas, coordenadas, classificadas e muitas vezes refeitas no silêncio da meditação, que ele formou a primeira edição do seu primeiro livro, que veio a público em 18 de abril de 1857.
     No momento de publicá-lo, o autor ficou muito embaraçado em resolver como o assinaria, se com o seu nome, Denizard-Hippolyte-Léon-Rivail, ou com um pseudônimo. Sendo o seu nome muito conhecido no mundo científico, em virtude dos seus trabalhos anteriores, e podendo originar uma confusão, talvez mesmo prejudicar o êxito do empreendimento, ele adotou o alvitre de assinar com o nome de Allan Kardec, que, segundo lhe revelara o guia, tivera ao tempo dos druidas. A obra alcançou tal êxito, que a primeira edição foi logo esgotada. A 2ª. edição foi impressa em 1860, revista, corrigida e consideravelmente ampliada, na forma que permanece até aos dias atuais".
     Concluindo assim, esta abreviada exposição, convido o leitor amigo mais interessado a continuar sua pesquisa sobre a personalidade aqui retratada, seja com a leitura integral desta biografia, que se encontra  inserida no livro O QUE É O ESPIRITISMO -  edição de 2006 da Federação Espírita Brasileira, seja através da leitura de outros trabalhos biográficos, inclusive encontrados na Internet. Com certeza muito se acrescentará ao que aqui conseguiu-se expor. ///
   

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

69. PRIMEIROS ESTUDOS E PRIMEIROS RESULTADOS

       P. (Ver textos anteriores de nºs. 65 a 68 e texto imediato de nº. 70).

     R. Continuando, pois, com a exposição de Allan Kardec, como parte da biografia assinada por Henri Sausse, sobre as suas primeiras incursões na fenomenologia que originou a codificação da Doutrina dos Espíritos, eis o que diz o então professor e cientista Hippolyte Léon Denizard Rivail, sobre os seus primeiros estudos e os primeiros resultados destes:
     " - A ocasião se me ofereceu e pude observar mais atentamente do que até então pudera fazer. Em um dos serões da sra. Painemaison, conheci a família Baudin. O sr. Baudin ofereceu-me sua residência no sentido de assistir às sessões hebdomadárias que nela se efetuavam e às quais passei a frequentar muito assiduamente.
     Foi aí que fiz os meus primeiros estudos sérios em Espiritismo, menos por efeito de revelações do que por observação. Apliquei a essa nova ciência, como até então o tinha feito, o método da experimentação. Nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as consequências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que sempre procedi em meus trabalhos anteriores. Compreendi, desde o princípio, a gravidade da exploração que ia empreender. Entrevi nesses fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controverso do passado e do futuro, a solução do que havia procurado a minha vida inteira; era, em uma palavra, uma completa revolução nas ideias; preciso, portanto, se fazia agir com circunspeção e não levianamente, ser positivista e não idealista, para não me deixar arrastar pelas ilusões.
     Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a sabedoria e nem a ciência soberanas; que o seu saber limitava-se ao seu grau de adiantamento, e que a sua opinião era, antes, pessoal do que universal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns Espíritos.
     Só o fato da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles pudessem dizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente; era já um ponto capital, um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos até então inexplicados, tidos por maravilhosos ou sobrenaturais.
     O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Cedo, observei que cada Espírito, em razão de sua posição e seus conhecimentos pessoais, desvendava-me uma fase desse mundo, exatamente como se chega a conhecer um estado ou um país interrogando os habitantes de todas as classes e condições, regiões, cidades e bairros, podendo cada qual nos ensinar ou informar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, dizer-nos tudo. Cumpre ao observador formar o conjunto, com o auxílio dos documentos recolhidos de diferentes lugares, colecionados, coordenados e confrontados entre si.
     Eu, pois, agi com os Espíritos como o teria feito com os homens: eles foram, para mim, desde o mais até o menos elevado, meios de colher informações e não reveladores predestinados".
     Apenas lembrando ao leitor que acabamos de ler aqui os depoimentos do próprio Allan Kardec inseridos no relato biográfico do sr. Henri Sausse, a cuja palavra retornaremos no próximo seguimento, que será o último desta série de seis textos, que pretendem ser simplesmente uma janela por onde possam, os que assim o desejarem, entrever, observar e conhecer um pouco da personalidade e do trabalho do eminente organizador e codificador da Doutrina dos Espíritos. Com esta oportunidade, quem sabe, muitos poderão modificar suas opiniões acerca do Espiritismo, dada a lisura e a seriedade do seu fundador, se assim o pretendam classificar. Só recordando ainda que ele próprio atribui o verdadeiro mérito da Doutrina aos Espíritos, antes que a si mesmo. ///

