quarta-feira, 23 de abril de 2014

97. "PÉROLAS" DOS DETRATORES DO ESPIRITISMO ( 7 )

                            Sub-título: SOBRE O DEUS DO ESPIRITISMO E O PANTEÍSMO

       O deus do espiritismo não é o mesmo da Bíblia. O espiritismo é panteísta, ou seja, prega que Deus é tudo em todos, que Ele e o mundo formam uma unidade, são a mesma coisa, constituindo-se um todo indivisível. Deus não é transcendente ao mundo, dele não se distingue nem se separa; é-lhe imanente, confunde-Se com o mundo, dissolve-Se nele, manifesta-Se nele e realiza-Se como uma só realidade, substancial.  (R. R. Soares - ESPIRITISMO, A MAGIA DO ENGANO - 2002 - página 95).

     Estou tentando descobrir de onde o missionário Soares tirou as informações para dizer tamanho absurdo em tom de veracidade. De "O Livro dos Espíritos", obra básica primeira do Espiritismo não foi, com certeza. Em "A Gênese Segundo o Espiritismo", obra igualmente assinada pelo codificador, em estilo mais pessoal e dissertativo, também não encontrei um trecho, por menor que fosse, que subsidiasse as afirmativas acima transcritas.
     Interessante notar-se que o mesmo missionário que já mencionou o fato de o Espiritismo não aceitar a trina unidade divina como uma manifestação anticristã, uma vez que para os espíritas, Deus é Deus e Jesus é Jesus, assim como o Espírito Santo também não se constitui uma terceira personalidade de Deus, como o entendem os cristãos em geral, agora vem dizer que o mesmo Espiritismo prega em sua doutrina que Deus e o mundo formam uma unidade. Isto seria uma das mais disparatadas contradições a que uma crença se entregaria. 
     Mas vamos ver como Kardec define Deus em seu livro que trata exatamente da gênese, tanto do Universo material, quanto do universo espiritual, em que não pode faltar a figura do Criador. Nesse livro, o autor dedica o capítulo segundo inteiramente ao tema em discussão: Deus. Divide-o em quatro partes, com os seguintes sub-títulos: Existência de Deus - Da natureza divina - A Providência - A visão de Deus.
      Na tradução de Salvador Gentile, de 1992, edição de 1994, publicada pelo Instituto de Difusão Espírita - IDE, este capítulo percorre um espaço de 12 páginas, entre as de números 47 e 59. Não há, pois como transcrever todos os conceitos ali deixados pelo mestre lionês em um texto que me exige o máximo possível de sintetização. Sendo assim, deixando as costumeiras considerações pessoais de lado, passo de pronto a garimpar e reproduzir aqui algumas expressões do próprio Kardec, que, advirto, irão dar ao leitor apenas uma incompleta ideia da doutrina esposada pelo Espiritismo, já que o capítulo inteiro reserva muita coisa que aqui não caberá abarcar pela exiguidade do espaço.

      Sendo Deus a causa primeira de todas as coisas, o ponto de partida de tudo, o eixo sobre o qual repousa o edifício da criação, é o ponto que importa considerar antes de tudo. É princípio elementar que se julgue uma causa por seus efeitos, mesmo quando não se vê essa causa.
      (...) Pois bem, lançando os olhos ao redor de si, sobre as obras da Natureza, observando a providência, a sabedoria, a harmonia que a tudo presidem, reconhece-se que não há nenhuma delas que não sobrepasse o mais alto alcance da inteligência humana. Desde que o homem não pode produzi-las, é porque são produtos de uma Inteligência superior, a menos que se diga que há efeitos sem causa.
     (...) Deus não se mostra, mas se afirma pelas Suas obras. A existência de Deus é, pois, um fato adquirido, inconteste, não somente pela revelação, mas pela evidência material dos fatos. Os povos primitivos, selvagens, não tiveram revelação e, não obstante, creem, instintivamente, na existência de um poder sobre-humano.
      (...) Sem o conhecimento dos atributos de Deus seria impossível compreender a obra da criação; é o ponto de partida de todas as crenças religiosas; e foi pela falta de se referirem a eles, como farol que poderia dirigi-las, que a maioria das religiões errou em seus dogmas. As que não atribuíram a Deus a Onipotência, imaginaram vários deuses; já as que não lhe atribuíram a soberana bondade, dele fizeram um deus ciumento, colérico, parcial e vingativo.
      a) Deus é a suprema e soberana inteligência: - A inteligência do homem é limitada, uma vez que não pode fazer e nem compreender tudo o que existe; a de Deus é infinita (...).
      b) Deus é eterno: - Não teve começo e nem terá fim. Se houvesse tido um começo, teria saído do nada; ora, o nada não sendo nada, nada pode produzir; e se houvesse sido criado por um ser anterior, então esse ser é que seria Deus (...).
      c) Deus é imutável: - Se estivesse sujeito a mudanças, as leis que regem o Universo não teriam nenhuma estabilidade (...).
      d) Deus é imaterial: - Não tem forma apreciável pelos nossos sentidos. (...) O homem, não conhecendo senão a si mesmo, toma-se por termo de comparação de tudo o que não compreende.  (...) Essas imagens onde se representa Deus sob a figura de um ancião de longas barbas, coberto com um manto, são ridículas; têm o inconveniente de rebaixarem o Ser Supremo às mesquinhas proporções humanas; daí a emprestar-lhe as paixões próprias do homem e dele fazer um Deus colérico e ciumento é apenas um passo, e que muitas vezes já tem sido dado.
      e) Deus é todo-poderoso: - Se não tivesse o supremo poder, poder-se-ia conceber outro ser mais poderoso, e, assim, sucessivamente, até que se encontrasse o ser a que nenhum outro poderia superar em poder, e este é que seria Deus (...).
      f) Deus é soberanamente justo e bom: - A sabedoria providencial das leis divinas se revela nas pequenas como nas grandes coisas, e essa sabedoria não permite duvidar nem da sua justiça, nem da sua bondade (...).
      g) Deus é infinitamente perfeito: - É impossível conceber Deus sem o infinito das perfeições, ou já não seria Deus. (...) Para que nenhum ser possa superá-lo, é preciso que seja infinito em tudo. Se se tirasse a menor parcela de um único de seus atributos, não se teria mais Deus, uma vez que poderia existir outro ser mais perfeito que Ele.
      h) Deus é único: - A unicidade de Deus é a consequência mesma do infinito de suas perfeições.
      (...) Em resumo, Deus não pode ser Deus senão mediante a condição de não ser superado, em nada, por nenhum outro ser. (...) Deus é, pois, a suprema e soberana Inteligência; o Único, eterno, imutável, imaterial, Todo-Poderoso, justo, bom, infinito em toda a Perfeição, e não há como ser de outro modo. (Allan Kardec - A GÊNESE SEGUNDO O ESPIRITISMO - 1994 - páginas 47/52).
     
      Espero, com estas pinceladas, haver desfeito o tremendo engano cometido pelo mal informado escritor, que passa aos seus leitores e seguidores uma imagem distorcida da crença espírita acerca do Ser Supremo Criador do Universo e da vida - Deus.
      Posso afirmar, conclusivamente, com base em todos os livros espíritas que já li, e de modo especial nessas considerações do codificador do Espiritismo, que não há a menor chance de um espírita ser panteísta. ///

      
     

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