sábado, 9 de fevereiro de 2013

15. COMERCIALIZAÇÃO DA FÉ

     P. Como os espíritas encaram a multiplicação e o crescimento acelerado das igrejas modernas, cujos milhões de adeptos parecem estar muito felizes e certos de haverem encontrado por meio delas o "Deus Verdadeiro", que faz grandes milagres, conforme testemunham publicamente em todos os meios de comunicação ao seu alcance? Não acham os espíritas que o Espiritismo está, cada vez mais, perdendo espaço para essas igrejas, já que até alguns ex-espíritas têm migrado para elas, segundo eles mesmos o têm declarado em seus depoimentos?

      R. Os fortes e contínuos apelos, via mídia, a um consumismo desenfreado, aliados à competitividade que se acirra a cada dia, como forma absolutamente necessária de se alcançar o sucesso por toda gente desejado, levam muitos a buscarem na fé a força que lhes falta dada a insuficiente capacitação própria.
Por outro lado, há, no seio das sociedades modernas, uma gama de enfermidades físicas e psíquicas de difícil tratamento, às vezes até de difícil diagnóstico, seja porque uma consulta médica especializada e os exames necessários, bem como os medicamentos e cirurgias específicos, custem muito dinheiro, seja porque o atendimento dado pelo órgão de saúde pública, estendido à população de menor renda, é demorado e precário, o que leva muita gente a recorrer aos meios alternativos, entre os quais se destaca o exercício da fé curadora.
     De uma ou outra forma, ninguém mais há que duvide ou ignore das possibilidades de uma manipulação das energias cósmicas, das quais a nossa própria organização física é composta e precisa repor para o seu equilíbrio funcional, mesmo sem se ter grandes conhecimentos sobre o processo em si, como isso se dá, afinal.
     Mas, vai daí, que, segundo o Espiritismo, não há nenhum milagre à vista, a não ser, no primeiro caso, um positivo auto-sugestionamento, capaz de liberar forças interiores, com que realizamos em nós mesmos transformações capazes de nos colocar noutro patamar de ideias e ações. No segundo caso, consciente ou inconscientemente, nós mesmos, ou pessoas mais habilitadas que nós, fazemos uma movimentação dessas energias voláteis que nos circundam o tempo todo.
     Em grande escala, não tenhamos dúvidas, somos ajudados por Espíritos amigos, dedicados ao bem da humanidade e que bem conhecem a natureza dessas energias, para nós completamente invisíveis, não para eles, que estão noutra dimensão. Também são eles que muitas vezes nos inspiram boas ideias, que captamos com maior facilidade quando nos sintonizamos vibratoriamente com as suas emanações mentais elevadas, o que fazemos através da fé e dos bons sentimentos, mormente quando nos dedicamos à oração, ou à meditação.
     Sem dar maiores explicações, porquanto ainda não havia como materializá-los convenientemente, Jesus indicou-nos esse recurso natural, dizendo que com ele tudo poderíamos fazer. A palavra é pequenina, mas os resultados da FÉ podem ser grandiosos, embora não o compreendamos direito, mesmo agora, passados mais de dois mil anos de Suas demonstrações do seu poder e eficácia.
    A questão a ser discutida no momento é a comercialização descarada da fé, promovida por algumas organizações autonomeadas cristãs, que na verdade visam lucrar e crescer em poder e glória terrenos com os resultados dos "milagres" anunciados, ao exigirem dos pobres crentes mais e mais "sacrifícios" em suas finanças, nomeadamente para a funcionalidade daquilo que chamam "divulgar a Palavra de Deus".
    Os Espíritos orientadores da nova Revelação, embora não interfiram no nosso livre-arbítrio, deploram o uso da religião, ou seja, do dito sagrado, da dita Palavra de Deus, dos dons espirituais, da fé, afinal, para enriquecimento pessoal ou corporativo. Recomendam, exemplificando o próprio Mestre, "dar-se de graça o que de graça se haja recebido", no caso esse poder de manipulação de energias, via oração e imposição de mãos, com a tal certeza de que "tudo é possível ao que tem fé", tal como determina a ética do Cristianismo em suas verdadeiras fontes. Isto inclui não se prestar a nenhum tipo de camuflagem, atrás da qual se escondam inconfessáveis quão extravagantes intenções.
     Eis por que o Espiritismo não faz questão de quantidade, preferindo, e até exigindo de seus membros ativos o máximo em qualidade, o que abrange a sinceridade, a honestidade, a dedicação e o desprendimento.
     Só quem não entendeu isto, ou achou difícil demais seguir tais preceitos, é que se bandeou para outros segmentos, em busca da satisfação imediata aos seus anseios materialistas de sucesso e prosperidade, ou seja, das glórias terrenas, temporais, passageiras.
    O espírita consciente, independente das suas conquistas no campo profissional e dos bens terrenos adquiridos à custa unicamente do trabalho digno, busca em primeiro lugar o Reino de Deus e a Sua justiça, certo de que tudo mais lhe será acrescentado pela misericórdia e pela Providência divinas, segundo os seus próprios merecimentos e reais necessidades, perante o caráter evolutivo da sua existência na Terra.
     Nada de "sacrifício", a não ser o do orgulho e do egoísmo, pois cabe a cada um de nós a decisão de servir a "Este" ou a "Aquele" Senhor. E servir a Deus é, principalmente, servir ao próximo, como está escrito. Somos, pois, livres para pensar, decidir e agir. Todas as consequências correm por conta de nossas decisões e atitudes. Pensemos nisto. ///

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