68. DÚVIDAS E HESITAÇÕES DE KARDEC

     P. (ver textos anteriores de nºs.65 a 67).
   
     R. Ainda em continuação à resposta da pergunta formulada no texto de nº.65, que nos levou à biografia de Allan Kardec, de que já nos ocupamos também nos textos 66 e 67, eis aqui mais uma parte da qual não poderíamos abrir mão:
     "Foi em 1854 que Denizard Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas girantes, a princípio do sr. Fortier, magnetizador, com o qual mantinha relações, em razão dos seus estudos sobre Magnetismo. O sr. Fortier lhe disse um dia:  - Eis aqui uma coisa que é bem mais extraordinária, que não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar. Interroga-se e ela responde.
     - Isso, replicou o sr. Rivail, é uma outra questão; eu acreditarei quando tiver visto e me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que pode se tornar sonâmbula (nota minha: o sonambulismo aqui é tratado como situação de transe idêntica à do efeito de hipnotismo). Até lá, permita que eu não veja nisso senão uma fábula.
     Tal era o estado de espírito do sr. Rivail, tal o encontraremos muitas vezes, não negando coisa alguma por 'parti pris', mas pedindo provas e querendo ver e observar para crer; assim nos devemos mostrar sempre no estudo tão atraente das manifestações do Além.
     Até aqui falamos do sr. Denizard Rivail, professor emérito e autor pedagógico de renome. No entanto, nessa época da sua vida, de 1854 a 1856, um novo horizonte se rasga para esse pensador profundo, para esse sagaz observador. Aos quarenta anos de idade dá ele início a essa nova fase de sua vida. Então o nome de Rivail se obumbra para ceder lugar ao de Allan Kardec, que se tornará conhecido em todo o Globo e venerado pelos corações agradecidos de várias pátrias (e, por que não dizer? de várias gerações).
     Eis aqui como Kardec nos revela as suas dúvidas, as suas hesitações, e também a sua iniciação:
     - Eu me encontrava, pois, no ciclo de um fato inexplicado, contrário, na aparência, às Leis da Natureza e que a minha razão repelia. Nada tinha visto nem observado ainda; as experiências feitas em presença de pessoas honradas e dignas de fé me firmavam na possibilidade do efeito puramente material; mas a ideia de uma mesa falante não me entrava no cérebro. No ano seguinte, início de 1855, encontrei o sr. Carlotti, com quem mantinha amizade havia 25 anos, que discorreu acerca desses fenômenos por mais de uma hora, com o entusiasmo que ele punha em todas as ideias novas. O sr. Carlotti era corso de origem, de natureza ardente e enérgica. Ele foi o primeiro a falar-me da intervenção dos Espíritos, e contou-me tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencerem, aumentaram as minhas dúvidas. (AMIGO LEITOR: ANOTE BEM ISTO).
     Daí a algum tempo, pelo mês de maio do mesmo ano, estive na casa da sonâmbula sra. Roger, com o sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o sr. Pâtier e a sra. Plainemaison, que me falaram desses fenômenos no mesmo sentido que o sr. Carlotti, porém noutro tom. O sr. Pâtier era funcionário público, de certa idade, homem muito instruído, de caráter grave e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, causou-me viva impressão, e, quando convidou-me a assistir às experiências que ali se realizavam, aceitei, com solicitude. Foi aí, pela primeira vez, que testemunhei o fenômeno das mesas girantes, que saltavam e corriam, e isso em condições tais que não davam margem à dúvida.
     Aí vi também alguns ensaios muito imperfeitos de escrita mediúnica em uma ardósia com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de se haver modificado, mas naquilo havia um fato que devia ter uma causa. Entrevi, sob essas aparentes futilidades e a espécie de divertimento que se fazia com tais fenômenos, alguma coisa de sério e como que a revelação de uma nova lei, que a mim mesmo prometi aprofundar".
     Para quem considere Allan Kardec um visionário, um idealista, um homem vulgar que pretendera tornar-se célebre apenas como um grande líder religioso e fundador de uma nova seita ou doutrina, dessas tantas que aparecem no cenário mundial cheias de mistérios e rituais incompreensíveis, eis, nesta parte da sua história, o desmentido destas possibilidades e a comprovação da seriedade absoluta com que o insigne professor francês encarou a desafiadora questão que se lhe apresentou de forma espontânea e um tanto confusa, para que ele mesmo, cético e desconfiado, lhe buscasse a natureza fenomênica, ao invés de ajuizar precipitada ou apaixonadamente. Afinal, tratava-se de um homem dado à Ciência, desde a sua primeira juventude. Na sequência, veremos como usou da razão e do bom senso em suas incansáveis pesquisas e minuciosas anotações, já no próximo texto. ///

