quarta-feira, 21 de agosto de 2013

69. PRIMEIROS ESTUDOS E PRIMEIROS RESULTADOS

       P. (Ver textos anteriores de nºs. 65 a 68 e texto imediato de nº. 70).

     R. Continuando, pois, com a exposição de Allan Kardec, como parte da biografia assinada por Henri Sausse, sobre as suas primeiras incursões na fenomenologia que originou a codificação da Doutrina dos Espíritos, eis o que diz o então professor e cientista Hippolyte Léon Denizard Rivail, sobre os seus primeiros estudos e os primeiros resultados destes:
     " - A ocasião se me ofereceu e pude observar mais atentamente do que até então pudera fazer. Em um dos serões da sra. Painemaison, conheci a família Baudin. O sr. Baudin ofereceu-me sua residência no sentido de assistir às sessões hebdomadárias que nela se efetuavam e às quais passei a frequentar muito assiduamente.
     Foi aí que fiz os meus primeiros estudos sérios em Espiritismo, menos por efeito de revelações do que por observação. Apliquei a essa nova ciência, como até então o tinha feito, o método da experimentação. Nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as consequências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão. Foi assim que sempre procedi em meus trabalhos anteriores. Compreendi, desde o princípio, a gravidade da exploração que ia empreender. Entrevi nesses fenômenos a chave do problema tão obscuro e tão controverso do passado e do futuro, a solução do que havia procurado a minha vida inteira; era, em uma palavra, uma completa revolução nas ideias; preciso, portanto, se fazia agir com circunspeção e não levianamente, ser positivista e não idealista, para não me deixar arrastar pelas ilusões.
     Um dos primeiros resultados das minhas observações foi que os Espíritos, não sendo senão as almas dos homens, não tinham nem a sabedoria e nem a ciência soberanas; que o seu saber limitava-se ao seu grau de adiantamento, e que a sua opinião era, antes, pessoal do que universal. Esta verdade, reconhecida desde o começo, evitou-me o grave escolho de crer na sua infalibilidade e preservou-me de formular teorias prematuras sobre a opinião de um só ou de alguns Espíritos.
     Só o fato da comunicação com os Espíritos, o que quer que eles pudessem dizer, provava a existência de um mundo invisível ambiente; era já um ponto capital, um imenso campo franqueado às nossas explorações, a chave de uma multidão de fenômenos até então inexplicados, tidos por maravilhosos ou sobrenaturais.
     O segundo ponto, não menos importante, era conhecer o estado desse mundo e seus costumes, se assim nos podemos exprimir. Cedo, observei que cada Espírito, em razão de sua posição e seus conhecimentos pessoais, desvendava-me uma fase desse mundo, exatamente como se chega a conhecer um estado ou um país interrogando os habitantes de todas as classes e condições, regiões, cidades e bairros, podendo cada qual nos ensinar ou informar alguma coisa e nenhum deles podendo, individualmente, dizer-nos tudo. Cumpre ao observador formar o conjunto, com o auxílio dos documentos recolhidos de diferentes lugares, colecionados, coordenados e confrontados entre si.
     Eu, pois, agi com os Espíritos como o teria feito com os homens: eles foram, para mim, desde o mais até o menos elevado, meios de colher informações e não reveladores predestinados".
     Apenas lembrando ao leitor que acabamos de ler aqui os depoimentos do próprio Allan Kardec inseridos no relato biográfico do sr. Henri Sausse, a cuja palavra retornaremos no próximo seguimento, que será o último desta série de seis textos, que pretendem ser simplesmente uma janela por onde possam, os que assim o desejarem, entrever, observar e conhecer um pouco da personalidade e do trabalho do eminente organizador e codificador da Doutrina dos Espíritos. Com esta oportunidade, quem sabe, muitos poderão modificar suas opiniões acerca do Espiritismo, dada a lisura e a seriedade do seu fundador, se assim o pretendam classificar. Só recordando ainda que ele próprio atribui o verdadeiro mérito da Doutrina aos Espíritos, antes que a si mesmo. ///

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