sexta-feira, 19 de abril de 2013

44. SER OU NÃO SER RELIGIÃO

         P. Afinal, o Espiritismo é ou não é uma religião?

       R. Os próprios espíritas dividem entre si opiniões divergentes. Uns acham que o Espiritismo deve ser entendido como religião. Mas os que assim o veem vão logo dizendo tratar-se de uma religião sem dogmas, sem cultos exteriores, sem rituais e sem hierarquia sacerdotal, eximindo-o, pois, de qualquer similitude com as religiões tradicionais. É uma religião de foro íntimo, que está alojada na consciência daqueles que se dignam a seguir os seus preceitos racionais e, por isto mesmo, libertadores. Outros, porém, anunciam-no como uma filosofia, com bases científicas e consequências morais.
      Longe de sequer pronunciarem a palavra "religião", estes últimos consideram pieguice a ênfase dada à caridade e à prece, tendo em vista que uma é apenas o cumprimento de um dever ético-social, enquanto a outra seria uma manifestação de busca pela proteção divina ou de gratidão pela certeza da mesma, dispensável àqueles que hajam bem cumprido esse dever, já por isto mesmo garantindo a simpatia dos Espíritos superiores, que lhes não negarão sua assistência e amparo, sempre que necessitem.
     Discordâncias à parte, busquemos entender e interpretar com tranquilidade e isenção de ânimo as seguintes palavras do codificador:
     "Em resumo, a Igreja, repelindo sistematicamente os espíritas que a buscavam, forçou-os a retroceder; pela natureza e violência dos seus ataques, ela ampliou a discussão e conduziu a um terreno novo. O Espiritismo era apenas uma simples doutrina filosófica; foi a Igreja quem lhe deu maiores proporções, apresentando-o como inimigo formidável: foi ela, enfim, quem o proclamou uma nova religião" - Allan Kardec (O Que é o Espiritismo - 1ª edição de bolso, p. 141 - FEB, 2006).
     Por estas palavras é possível entender que, se a Igreja (Católica) não houvera combatido a filosofia espírita, em seu nascedouro, poderia, na sequência, haver católicos e protestantes espíritas, como hoje há umbandistas espíritas e também católicos, evangélicos e espíritas maçons. Dá para entender isto?
     Somente mais tarde, com o lançamento de O Evangelho Segundo o Espiritismo, é que o movimento espírita passou a ter de fato um caráter religioso, dado o seu conteúdo altamente moralizante e a consolidação da sua doutrina como essencialmente cristã. Como se sabe, a realização e o aperfeiçoamento moral do homem é, ou deveria ser, o foco central de qualquer religião que se preze.
     Enfim, dentro do movimento espírita, aquele que quiser praticar o Espiritismo como religião não está impedido de fazê-lo, assim como o que não desejar fazê-lo não será desprezado por isto.
     Na verdade, não se pode dissociar uma religião de uma filosofia, mesmo que nessa religião haja uma predominância ritualística, em detrimento de uma filosofia pueril e superficial.
     No caso específico do Espiritismo, o aspecto filosófico é de vital importância. Quanto à moral religiosa, é, desse aspecto, um mero e inevitável resultado. Ser ou não ser considerada uma religião, portanto, para a própria Doutrina Espírita, é o que há de somenos importância. Muito mais valiosos do que essa simples classificação, que querem impor, uns, ao contrário de outros, que não aceitam dizê-la do Espiritismo, são os seus preceitos lógicos e racionais, estes sim, devendo interessar a todos, uniformemente. ///

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