67. A TRAJETÓRIA DE UM EDUCADOR

     P. (Ver textos anteriores nºs. 65 e 66).

     R. Prosseguindo com a narrativa do texto imediatamente anterior, eis o que nos informa o sr. Sausse::
      "Denizard Rivail era um alto e belo rapaz, de maneiras distintas, humor jovial na intimidade, bom e obsequioso. Tendo-o a conscrição incluído para o serviço militar, ele obteve a isenção e, dois anos depois, veio a fundar em Paris um estabelecimento semelhante ao de Yverdum, copiando a metodologia do grande mestre Pestalozzi.. Para essa empresa, associara-se a um dos seus tios, irmão de sua mãe, o qual era seu sócio capitalista.
     Casou-se com a senhorita Amélie Boudet, professora da primeira classe.
     O sócio, seu tio, apaixonado por jogo, acabou levando o negócio à ruína, obrigando o jovem diretor do Instituto Técnico a liquidá-lo, cabendo a cada um deles, na partilha, a soma de 45.000 francos. Este dinheiro foi colocado pelo senhor e senhora Rivail em casa de um dos seus amigos íntimos, negociante, que fez mau emprego do capital, indo à falência e nada deixando aos credores.
     Longe de desanimar com esse duplo revés, o casal lançou-se corajosamente ao trabalho. Ele encarregou-se da contabilidade de três casas, que lhe proporcionavam uma renda de 7.000 francos por ano; e, terminando o seu dia, infatigável, escrevia, ao serão noturno, livros de gramática, aritmética e para estudos pedagógicos; traduzia obras inglesas e alemãs e preparava todos os cursos de Levy-Alvarés, frequentados por discípulos de ambos os sexos do fauborg Saint-Germain. Organizou também em sua casa, à rua Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Astronomia e Anatomia comparada, entre os anos de 1835 e 1840, que eram muito frequentados.
     Membro de várias sociedades sábias, notadamente da Academia Real D'Arras, foi premiado, por concurso, em 1831, pela apresentação da notável memória: 'Qual o Sistema de Estudo mais em Harmonia com as Necessidades da Época?', de sua autoria.
     Dentre as suas numerosas obras, convém citar, por ordem cronológica: Curso Prático e Teórico de Aritmética (1824); Plano Apresentado para o Melhoramento da Instrução Pública (1828); Gramática Francesa Clássica (1831); Manual dos Exames para Obtenção dos Diplomas de Capacidade (1846); e Catecismo Gramatical da Língua Francesa (1848). Em 1849, encontramos o sr. Rivail professor no Liceu Polimático, regendo as cadeiras de Filosofia, Astronomia, Química e Física. Em uma obra muito apreciada, resume os seus cursos e publica: Ditados Normais dos Exames na Municipalidade e na Sorbone; Ditados Especiais Sobre as Dificuldades Ortográficas.
     Tendo sido essas diversas obras adotadas pela Universidade de França, e sendo elas comercializadas abundantemente, pôde o sr. Rivail conseguir uma modesta abastança.
     Como se pode julgar, por esta muito rápida exposição, Denizard Rivail estava admiravelmente preparado para a rude tarefa que ia ter que desempenhar em breve e fazê-la triunfar, sob os novos reveses que o aguardavam.
     Seu nome era conhecido e respeitado, seus trabalhos justamente apreciados, muito antes que ele imortalizasse o nome de Allan Kardec".
     No próximo texto, continuaremos acompanhando o sr. Henri Sausse, em sua narrativa biográfica, tão abrangente quanto empolgante, sobre tão nobre personalidade. ///

terça-feira, 20 de agosto de 2013

66. O DISCÍPULO DE PESTALOZZI

     P. (Ver texto anterior nº.65).

     R. Muitos críticos do Espiritismo citam o nome de Allan Kardec com desdém, sem se dar o trabalho de cogitar sobre suas lutas, seus méritos pessoais, seu trabalho profícuo em prol da sociedade francesa e europeia, e sua experiência individual no campo da Ciência, da Medicina e da Filosofia, bem antes de adotar esse nome que, afinal, o imortalizou, ainda como Hippolyte Léon Denizard Rivail, um cidadão emérito, nascido na pequena cidade de Lyon.
     A maioria dos antagonistas não se preocupa em entender de fato, muito menos aprofundar seu conhecimento acerca do que quer que se faça alvo de sua difamação, optando por ajuizar, como da superfície turva de um rio o que supostamente deva existir em seu leito, cuja profundeza sequer consegue avaliar, dado o restrito campo visual de que dispõe. É preciso antes instrumentalizar-se e pesquisar seriamente tudo o que possivelmente lhe fuja à primeira vista. Ao tratar-se de uma instituição de qualquer ramo de atividade, prioritariamente em se tratando de uma organização cultural ou religiosa, imprescindível se faz conhecê-la interiormente, saber de seu funcionamento, de suas realizações, das consequências efetivas de sua influência sobre a sociedade ou a comunidade diretamente a ela ligada, para que só então se emitam opiniões ou pareceres, sem que se corra o risco de cair em ridículo, ante a transparente desinformação.
     Este blog foi criado com a intenção de disponibilizar a seus eventuais leitores não espíritas todos os subsídios possíveis para que conheçam, senão profundamente, ao menos fundamentalmente, a Doutrina que se tornou alvo das críticas mais severas de muitos que se intitulam cristãos, e que não a aceitam como uma das ramificações do Cristianismo, embora pregue o mesmo Evangelho e sirva ao mesmo Mestre Jesus, a quem tem por Guia e Modelo Supremo.
     Para tanto, fui colher em fonte segura um pouco da história do seu codificador, transcrevendo, assim, a partir deste e nos textos subsequentes, parte de sua biografia, assinada por Henri Sausse e que está inserida em nada menos de 45 páginas do livro O QUE É O ESPIRITISMO, edição de 2006 da Federação Espírita Brasileira (FEB) - Rio de Janeiro.
     Por ser deveras extensa e rica em detalhes, tomo a liberdade de suprimir alguns trechos, sem prejuízo da essência, porquanto a finalidade principal é a de esclarecer simplesmente.
     Seguem-se, pois, as primeiras descrições do biógrafo a respeito do jovem Denizard Rivail:

