quarta-feira, 21 de agosto de 2013

68. DÚVIDAS E HESITAÇÕES DE KARDEC

     P. (ver textos anteriores de nºs.65 a 67).
   
     R. Ainda em continuação à resposta da pergunta formulada no texto de nº.65, que nos levou à biografia de Allan Kardec, de que já nos ocupamos também nos textos 66 e 67, eis aqui mais uma parte da qual não poderíamos abrir mão:
     "Foi em 1854 que Denizard Rivail ouviu pela primeira vez falar nas mesas girantes, a princípio do sr. Fortier, magnetizador, com o qual mantinha relações, em razão dos seus estudos sobre Magnetismo. O sr. Fortier lhe disse um dia:  - Eis aqui uma coisa que é bem mais extraordinária, que não somente se faz girar uma mesa, magnetizando-a, mas também se pode fazê-la falar. Interroga-se e ela responde.
     - Isso, replicou o sr. Rivail, é uma outra questão; eu acreditarei quando tiver visto e me tiverem provado que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir, e que pode se tornar sonâmbula (nota minha: o sonambulismo aqui é tratado como situação de transe idêntica à do efeito de hipnotismo). Até lá, permita que eu não veja nisso senão uma fábula.
     Tal era o estado de espírito do sr. Rivail, tal o encontraremos muitas vezes, não negando coisa alguma por 'parti pris', mas pedindo provas e querendo ver e observar para crer; assim nos devemos mostrar sempre no estudo tão atraente das manifestações do Além.
     Até aqui falamos do sr. Denizard Rivail, professor emérito e autor pedagógico de renome. No entanto, nessa época da sua vida, de 1854 a 1856, um novo horizonte se rasga para esse pensador profundo, para esse sagaz observador. Aos quarenta anos de idade dá ele início a essa nova fase de sua vida. Então o nome de Rivail se obumbra para ceder lugar ao de Allan Kardec, que se tornará conhecido em todo o Globo e venerado pelos corações agradecidos de várias pátrias (e, por que não dizer? de várias gerações).
     Eis aqui como Kardec nos revela as suas dúvidas, as suas hesitações, e também a sua iniciação:
     - Eu me encontrava, pois, no ciclo de um fato inexplicado, contrário, na aparência, às Leis da Natureza e que a minha razão repelia. Nada tinha visto nem observado ainda; as experiências feitas em presença de pessoas honradas e dignas de fé me firmavam na possibilidade do efeito puramente material; mas a ideia de uma mesa falante não me entrava no cérebro. No ano seguinte, início de 1855, encontrei o sr. Carlotti, com quem mantinha amizade havia 25 anos, que discorreu acerca desses fenômenos por mais de uma hora, com o entusiasmo que ele punha em todas as ideias novas. O sr. Carlotti era corso de origem, de natureza ardente e enérgica. Ele foi o primeiro a falar-me da intervenção dos Espíritos, e contou-me tantas coisas surpreendentes que, longe de me convencerem, aumentaram as minhas dúvidas. (AMIGO LEITOR: ANOTE BEM ISTO).
     Daí a algum tempo, pelo mês de maio do mesmo ano, estive na casa da sonâmbula sra. Roger, com o sr. Fortier, seu magnetizador. Lá encontrei o sr. Pâtier e a sra. Plainemaison, que me falaram desses fenômenos no mesmo sentido que o sr. Carlotti, porém noutro tom. O sr. Pâtier era funcionário público, de certa idade, homem muito instruído, de caráter grave e calmo; sua linguagem pausada, isenta de todo entusiasmo, causou-me viva impressão, e, quando convidou-me a assistir às experiências que ali se realizavam, aceitei, com solicitude. Foi aí, pela primeira vez, que testemunhei o fenômeno das mesas girantes, que saltavam e corriam, e isso em condições tais que não davam margem à dúvida.
     Aí vi também alguns ensaios muito imperfeitos de escrita mediúnica em uma ardósia com o auxílio de uma cesta. Minhas ideias estavam longe de se haver modificado, mas naquilo havia um fato que devia ter uma causa. Entrevi, sob essas aparentes futilidades e a espécie de divertimento que se fazia com tais fenômenos, alguma coisa de sério e como que a revelação de uma nova lei, que a mim mesmo prometi aprofundar".
     Para quem considere Allan Kardec um visionário, um idealista, um homem vulgar que pretendera tornar-se célebre apenas como um grande líder religioso e fundador de uma nova seita ou doutrina, dessas tantas que aparecem no cenário mundial cheias de mistérios e rituais incompreensíveis, eis, nesta parte da sua história, o desmentido destas possibilidades e a comprovação da seriedade absoluta com que o insigne professor francês encarou a desafiadora questão que se lhe apresentou de forma espontânea e um tanto confusa, para que ele mesmo, cético e desconfiado, lhe buscasse a natureza fenomênica, ao invés de ajuizar precipitada ou apaixonadamente. Afinal, tratava-se de um homem dado à Ciência, desde a sua primeira juventude. Na sequência, veremos como usou da razão e do bom senso em suas incansáveis pesquisas e minuciosas anotações, já no próximo texto. ///

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