sábado, 23 de março de 2013

32. QUANDO ALGUÉM PERGUNTAR

       P. E se alguém perguntar: Qual é a sua religião? Num senso, por exemplo, o que você responderá?

    R. Circula pelas redes sociais da Internet um post incentivando os espíritas a responderem, a essa pergunta: "SOU ESPÍRITA, COM MUITO ORGULHO". Mas eu penso que o espírita deve simplesmente responder: "sou espírita", movendo seus lábios com naturalidade, sem imprimir nenhum tom ou traço de orgulho e de superioridade na voz, no olhar, ou em qualquer expressão facial, corporal, etc.
     As estatísticas, em sensos realizados por órgãos oficiais ou contratados, têm apontado para um crescente número de adeptos do Espiritismo, de uns tempos para cá. Deve-se isto à luta de valorosos e incansáveis cidadãos desbravadores pela quebra do preconceito antes manifesto, e sem qualquer reserva, por grupos religiosos dominantes e sistematicamente contrários a esse avanço de uma Doutrina que para eles é demoníaca. Com pouco mais de um século e meio de existência, ela cresce "assustadoramente". É preciso considerar, no entanto, que muitos dos que se declaram espíritas são, na verdade, frequentadores da Umbanda e do Candomblé, religiões culturais que nada tem a ver com o Espiritismo, senão o trato com a mediunidade e com espíritos. Mas o Espiritismo é Doutrina, uma filosofia, e não uma cultura ritualística, mística, mágica, misteriosa.
     O interesse demonstrado por alguns espíritas nesse índice quantitativo prende-se talvez à falsa premissa, muito adotada pelos partidos políticos em época de campanha eleitoral, de que, quanto maior o número de adeptos convictos e publicamente confessos de uma determinada agremiação, maiores são as chances desta conquistar novas adesões. Fazem assim mesmo os candidatos às majoritárias com depoimentos e testemunhos populares. É um tal de "eu voto no Fulano", "eu vou de Fulano", "Fulano pra mim é o melhor candidato", "vote no Fulano você também", "eu também vou votar no Fulano", tudo isto como se com isto se angariassem realmente mais votos para o tal Fulano!
      Já aos Espíritos, pois que eles são os responsáveis pela disseminação dessa Terceira Revelação do Alto aos habitantes da terra, importa muito mais a qualidade do que a quantidade dos seus seguidores. Um único espírita que demonstre a sua crença com seus atos e nas suas mínimas atitudes cotidianas produz mais efeito atrativo e impactante do que outros nove que se empenhem na divulgação ostensiva dos princípios doutrinários, se não derem a devida exemplificação dos resultados desses princípios em sua própria conduta moral.
     Antes de nos posicionarmos como superiores aos nossos irmãos de outras crenças, devido à filosofia que abraçamos, nós, espíritas, devemos mais é agradecer à Providência divina por nos haver apontado este caminho libertador, para que, ante os seus esclarecimentos, pudéssemos com maior facilidade superar as nossas imperfeições morais, as nossas mazelas espirituais, ainda tão presentes, a evidenciarem um pretérito delituoso, que nos faz devedores por ainda, quiçá, longos períodos futuros.
     Nada dessa arrogância, de pensar que ser espírita equivale a ser mais evoluído espiritualmente do que a maioria de outros religiosos e crentes.
     O Espiritismo, este sim, trata-se de uma doutrina assaz superior; e felizes os que a deixaram penetrar-lhe a alma, modificando-lhes as disposições mentais e sentimentais, pois ela os ampara nos tropeços naturais e os fortalece na heroica decisão de dar combate aos vícios e maus hábitos atávicos, que lhes hão rendido já tantos infortúnios, tantos retornos infelizes à materialidade deste planeta, que ainda é, na classificação geral das escalas evolutivas dos mundos habitados, espalhados pelo Universo sem fim, de provas e expiações.
  O simples fato de aceitar uma filosofia mais avançada e esforçar-se por seguir seus preceitos, religiosamente, contando com o auxílio de uma clareza científica, como a que faz do Espiritismo uma doutrina tão digna de crédito, não fará de ninguém um ser de nível intelecto-moral-espiritual superior. E é neste ponto que devemos ficar atentos, para não nos considerarmos o que de fato ainda não somos, apenas por ostentarmos um rótulo diferenciado.
   Se eu sou espírita, devo dizê-lo, sim, sem nenhum receio, mas também sem nenhuma vaidade; sem nenhum constrangimento, mas também sem nenhuma presunção; sem nenhum complexo de inferioridade, mas também sem nenhuma atitude de altivez; sem medo de sofrer discriminação ou boicote, mas também sem desejo disfarçado de afrontar ou humilhar o meu interlocutor.
    O haver entrado para o Espiritismo um dia foi bastante gratificante para mim, sem dúvida. Mas, realmente significativo foi o fato de eu haver deixado o Espiritismo entrar na minha vida, transformando-me intimamente e, melhor ainda, intensamente. ///

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