     "O futuro fundador do Espiritismo recebeu desde o berço um nome querido e respeitado, e todo um passado de virtudes, de honra, de caráter. Grande número de seus antepassados se haviam distinguido na advocacia e na magistratura por seu talento, saber e escrupulosa probidade. Parecia que o jovem Rivail devia sonhar, também ele, com os louros e as glórias de sua família. Assim não o foi, porém, porque ele sentiu, desde cedo, grande atração para as ciências e a filosofia.
     Denizard Rivail fez em Lyon (França) os seus primeiros estudos, completando a sua bagagem escolar em Yverdum (Suíça), com o célebre professor Pestalozzi, de quem cedo se tornou um dos mais eminentes discípulos, colaborador inteligente e dedicado. Aplicou-se, de coração aberto, à propaganda do sistema de educação que exerceu tão grande influência sobre a reforma do ensino na França e na Alemanha. Muitíssimas vezes, quando Pestalozzi era chamado pelos governos, de todos os lados, para fundar institutos semelhantes ao de Yverdum, confiava a ele, Denizard, o encargo de o substituir na direção da sua escola.. Demonstrou sempre, na condição de mestre, a capacidade requerida para dar boa conta da tarefa que lhe era confiada. Era bacharel em Letras e em Ciências e doutor em Medicina, tendo defendido brilhantemente sua tese. Linguista insigne, conhecia a fundo e falava corretamente o inglês, o italiano, o espanhol e o alemão; conhecia também o holandês, exprimindo-se com facilidade neste idioma".
      Faço aqui uma breve pausa, de vez que a descrição biográfica prossegue alongadamente, para dar continuidade à mesma no texto seguinte. ///

65. QUESTÃO DE CREDIBILIDADE

     P. Quem foi Allan Kardec, e o que deu a este cidadão francês a credibilidade necessária para que a doutrina construída por ele fosse acatada, não apenas por uma grande massa da sociedade, especialmente no Brasil, mas também por celebridades científicas, políticas, artísticas e profissionais do mais alto nível, em todas as esferas e no mundo inteiro, ao ponto de a defenderem com tanta convicção, porém sem a tão comum queda para o fanatismo religioso?

     R. A observação feita já no próprio questionamento acima realmente procede e dá um destaque especial e merecido ao fato de que o espírita, pelo menos aquele que estuda e leva a sério a Doutrina codificada por Kardec, tem sempre o cuidado de evitar qualquer laivo de fanatismo em torno de sua crença, respeitando as diferentes crenças alheias e abstendo-se de fomentar debates calorosos, tão ao gosto dos "donos absolutos da verdade".
     Para se avaliar, sem risco de se cometer injustiça, ou cair no descrédito pessoal por evidenciar desconhecimento de causa, uma agremiação, uma seita, um movimento social, sejam eles religiosos, filosóficos ou políticos, há que se remontar à história pregressa de seus idealizadores, fundadores ou simplesmente iniciadores.
     Há casos, é verdade, na história das religiões, em que o fundador de uma nova seita ou denominação não passava de um visionário, um idealista ou um reformista inconformado, já atuante em outra determinada agremiação, onde tentara impor seu próprio modelo de doutrina ou culto sem êxito. Muitos são também os que instauram novas instituições religiosas ou políticas movidos somente pela paixão ao poder, seja o poder econômico ou meramente o poder de comando, de que, em qualquer caso, esperam auferir as glórias terrenas.
     Falar sobre quem foi Allan Kardec, mais precisamente do que foi e do que fazia antes da sua importantíssima obra de organização da Doutrina dos Espíritos, assim como do crédito que lhe foi atribuído, desde o início e num crescendo incessante por figuras proeminentes das Ciências, da Filosofia, da Política, das Letras e das Artes, é das tarefas mais difíceis, quão gratificantes.
     Convém-me dizer que num espaço tão exíguo quanto o de uma página deste BLOG, então, passa a ser simplesmente inviável fazê-lo sem perda de importantíssimos aspectos, dada a riqueza de fatos e detalhes que compõem a sua biografia.
     Assim sendo, convido aos amigos interessados em conhecer um pouco da vida desse ilustre cidadão francês, que deixou escritas pelo menos cinco obras de magistral conteúdo, conhecidas como "As Obras Básicas da Codificação do Espiritismo", para que acompanhem os próximos textos, que serão publicados em sequência, até que seja dada por totalmente respondida a pergunta acima formulada. ///

sábado, 17 de agosto de 2013

64. SOBRE A PSICOMETRIA

     P. O que é Psicometria e como os espíritas a praticam?

     R. Antes de dar a resposta explicativa que o leitor espera receber de alguém que estuda a Doutrina Espírita, permito-me trazer para este espaço o comentário feito pelo digníssimo senhor missionário R. R. Soares, fundador da Igreja Internacional da Graça de Deus, em seu livro ESPIRITISMO - A MAGIA DO ENGANO (Editora Graça - R.Janeiro - 2002):
     "Os espíritas dão este nome à faculdade de fazer contato com pessoas vivas ou mortas por meio de um objeto que pertence ao ausente ou pertenceu à pessoa morta. Para citarem  um caso da Bíblia, utilizam-se da passagem em que Jesus conversou com a mulher samaritana, e disse tudo sobre a vida dela (Jo. 4). Argumentam que, segurando o cântaro, o Mestre entrou em contato com o passado da mulher.
     Está claro, inclusive pela Bíblia, que tal argumento não passa de um equívoco. Primeiramente, porque Jesus não entrou em contato com o cântaro, pois a mulher o abandonou depois de ouvi-lo, e saiu anunciando na cidade que o Messias havia chegado; e, depois, porque Jesus não precisava usar esses artifícios. Trata-se de um tremendo ardil usado por Satanás e pelos demônios para ludibriar o povo. Não é o objeto que transmite as mensagens, mas demônios, enganando e iludindo. Para explicar o fenômeno, até as ciências estão caindo no logro" (p.55).
     No capítulo 26 do livro NOS DOMÍNIOS DA MEDIUNIDADE, psicografado por Chico Xavier, o Espírito André Luiz relata uma experiência nova para ele e seu companheiro Hilário, ao adentrarem um museu acompanhados pelo sempre bondoso e dedicado instrutor Áulus, que lhes oportuniza mais um interessante aprendizado, dessa vez através da observação de alguns objetos ali depositados, fazendo referências à Psicometria. Começa ele esclarecendo que em Psicologia experimental a palavra tem por significação o registro ou a apreciação da atividade intelectual, mas que em trabalhos mediúnicos o mesmo vocábulo designa a faculdade de ler impressões e recordações ao contato com objetos comuns.
     Antes que eu prossiga, peço a atenção do amigo leitor para o fato de que o diálogo a seguir transcrito se passa no âmbito do Plano Espiritual, ou seja, dos desencarnados, mas tendo por ponto de observação um objeto material, isto é, que faz parte do mundo físico, sólido, visível e palpável para nós outros, encarnados.
     "Notando-me a curiosidade, o Instrutor aclarou, benevolente:
     - Todos os objetos que você vê emoldurados por substâncias fluídicas acham-se fortemente lembrados por aqueles que os possuíram.
     Não longe, havia curioso relógio, aureolado de luminosa faixa branquicenta.
     Áulus recomendou-me tocá-lo e, quase instantaneamente, me assomou aos olhos mentais linda reunião familiar, em que venerando casal se entretinha a palestrar com quatro jovens em pleno viço primaveril.
     Com aquele quadro vivo a destacar-se ante a minha visão interior, examinei o recinto agradável e digno. O mobiliário austríaco imprimia sobriedade e nobreza ao conjunto, que jarrões de flores e telas valiosas enfeitavam.
     O relógio lá se encontrava, dominando o ambiente, do cimo de velha parede caprichosamente adornada.
     Registrando-me a surpresa, o Assistente adiantou:
     - Percebo a imagem sem o toque direto. O relógio pertenceu a respeitável família do século passado. Conserva as formas-pensamentos do casal que o adquiriu e que, de quando em quando, visita o museu para a alegria de recordar. O objeto é animado pelas reminiscências de seus antigos possuidores, reminiscências que se avivam, no tempo, através dos laços espirituais que ainda sustentam em torno do círculo afetivo que deixaram".
     Mais para a frente, em seus comentários em torno do assunto, esclarece mais uma vez o Instrutor:
     " - O pensamento espalha nossas próprias emanações por toda parte a que se projeta. Deixamos vestígios espirituais (vibratórios) onde arremessamos os raios da nossa mente..." (FEB, RJ, 1995 p.241, 242).
     Nada comum nos trabalhos triviais com a mediunidade, dada a escassez de sensitivos dessa natureza, a Psicometria, como se vê neste trecho do citado livro, é uma espécie de técnica, ou, poderíamos dizer, uma ferramenta especial, através da qual o médium consegue registrar, ao toque físico sobre um objeto comum, a situação ou os eventos mais marcantes que envolvem a vida e as relações mais próximas da pessoa ou grupo que possui ou possuiu esse objeto.
     Vê-se, no entanto, pela declaração do assistente Áulus, que essa leitura pode também ser feita sem o contato direto, como ele mesmo o fez. Isto justifica o fato de Jesus haver descrito à mulher os acontecimentos de sua vida, sem haver tocado no cântaro. Profundamente impressionada, ela correu a anunciar a presença do tão esperado Messias, porquanto ele lhe dissera coisas que só eram do seu conhecimento íntimo.
     Nós, espíritas, jamais dissemos que Jesus teria sido um médium vulgar, com as limitações que normalmente a maioria dos médiuns possui.
     Só a título de ilustração, os Espíritos afirmam que Jesus reuniu, em sua passagem terrena, todas as faculdades medianímicas possíveis e em graus muitíssimo mais elevados do que os de todos os demais medianeiros que por aqui estiveram ou estão prestando a sua colaboração na obra universal.
      Jesus era capaz de tocar-nos com a sua aura vibrante a distâncias impensáveis.
     Nada, portanto, lhe obstaria a ação, em qualquer das atividades relativas à mediunidade, posto que, enquanto investido da carne, contou com ininterrupta assistência de Espíritos do mais alto escalão da Espiritualidade Superior, do qual Ele mesmo é importante Membro ativo, na condição de Guia da Humanidade terrena. ///

NOTA: Este texto é quase uma reedição do de nº. 36 (PSICOMETRIA E JESUS), escrito com apenas algumas leves alterações textuais. 
   

63. EMBATES POLÍTICOS NA CASA ESPÍRITA

     P. Como se espera devam agir os membros da diretoria de uma Sociedade Espírita diante das possíveis divergências surgidas no trato das questões administrativas, ou com relação à condução de determinados grupos de trabalho, sabendo-se que sempre haverá os que pensam e desejam agir de modos diferentes?

     R. De um modo geral, cabe a uma parcela dos trabalhadores do Centro Espírita a formação de um grupo que irá se incumbir da difícil tarefa de zelar pelo patrimônio físico e espiritual da Instituição, candidatando-se ou atendendo ao chamamento de seus pares para o exercício de um dos cargos administrativos em disponibilidade, levando-se em conta, de cada qual, as habilidades pessoais, alguns aspectos de sua personalidade, a pré-disposição, entre outros fatores ou requisitos indispensáveis ao bom desempenho no exercício do mandato que lhe couber.
     Sendo falho o homem, por sua própria natureza humana, nem sempre o irmão de boa-vontade deixará de aceitar um cargo para o qual não está perfeitamente habilitado, ou com o qual não possui tanta afinidade assim. Outro, talvez, mais apto ao exercício daquela função específica, poderá não ser convocado ao serviço, por não gozar da simpatia ou do apreço por parte daquele ou daqueles que lhe deveriam solicitar a colaboração. Pode ocorrer também que haja certo antagonismo em relação às ideias e ideais previamente expostos, ante um pequeno grupo mais conservador e um indivíduo que ostente caráter renovador, ou vice-versa.
     Como em todas as sociedades humanas, a Casa Espírita não se isenta de embates políticos, gerados quase sempre pelas diferenças no modo de pensar e de conduzir o gerenciamento da Entidade e dos departamentos que a compõem.
     O que se espera, e que, no entanto, nem sempre acontece nesses embates, é que os companheiros de opiniões contrárias mantenham a calma, o bom senso, a palavra amena, a consideração mútua, a argumentação clara e precisa, a compreensão para com as limitações alheias, afinal.
     Em muitos desses confrontos necessários, perdem-se excelentes oportunidades de acerto e de progresso, devido ao melindre de uma das partes, ou à exasperação descaridosa da outra.
     Esquecem-se facilmente as recomendações da Doutrina, justamente quando se trata de um grupo de pessoas reunidas sob os auspícios da mesma e com a finalidade de divulgá-la e exercitá-la, o que se faz mais profundamente deplorável.
     Não podem ignorar, esses trabalhadores da Seara bendita, que sempre haverá a intervenção proposital e oportunista do Plano Espiritual inferior, exercendo sua influência sobre os ânimos desequilibrados, para que a harmonia do conjunto seja quebrada e as tarefas de atendimento fraternal aos necessitados, deste e do outro mundo, sejam prejudicadas.
     Muitas Casas Espíritas, lamentavelmente, possuem um "dono", caracterizado na pessoa de determinado líder, cujas palavras, vontades e decisões têm sempre de ser acatadas, sem contraposições. Há, em contrapartida, aquele que se manifesta contrário e, ao ver suas sugestões boicotadas, arregimenta alguns simpatizantes e os convida a bater em retirada; quando não, estes assim o fazem a título de apoio moral ao companheiro desertor.
     Isto tudo só prejudica o próprio Movimento Espírita, pelo qual todos deveriam zelar, mantendo-o acima de suas divergências.
     A mensagem de André Luiz, no livro "Conduta Espírita", ao tratar sobre o tema "Nos Embates Políticos", deixa claro que o espírita deverá "distanciar-se do partidarismo extremado", o que significa abster-se dos conflitos próprios de posicionamentos extremos. Recomenda ele, ainda, ao espírita, "por nenhum pretexto, condenar aqueles que se acham investidos com responsabilidades administrativas de interesse público, mas sim orar em favor deles, a fim de que possam satisfatoriamente desincumbir-se dos compromissos assumidos (...) nunca olvidando que o serviço de evangelização é tarefa essencial". Com maior razão, esta recomendação se deve referir também aos que se acham investidos de responsabilidades tais nas lides de uma Casa Espírita, onde se espera que haja um mínimo de harmonia e solidariedade.
     Assim sendo, devemos entender de vez que não fomos chamados para servirmos aos homens, mas a Deus; não aos nossos próprios interesses, caprichos e vaidades, mas aos objetivos intrínsecos da Doutrina; não, por fim, para a nossa glorificação pessoal, mas para a vivificação do Nome especialíssimo do nosso Mestre e Guia, JESUS. ///
   
   


quarta-feira, 7 de agosto de 2013

62. SÓ POR EDUCAÇÃO

     P. Como os espíritas costumam receber os irmãos de outras crenças que tentam convertê-los às suas ideias e concepções religiosas-filosóficas-culturais?
   
R. Tem-se tornado bastante comuns, nas redes sociais, principalmente, as manifestações de pessoas das mais variadas crenças e denominações religiosas reclamando do preconceito, da discriminação e de certa dose de intolerância sofridos por elas mesmas ou, genericamente, pela instituição ou comunidade religiosa a que pertencem, por parte de membros de outros segmentos que pregam dogmas e princípios diferentes dos seus.
     Um membro das Testemunhas de Jeová dizia há pouco estar cansado de ser recebido de forma hostil, tanto por católicos e evangélicos, como por espíritas, quando em seu trabalho de campo, atividade bem conhecida de todos e exercida por grupos que levam a "Palavra" e divulgam a Instituição doutrinária, indo bater de porta em porta, oferecendo panfletos e revistas gratuitamente.
     Membros da Igreja Universal do Reino de Deus declaram-se vítimas de discriminação em ambientes de trabalho e dentro da própria família, muitas vezes sendo tratados como "personas non gratas". Outro dia havia inclusive uma extensa matéria sobre isto no Jornal Universal, que também é distribuído gratuitamente.
     Veem-se igualmente espíritas e umbandistas protestando contra as insinuações preconceituosas de que são vítimas, exercidas especialmente por aqueles que costumam demonizar as suas crenças, geralmente com base em interpretações bíblicas distorcidas e na falta de conhecimento acerca do Espiritismo e da Umbanda.
     No caso, aqui, quero dirigir-me em especial aos espíritas, que aprendem desde logo, ao aderir aos postulados da codificação kardequiana, a não incomodar seus parceiros de convívio diário, seja no trabalho, seja na família, em viagem ou em qualquer evento social ou circunstancial, com um proselitismo inconveniente e sabidamente infrutífero.
     Quando um espírita convicto recebe uma visita, por exemplo, de uma dupla de membros das Testemunhas de Jeová, que vem ao seu encontro no afã de anunciar-lhe a Verdade, sob o ponto de vista de sua respeitável Organização, mundialmente conhecida por questões doutrinárias polêmicas, o que fazer? Dispensar logo essas pessoas, que não irão convencê-lo de coisa alguma? Tratá-las com rispidez, porque a instituição religiosa à qual pertencem considera o Espiritismo uma obra diabólica? Discutir com elas as diferenças doutrinárias, tentando mostrar-lhes o terrível engano que cometem? Dar uma desculpa qualquer, como falta de tempo para ouvi-las ou que está de saída, a fim de dispensá-las logo sem ofendê-las?
     E Quando um colega de trabalho ou familiar crente, geralmente auto-nomeado cristão, como se o outro também não o fosse, vem propor-lhe a salvação em Cristo-Jesus, dizendo da necessidade de aceitá-Lo como seu único e suficiente salvador, como deve agir? Ser-lhe-á lícito dizer ao oponente que ele professa uma fé cega, e que a sua, ao contrário, é uma fé racional? Deverá discutir com ele sobre a reencarnação, apresentar-lhe provas e evidências, argumentos lógicos e até mesmo bíblicos, como algumas passagens dos Evangelhos, em confronto com o dogma da ressurreição e da vida única em que o outro acredita, alegando que é o que está na "Palavra de Deus"?
     Amigos espíritas, é hora de compreendermos, de uma vez por todas, que é o Espiritismo mesmo que nos ensina a sermos tolerantes e a agirmos sempre com o verdadeiro espírito cristão, ou seja, com espírito fraterno, como irmãos de toda gente, com respeito às diferenças e com educação.
      Dispensar, com hostilidade e menosprezo, a quem quer que nos procure, negando-lhe a oportunidade de uma colóquio amigável e cortês, simplesmente porque não queremos ouvir seus argumentos para nós equivocados, pode ser uma tremenda falta de caridade, uma ausência de cidadania e de civilidade.
     Ao menos por educação, sejamos cordiais, mostremo-nos amistosos, permaneçamos calmos, serenos, e tratemos a todos como trataríamos aos nossos próprios irmãos de sangue, pois que somos irmãos no ideal do bem, embora por caminhos diferentes, todos regidos pelo mestre em comum, o Senhor Jesus. Podemos até falar-lhes também dos princípios que esposamos, mas sem, em momento algum, desrespeitarmos as suas limitações ou diminuirmos as suas crenças.
     Ainda que só por educação, e, acima de tudo, pela educação cristã que efetivamente recebemos, sejamos, neste aspecto, imitadores do Cristo, que foi e é nosso maior exemplo de bondade, mansidão, compreensão e tolerância.
     Isto não custa nada e tem um valor moral e espiritual incalculável. Falemos bem menos de religião e muito mais de Jesus, que é o mais significativo símbolo do amor entre nós. ///


quinta-feira, 1 de agosto de 2013

61. TRABALHADORES E FREQUENTADORES DA CASA ESPÍRITA

     P. Por que nos tornamos trabalhadores espíritas?

     R. Com esta pergunta, utilizada como título da XIV Conferência Estadual Espírita do Paraná, realizada na cidade de Cornélio Procópio, em março de 2012, a cargo da emérita palestrante e conferencista Sandra Borba Pereira, chegou-me às mãos um trabalho escrito, usado como pauta para o estudo do nosso "ESDE III", nesta última segunda-feira, dia 29 de julho de 2013.
     Transcrevo aqui parte da primeira das quatro páginas que compõem esse trabalho, com pequenas adaptações em seu texto original, para dar ao leitor apenas uma ligeira ideia do que foi debatido neste nosso encontro:
     >>> O Espirito Albino Teixeira, pela psicografia de Chico Xavier, em sua obra 'Educandário de Luz', diz-nos que "na Casa Espírita identificam-se dois grupos de pessoas; as que são assistidas pela casa, aquelas que vão tomar o passe, assistir as palestras, procurar atendimento, e o outro grupo que chamamos de o grupo de trabalhadores".  Porque só pode existir o grupo de frequentadores, brinca a palestrante, se existir o grupo de trabalhadores. Depois de breve pausa e sorrisos da platéia, prossegue, em tom mais sério: É este grupo que estará organizando a sistemática de ação que a Casa Espírita desenvolve, as palestras públicas, o passe, o atendimento fraterno, os trabalhos mediúnicos, os grupos de estudo da doutrina, a evangelização infantil e juvenil, os trabalhos de ação social, as caravanas de atendimento especial nos lares, entre outras, que fazem parte do roteiro de atividades de um Centro Espírita, devidamente dirigido por pessoas de boa vontade e dotadas de propósitos elevados, afinadas com os ideais e objetivos pressupostos pela Doutrina dos Espíritos, e que compõem, por assim dizer, o chamado Movimento Espírita.
     Albino Teixeira completa sua orientação, alertando: "O grupo de trabalhadores é semelhante ao grupo familiar; nele encontramos afetos e também desafetos; isso para refletirmos na necessidade de desenvolver sempre a compreensão de que somos espíritas e trabalhadores desta seara não pelas pessoas (não para os homens) e sim pela nossa adesão consciente ao programa que a Doutrina Espírita nos oferece". O Movimento Espírita é o braço operacional da Doutrina Espírita, que é a carta magna que nos vai conduzir. Nós, enquanto seres humanos, precisamos nos organizar, unir, articular, para levarmos adiante nossos objetivos e ideais, sendo este mesmo o motivo pelo qual surge a Casa Espírita, como meio e não como fim.
     Por que, então, nos tornamos trabalhadores espíritas? A resposta é simples: não basta o fato de conhecermos alguma coisa, para que nos sintamos bem. Começamos a ter ideias, conceitos, percepções, sensações, e chega uma hora em que precisamos colocar isso na prática; e é praticando que adquirimos um conhecimento pleno, amplo, global, instigando em nós a necessidade de socializar esse conhecimento adquirido com as ações efetivas. Buscamos o fundamento para essas afirmativas no Evangelho de Jesus, quando este nos diz: "Não se põe a candeia debaixo do alqueire, mas no velador, para que todos possam ser beneficiados pela luz" (Mateus 5:15).
     Sentimos, assim, a necessidade de compartilhar o que aprendemos, a experimentar e vivenciar esse aprendizado, porquanto o discurso inteligente sem a exemplificação sábia, consignada na prática, quase nenhum valor terá. Ao compreendermos isto, transformarmo-nos em pessoas que não apenas recebemos informações, notícias, e que não queremos mais somente guardar ideias no campo da cognição, mas que sentimos o desejo e a necessidade de vivenciar, socializar, praticar os princípios adquiridos nas etapas teóricas. Tornamo-nos, enfim, trabalhadores espíritas, porque não mais nos contentamos em permanecer no grupo dos simples frequentadores da Casa Espírita, porque queremos agir, dar testemunho vivo da mudança que a Doutrina Espírita operou na nossa intimidade, na nossa mente, ou seja, na sede espiritual e eterna do nosso ser em evolução. <<<   ///